RIO DE JANEIRO – Ninguém teve dor de barriga por velejar na baía, remar na Lagoa ou nadar do Leme ao Posto 6. Ninguém foi picado por um pernilongo. Ninguém perdeu um avião. Ninguém ficou engarrafado mais do que o normal. Ninguém morreu de um croquete ou pastel. Os que subiram os morros, em busca de uma feijoada na laje ou de algo mais letal, voltaram de lá ilesos.
As instalações foram entregues a tempo. Nenhum equipamento deu xabu, nenhuma prova atrasou, nenhum atleta espetou o pé em um prego. Os tapumes que nos cercaram durante anos caíram e surgiu uma cidade nova até para os nativos — cidade esta que, filmada de todo jeito, deu um show para bilhões. E as TVs, ocupadas com o que se passava nas arenas, só mostraram uma fração da festa nas ruas.
Entre os números impossíveis de contabilizar, há o de beijos entre locais e visitantes que se conheceram na praia ou no botequim — não admira que 87, 7% dos visitantes estrangeiros e 94, 2% dos brasileiros tenham dito que pretendem voltar. De selfies que tiveram como cenário algumas das vistas mais espetaculares do mundo. E do dinheiro de negócios fechados nas festas que incendiaram as coberturas da avenida Vieira Souto todas as noites.
Os piores vexames vieram dos americanos. A começar pela goleira Hope Solo, que, ainda nos EUA, posou fantasiada para se proteger do vírus da zika que fatalmente contrairia aqui. Mas só contraiu um frango numa partida de seu time e voltou para casa mais cedo. Depois, um repórter travestido de gourmet tachou o biscoito Globo de sem graça — talvez por não tê-lo asfixiado com ketchup, como se faz com tudo que se come nos EUA. E terminou com o papelão de Ryan Lochte, o nadador mijão.
Vendo todo o seu pessimismo contrariado, só resta aos profetas da derrota lamber sabão.
Fonte: Folha de São Paulo