“Mãos Dadas – Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
(….)

Com a primeira estrofe de um dos mais belos poemas de Carlos Drummond de Andrade, dirijo-me a todos vocês que estiveram de mãos dadas comigo durante a intensa jornada do processo eleitoral para Presidência da Fiocruz e também a todos os trabalhadores que constroem no dia a dia a vida e a beleza de nossa instituição, independentemente de sua opção durante a campanha. 

Levocom seriedade e firmeza o lema da Fiocruz como construção de todos. 

Ontem, dia 4 de janeiro de 2017, após intensa mobilização desde o anúncio em 28 de dezembro de 2016 de que não seria respeitado o processo democrático da Fiocruz, finalmente foi publicada no Diário Oficial minha nomeação como presidente da Fiocruz para conduzi-la durante os próximos quatro anos. 

Esta segunda vitória da democracia da Fiocruz só foi possível graças à intensa mobilização da comunidade Fiocruz e da sociedade como um todo. 

A comunidade Fiocruz se mobilizou através dos seus trabalhadores, atuais dirigentes e Conselho Superior. Foram fundamentais as reuniões espontâneas e as redes de interações, bem como a mobilização dos dirigentes nas unidades mediante seus conselhos deliberativos. 

A sociedade, reconhecendo o valor desta instituição para a saúde, a ciência e a tecnologia, apoiou a defesa da nomeação da primeira colocada, por entender que este mecanismo é fundamental para o respeito à vontade da maioria, a unidade institucional e a preservação da autonomia das instituições de ciência e tecnologia e das universidades, onde vigora o processo de escolha através de eleições.

O abaixo-assinado criado para defender que o presidente da República respeitasse nossa democracia ganhou a adesão de quase 10 mil pessoas em apenas quatro dias. 

Dezenas de sociedades científicas, dentro e fora do país, defenderam a indicação da candidata mais votada. 

Houve intensa mobilização de conselhos e gestores da área da saúde, associações comunitárias e movimentos sociais, principalmente de Manguinhos, e representantes de um amplo leque político envolvendo um movimento suprapartidário e representantes de todos os setores da sociedade.

A todos e todas que se engajaram nesse movimento, nosso muito obrigado. Ganhou a democracia na Fiocruz, ganhou a democracia na sociedade brasileira.

Na terça-feira, participei de reunião na Casa Civil da Presidência da
República, com a participação dos ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Ricardo Barros, da Saúde, acompanhado por seus secretários; Moreira Franco, da Secretaria-Executiva do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência; e o deputado Hugo Leal, coordenador da bancada do Rio de Janeiro. 

O debate se deu em torno do papel da Fiocruz, seus resultados para sociedade, orçamento e sistema de governança. 

Reafirmei as ideias centrais apresentadas durante a campanha eleitoral e o entendimento da condição da Fiocruz como instituição estratégica do Estado e sua vinculação ao Ministério da Saúde, como elemento que a diferencia das universidades, sem que se perca de vista a autonomia necessária a uma instituição de ciência e tecnologia e de formulação de propostas de políticas públicas. 

Durante a discussão foi apresentada pelos ministros a proposta de estabelecimento de uma conciliação na Fiocruz entre os apoiadores das duas candidaturas. 

Em termos mais concretos a proposta se traduziu na possibilidade de Tania Araújo-Jorge indicar nomes que pudessem resultar na definição de dois vice-presidentes. 

Soubemos conduzir este processo junto ao Governo com sabedoria, buscando sempre garantir o princípio fundamental: garantir a unidade institucional. 

A participação numa equipe de Presidência de pessoas que defenderam projetos distintos e participaram de diferentes campanhas é uma prática que ocorre com alguma frequência. 

O mais importante agora é que estejamos juntos e, a partir do respeito às diferentes concepções e à diversidade de pensamento, realizemos uma gestão participativa e de qualidade, e que honre a confiança depositada em nós por todos os trabalhadores da Fiocruz e pela sociedade brasileira. 

Temos muito a comemorar, mas, principalmente, temos muito a construir.
Obrigado a todos e todas. Parabéns Fiocruz!

Nísia Trindade Lima
Presidente da Fiocruz”