
Lutou todas as boas lutas, lutas estudantis, lutas populares, lutas políticas e travou sempre o embate ideológico. Advogado, haveria de ser advogado trabalhista, mas advogado e grande advogado apenas de trabalhadores. Conheceu a repressão como viveu: com destemor. Preso no centro da cidade, desdenhou das ameaças e, de pé no jipe em que era conduzido pelos militares, gritava ao povo denunciando a arbitrariedade.No quartel do 23º Batalhão de Caçadores, para onde todos os perseguidos foram levados nos primeiros dias da repressão, jamais se deixou abater. Destemido, mas sempre alegre, espargindo bom humor e ânimo. Desterrado em Fernando de Noronha, foi e voltou de cabeça erguida. Jamais baixou a crista, jamais aceitou o papel de derrotado e sempre contemplou a História como uma promessa de futuras alegrias. Resistiu a todos os baques, à demolição de muros e mitos, de impérios e sonhos, sempre disposto a reconstruir as obras perdidas, a percorrer novas sendas a superar as dúvidas, a caminhar, um caminhar sem repouso sempre em procura do horizonte, repetindo sempre a sina/senha de Antonio Machado:
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.
Caminhante que perseguia a luz, não o assustava a tragédia biológica, que afinal ganhou a guerra. Deprimia-o, sim, no Brasil de hoje, e morreu triste, a batalha perdida contra a tragédia social.
Somos, para sempre, velhos amigos.
Roberto Amaral