Por: Pedro Amaral

Eleições 2014

A amizade entre o novo PSB e o PT teve início quando os dois eram crianças – um com nove anos de idade, outro com quatro. Não lhes foi difícil escolher caminhar juntos: a proximidade ideológica e mesmo biográfica entre seus quadros, somada ao fato de terem diante de si um inimigo comum (a direita brasileira, com a prontidão de seu aparato midiático, em tempos de delírio liberal), tornava a opção quase irrecusável. O sonho de ambos era ambicioso como são os melhores sonhos juvenis: queriam transformar o Brasil, engrandecê-lo, emancipar seu povo.

Na disputa pela Presidência do país, colecionaram juntos, e em companhia de outros partidos de esquerda, uma sucessão de derrotas, até a eleição, no segundo turno de 2002, de Luiz Inácio Lula da Silva– esta, quase um feito revolucionário, para os padrões nativos. Neste país onde até um programa de transferência de renda como o Bolsa Família é visto como ameaça bolchevique, os governos Lula – contando com a colaboração dos socialistas – lograram deixar a marca da inclusão social, da maior formalização do mercado de trabalho, do aumento na renda média dos assalariados.

No plano externo, passada a década de alinhamento do Brasil à pax americana nascida dos escombros da Guerra Fria, o período Lula-Amorim representou à volta a uma política que Antônio Houaiss, refundador do PSB, definiria como brasilicomandada: uma política digna de potência média com projeto próprio.

Embora pudesse ter lançado candidato próprio em 2010, o PSB optou pelo apoio a Dilma Rousseff e, convidado por esta, integrou seu governo.

Neste momento em que se definem pré-candidaturas para o pleito de 2014, e sobretudo após o ingresso, no PSB, de Marina Silva e sua Rede (o que vem provocando inquietações e dores-de-cotovelo perfeitamente compreensíveis), faz-se ouvir, com certa insistência, um discurso meio autoritário, meio messiânico, segundo o qual a disputa do ano que vem se dará, forçosamente, entre dois projetos, os dois que dominaram o Brasil nos últimos 20 anos, um representado pela candidatura do PT, outro, pela do PSDB. Algo na linha “quem não está comigo, está contra mim”.

Essa dicotomia proposta apresenta, de saída, problemas. O primeiro é que sequer sabemos, ao certo, o que defenderá o candidato tucano. Se o pleiteante for José Serra, sempre ele de novo, será que desta vez defenderá o legado dos governos FHC, de que participou como ministro, ou mais uma vez ocultará essa história e, calçando as sandálias da humildade, tentará apresentar-se como o Zé que dará continuidade aos feitos do governo que antagoniza desde a primeira hora? Se for Aécio Neves o candidato, será hora de saber o que este tem a propor, para além de slogans. Aguardemos.

O segundo problema da proposta é a premissa – evidentemente falsa – de que o projeto encabeçado pelo PT, com suas realizações e conquistas, pertence exclusivamente ao PT, e quem deseje continuá-lo, aperfeiçoá-lo deve pedir bênção àquele partido, se não pagar-lhe direitos autorais.

O PSB reconhece, por óbvio, a dimensão e a importância do PT, essa conquista extraordinária da democracia brasileira, e deve manter alianças com essa agremiação (para além do diálogo permanente) sempre que as circunstâncias permitirem. Por outro lado, não tem porque render homenagem ao velho aliado atribuindo-lhe exclusividade na construção do projeto iniciado em 1989. Nem tem razão para identificar no PT que aí está – um partido bastante marcado pelas vicissitudes da governabilidade – um exemplo de pureza ideológica a ser seguido.

Se o PSB se orgulha de haver contribuído para que o Brasil, na última década, tenha sido governado por uma coalizão encabeçada pela centro-esquerda, coalizão que levou a cabo um processo de inclusão social sem precedentes, ele tem, também, pleno direito de dizer que é possível e preciso avançar, fazer mais.

Por exemplo:

1)   Impulsionar o desenvolvimento da infraestrutura produtiva do país, livrando-o das falhas de gestão que hoje o emperram, incorporando de modo mais efetivo as preocupações com a sustentabilidade ambiental, como também uma política indigenista digna do nome;

2)   Disseminar o acesso aos meios de comunicação, estimulando sua diversificação e impedindo o fortalecimento de monopólios e oligopólios, como condição fundamental para a construção de uma democracia realmente plural;

3)   Tratar as reservas estratégicas do país de modo socialmente responsável, garantindo o usufruto, pelo conjunto da sociedade (e também as gerações futuras), dos ganhos advindos de sua exploração;

4)   Capacitar o país para a defesa de seu território e de sua soberania;

5)   Estancar o sangramento de recursos da União com a rolagem da dívida pública, possibilitando, assim, a formação de poupança e a realização de investimentos estruturantes (na educação, na saúde, na mobilidade urbana etc.);

6)   Incorporar ao debate político homens e mulheres de todas as confissões religiosas, e de confissão nenhuma, sem capitular diante de ofensivas de cunho discriminatório;

7)   Realizar a justiça tributária de que o país tanto necessita, revertendo a regressividade hoje existente, que pune os pobres;

8)   Ampliar os mecanismos de participação popular, fortalecendo a democracia direta;

9)   Retomar o programa de reforma agrária, ampliando os assentamentos, incentivando a agricultura familiar e a redução do uso de agrotóxicos;

O PSB não entra na corrida presidencial em débito com quem seja. Visto como alternativa por parcela crescente da população brasileira, que o escolheu para gerir vários estados e centenas de municípios, o Partido tem crédito para propor e discutir com o conjunto da sociedade novos caminhos, resgatando o papel central da Política, maiúscula, na transformação do Brasil para melhor.

Mais do que isso, tem o dever e a responsabilidade de representar a vontade daqueles que o apoiam.