por: Isabel Lustosa

Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho, Dia Internacional do Trabalhador ou Dia de Maio, seja o nome que se dê, o dia 1º de maio é quando se celebram o trabalho e os trabalhadores de todo o mundo. A data foi escolhida porque em 1º de maio de 1886, em Chicago, houve uma manifestação em que milhares de trabalhadores foram às ruas reivindicar a redução da jornada de trabalho de 13 para oito horas diárias.

A greve geral foi seguida por uma série de agitações e conflitos que se prolongaram por vários dias. Em 4 de maio, na praça Haymarket, os conflitos causaram morte de sete policiais e de 12 manifestantes. Dos que lideraram ou tiveram papel mais ativo na revolta, cinco foram condenados à morte por enforcamento e três à prisão perpétua.

Apesar disto, foi uma luta vitoriosa pois, em 1890, o Congresso aprovou a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias.

A revolta de Haymarket, como ficou conhecida, serviu de estimulo à luta dos trabalhadores de todo o mundo pela jornada de oito horas.

Em sua homenagem, no dia 20 de junho de 1889, em Paris, a segunda Internacional Socialista decidiu adotar o 1º de maio como data oficial de luta por esse direito.

Dois anos depois, uma das manifestações comemorativas de 1º de maio, no norte de França foi violentamente dispersada pela polícia, causando a morte de 10 manifestantes – episódio que deu nova carga dramática ao dia e o fez ser confirmado como dia internacional da luta por melhores condições de trabalho naquele mesmo ano pela Internacional Socialista de Bruxelas.

A data seria reconhecida com feriado pelo senado francês em 1919, ano em que foi ratificada a lei que limitava em oito horas diária a carga de trabalho. No ano seguinte a União Soviética adota o dia como feriado nacional, exemplo que foi seguido por outros países.

O 1º de maio no Brasil

No Brasil, a data passou a ser celebrada alguns anos depois da Proclamação da República, mas só ganharia impulso com o aceleramento da industrialização nas primeiras décadas do século XX. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a industrialização e a entrada de imigrantes europeus, especialmente os italianos, que vinham de seus países já inquinados de ideias anarquistas ou comunistas, impulsionaram a organização dos trabalhadores.

Já em 1906, foi realizado no Rio o I Congresso Operário, que marcaria o início de um ciclo de comícios, boicotes, greves e enfrentamentos à polícia, tendo como principais reivindicações a jornada de oito horas de trabalho; a abolição do trabalho infantil e a proteção ao trabalho da mulher.

Assim, o 1º de maio foi se consagrando também entre nós como o dia de protestar por mais direitos e por melhores salários e condições de trabalho. A historiadora Angela Castro Gomes registrou o depoimento de uma militante anarquista, Elvira Boni, contando o que foi a manifestação do 1º de Maio de 1919, no Rio de Janeiro.

“No Primeiro de Maio de 1919 foi organizado um grande comício na praça Mauá. Da praça Mauá o povo veio andando até o Monroe pela Avenida Rio Branco, cantando o ‘Hino dos Trabalhadores’, ‘A Internacional’, ‘Os filhos do Povo’. Não tinha espaço para mais nada. Naquela época não havia microfone, então havia quatro oradores falando ao mesmo tempo em pontos diferentes”.

Em 1917, em São Paulo, ocorreu a primeira grande greve da história do Brasil que, junto com as manifestações ocorridas no Rio, provocaram violenta repressão ao movimento operário e a expulsão do Brasil de boa parte dos imigrantes europeus nelas envolvidos.

Quando, em 1925, o presidente Artur Bernardes decretou o 1º de maio como feriado nacional, as manifestações e os conflitos estavam bastante reduzidos. A data só voltaria a ganhar importância a partir de 1939, quando o Dia do Trabalho passou a ser comemorado no estádio de Vasco da Gama.

Durante o governo Vargas, seria no 1º de maio que se anunciariam medidas favoráveis aos trabalhadores, como a criação do salário mínimo, em 1940. Em 1º de maio de 1941, foi criada a Justiça do Trabalho, destinada a resolver questões relacionadas, especificamente às relações de trabalho e aos direitos dos trabalhadores e, em 1943, foi decretada a Consolidação das Leis do Trabalho (a CLT).

A luta continua

A luta dos trabalhadores é bem anterior aos conflitos ocorridos em 1886, em Chicago. Ela remete às primeiras décadas do século XIX, na Inglaterra, onde a Revolução Industrial provocara o surgimento de uma classe trabalhadora concentrada nos entorno das grandes cidades, vivendo em condições precárias e trabalhando em regime de absoluta exploração.

Ali começariam os primeiros protestos e se testariam as formas de pressão que garantiriam a conquistas de alguns dos direitos pelos quais se lutava. Nessas lutas se formaram lideranças e se constituiu uma corrente de pensamento que teve em Karl Marx e Frederich Engels seus maiores expoentes.
O apelo que conclama no texto de abertura do manifesto comunista lançado em 1848, o ano das primeiras grandes revoluções populares no mundo, a chamada “Primavera dos Povos”, continua atual: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos, nada tendes a perder senão os vossos grilhões!”.

A história demonstra que os direitos dos trabalhadores estão e estarão sempre sob a ameaça dos interesses do grande capital. O debate em torno da “flexibilização” dos direitos trabalhistas que esteve em pauta nas décadas de 1980 e 1990, volta hoje a figurar como uma ameaça real aos direitos dos trabalhadores do mundo inteiro.

O fato disto estar acontecendo no Brasil ao mesmo tempo em que acontece na França, onde esses direitos pareciam tão consolidados, é a prova viva de que a luta dos trabalhadores é uma só e deve se constituir de forma internacional.

Valendo-se hoje das facilidades de comunicação, a classe trabalhadora mundial têm todas as condições de inventar novas formas de organização e de pressão contra os que querem usurpar seus direitos.