Por: José Roberto de Toledo
O Datafolha da semana passada foi bom para Dilma Rousseff. A maioria das análises enxergou crescimento da petista (na verdade, ela mantêm cerca de 38% das intenções de voto desde abril). O sucesso da copa melhorou o humor dos brasileiros. E o noticiário positivo resultante ajuda o governo. Mas no meio das tabelas do Datafolha há um número que deverá preocupar o PT. E há outro que deveria preocupar todos os partidos.
Apenas 15% dos eleitores declaram-se petistas ou simpatizantes. È a menor taxa de apoio ao partido dos últimos 15 anos. Não se trata de um ponto fora da curva. È uma tendência: as pesquisas de junho e abril do Datafolha já detectavam 17% de preferência pelo PT, a menor desde 2006. Agora, com a pesquisa de julho, a taxa regrediu a 1999.
Os petistas poderiam argumentar que os 15% do seu partido ainda são três vezes mais do que preferência pelo rival PSDB. Mas isso só os impediria de enxergar o problema. Pouco mais de um ano atrás, o petismo era nove vezes maior do que o tucanismo: 36% a 4%, segundo pesquisa Ibope de abril de 2013. A distância só fez encolher desde então. Não porque o PSDB tenha crescido no coração do eleitorado. O PT foi que diminuiu.
Desde o processo de 2002 que o levou ao poder federal, o PT sempre oscilou entre um quarto e um terço de simpatia do eleitorado. Mesmo nos momentos de crise, como nos escândalos do mensalão e no dos aloprados, em 2005/2006, nunca o PT caiu abaixo de 20% da preferência partidária. A derrocada atual começou com os protestos de junho de 2013. O petismo minguou a um quinto do eleitorado. Caiu agora a um sexto.
O petista remanescente envelheceu como o resto do eleitorado. Tem, em média, principalmente o sul
Regressão. Essa regressão da penetração petista a patamares anteriores aos da era Lula é um problema menos grave para Dilma do que para os outros candidatos do PT. A campanha eleitoral da presidente terá recursos financeiros e logísticos que nenhum outro petista sonha ter. Por isso, Dilma depende menos da militância do partido – além de ter Lula como cabo eleitoral.
Já os candidatos do PT a governador, senador e, especialmente, a deputado terão um desafio muito maior do que nas eleições anteriores. O voto na legenda – quando o eleitor digitava, no caso, 13 nas eleições proporcionais – sempre ajudou a eleger muitos candidatos petistas. Até os partidos coligados, como PC do B, pegavam carona no seu voto de legenda. Ele continuará forte ou encolherá junto com a simpatia pelo partido?
Pode-se arriscar que onde o PT não tiver nome forte para o governo estadual, a perda do voto de legenda será maior. Por dois motivos: 1) candidatos majoritários favoritos arrecadam mais e distribuem dinheiro às campanhas dos correligionários; 2) o erro na sequencia de votação – não é desprezível a quantidade de eleitores que vota para deputado estadual e federal achando que votou para presidente e governador.
O PT arrisca-se em outubro a interromper um crescimento contínuo de 30 anos. O risco só não é maior porque nenhuma outra legenda conseguiu catalisar os descontentes. Na série do Datafolha, não há, desde 1989, taxa tão alta de eleitores que não tem preferência por nenhum partido: 68%. A falta de interesse partidário chega a 74% entre mulheres e 77% no Sul – um feito dos políticos de todos os partidos, sem exceção.
Parabéns aos envolvidos.
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,o-pt-os-partidos-e-a-ladeira-imp-,1524718