por: Bernardo Mello Franco (Folha de São Paulo)
A barulhenta saída de Eliseu Padilha, no dia seguinte à abertura do processo de impeachment, é um marco na separação litigiosa entre Michel Temer e Dilma Rousseff. O peemedebista era o principal afilhado do vice no governo. Ao entregar o cargo, ele avisou à praça que o padrinho também abandonou a presidente à própria sorte.
Dilma e Temer fizeram um casamento eleitoral de conveniência, arranjado por Lula. Passaram cinco anos sob o mesmo teto, falando pouco e dormindo em camas separadas. Agora ele anunciou o divórcio e deixou claro que deseja ficar com a casa, ou melhor, o palácio.
Ao deixar a Secretaria de Aviação Civil, Padilha troca a gestão dos aeroportos, que nunca o atraiu, pela articulação de bastidores, que jamais abandonou. Sua primeira tarefa será convencer outros ministros do PMDB a sair do governo. Os primeiros alvos são Henrique Eduardo Alves, do Turismo, e Helder Barbalho, da Secretaria de Portos.
Por ora, os dois dizem que ficam onde estão. Não se trata de amor. Mudarão de lado se a hipótese de um governo Temer ficar mais provável do que a permanência de Dilma.
O PMDB será o infiel da balança do impeachment, como definiu o colunistaVinicius Torres Freire. O partido tem a maior bancada da Câmara, com 66 cadeiras. No momento, a ala oposicionista controla um terço do grupo, sob a liderança do deputado Eduardo Cunha.
Ex-articulador do governo, Padilha sai do ministério com uma arma poderosa para barganhar adesões a Temer: uma planilha detalhada com cargos e verbas que cada deputado tem ou deseja ter. É com essa lista que ele fará promessas em troca de votos pelo impeachment.
Dilma, a noiva abandonada, terá que abrir os cofres e aumentar o dote para manter a tropa ao seu lado. Os deputados do PMDB sentarão para negociar com uma garantia confortável. Como costuma acontecer, vão lucrar em qualquer cenário.