Para o Instituto Francês do Petróleo, a integração e o porte são fundamentais para o sucesso de uma petrolífera
por: Ricardo Maranhão
A Petrobras pretende vender US$ 58 bilhões em ativos. A justificativa é a necessidade de reduzir o endividamento. A política equivocada de combate à inflação causou prejuízo de R$ 60 bilhões, com preços de combustíveis defasados. Sacrifício inútil. A inflação voltou.
Agravando as dificuldades, os preços do petróleo caíram de US$ 120 para US$ 52/barril. Além de reduzir investimentos em US$ 90 bilhões, a empresa pretende vender ativos. Os ativos são patrimônio público e pertencem a centenas de milhares de acionistas.
A Petrobras é empresa estatal. Deve obediência aos preceitos constitucionais da publicidade e legalidade. O momento é inoportuno para venda. Crise mundial. Inflação. Preços do petróleo deprimidos. É incerto o que se pretende vender. São notícias, na imprensa, imprecisas. Especula-se: vendas no pré-sal? Navios da Transpetro? Participações no gás natural?
Não duvido das boas intenções dos dirigentes. Receio decisões equivocadas, fruto do pouco conhecimento do setor petróleo. A Petrobras não é banco. Tão pouco mineradora. A venda, sem cautelas, pode desintegrá-la.
Para o Instituto Francês do Petróleo, a integração e o porte são fundamentais para o sucesso de uma petrolífera.
Imagino empresa com US$ 300 milhões de capital. Iria à falência ao perfurar seis poços, secos, ao custo de US$ 50 milhões cada. A integração se justifica pelos investimentos e riscos, nos diferentes segmentos (exploração, perfuração, produção, transporte, refino, comercialização).
O futuro da Petrobras não pode depender de uma “visão de mercado”. Os interesses dos acionistas, embora importantes, não são objetivos únicos. A companhia tem compromissos inarredáveis com o desenvolvimento do país, apoio à indústria, independência tecnológica, segurança energética, emprego, meio ambiente.
A venda de navios da Transpetro é admitida por quem não conhece a atividade. O país tem déficit enorme na rubrica fretes. Vamos seguir o exemplo americano. Lá, os navios, são, por lei, projetados, construídos e operados por americanos. Subordinam-se ao Jones Act (1920). Os Estados Unidos consideram a frota mercante extensão da Marinha de Guerra.
Os ativos da Petrobras, bilhões de dólares, podem ser vendidos sem exame do Congresso?
A venda é a única solução para o endividamento? Por que não indenizar a Petrobras pelos prejuízos causados?
Por que cortar o braço petroquímico? Por que não examinar, com coragem, o fornecimento de nafta à Odebrecht, cancelando-o, se comprovadas fraudes, com prejuízos de US$ 6 bilhões?
Vamos nos desfazer de participações no etanol quando o consumo de gasolina cai e a demanda de álcool cresce com vigor? Vamos abdicar do gás e das térmicas, essenciais ao suprimento do país nas crises hídricas? Por que não cobrar do setor elétrico dívidas com a BR Distribuidora, superiores a R$ 14 bilhões? Por que não adotar política de preços que não cause prejuízos à Petrobras? Desejando o governo subsidiar combustíveis, use seus recursos. Não sacrifique sua maior empresa, com graves consequências para o país.
Ricardo Maranhão é conselheiro do Clube de Engenharia
Fonte: O Globo