por: André Singer

A presente ofensiva do Partido da Justiça em cima dos próceres peemedebistas, acrescida da denúncia contra a mulher de Eduardo Cunha, coloca pergunta do maior interesse. Trata-se de saber se os interesses econômicos serão capazes de orientar as instituições mesmo que os partidos sucumbam, um a um, ao desmonte produzido pela Operação Lava Jato. Seria uma espécie de curto-circuito capital-poder.

Como já se tornou praxe nos últimos seis meses, a transformação de Cláudia Cruz em ré ocorre no momento mais adequado para produzir efeitos políticos. Depois de inúmeros adiamentos, foi marcada para a próxima semana a votação do parecer que pede a cassação do parlamentar carioca. Dividida rigorosamente ao meio, a Comissão de Ética deve decidir sob o impacto da afirmação midiática do mosqueteiro Dallagnol: “Dinheiro público foi convertido em sapatos de luxo e roupas de grife”.

O problema é que as hostes cunhistas têm se mostrado infensas ao burburinho da opinião pública e publicada. Depois de tantos indícios revelados, o deputado continua com expressivo apoio parlamentar. O presidente interino da Câmara e o líder da maioria, para ficar em exemplos maiores, fazem parte da escolta, apesar de todos os pesares.

O completo divórcio entre a sociedade e o Legislativo engolfa também o interino Michel Temer — fruto, aliás, do mesmo esquema que vigora no Parlamento —, como mostrou a pesquisa CNT (Confederação Nacional do Transporte) divulgada nesta semana. Além de baixíssima aprovação ao governo, mais de 75% dos entrevistados acham que a corrupção vai continuar ou piorar.

A única esperança para o mandato temerário vem do plano Meirelles, até aqui construído habilmente de modo a satisfazer o mercado sem enfiar de imediato a faca na carne do investimento social. Ao propor medida que contém o gasto público em prazo mais longo, dilui no tempo as resistências populares. Enquanto isso, torce para as condições gerais melhorarem e, assim, segurarem Temer até 2018.

Se além do conhecido efeito favorável às exportações obtido com a desvalorização do real houver aumento do consumo interno pela reversão de expectativas, incremento das importações agrícolas pela China etc etc, é possível que o país volte a crescer no final do ano (ver, a respeito, a coluna de José Roberto Mendonça de Barros em “O Estado de S. Paulo”, 29/5). Porém para aprovar no Congresso a sua proposta mínima, Meirelles terá que se haver com os cunhistas, renansistas e outros istas menos votados espremidos pela República de Curitiba. Será que o titular da Fazenda conseguirá curtocircuitar a todos e impor a racionalidade mercadista direto no painel de votação? A conferir.