por: Marino Boeira
A formação de uma frente política de esquerda no Brasil, capaz de lutar contra a guinada à direita promovida pelo Governo Dilma no seu afã de apaziguar o movimento golpista patrocinado pelo PSDB e por uma mídia que promove diariamente o ódio ao PT, voltou a ser tema de debate no lançamento do último livro de Roberto Amaral em Porto Alegre.
O ex-governador Tarso Genro, possivelmente a mais importante liderança política desse movimento, leu declaração dizendo que “a forma pela qual se estabeleceram as coalizões políticas no País nos últimos anos está esgotada, o que exige pensar uma nova forma de organização, mais programática e que tenha uma estrutura frentista clara”.
Raul Carrion, da direção regional do PCdoB disse que “o momento é para avançar na direção da construção de uma frente popular e democrática ampla no Brasil, em torno de objetivos programáticos e não meramente eleitorais”.
A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Céli Pinto, fez a observação mais consequente sobre o tema ao dizer que “não podemos mais ficar dizendo que somos de esquerda porque estamos à esquerda da direita. Precisamos retomar algum conteúdo importante”.
A questão levantada pela professora Céli é crucial: é preciso, primeiro, compreender que a liderança do PT dentro do movimento de esquerda, está esgotada e segundo, é preciso definir alvos capazes de mobilizar segmentos importantes da população brasileira nesse novo momento de lutas.
Os partidos trabalhistas, nos moldes do que é o PT hoje e foi o PTB no passado, são limitados pela sua estreiteza ideológica dos seus dirigentes, incapazes que são de visualizar a possibilidade de uma sociedade fora dos moldes capitalistas.
Eles cumpriram importantes papeis históricos, resgatando conquistas fundamentais para os trabalhadores brasileiros, mas sucumbiram diante das dificuldades em perceber que era preciso assumir a existência de interesses de classe opostos no processo político.
Com Getúlio, no seu período ditatorial, as grandes conquistas trabalhistas tiveram sempre a contrapartida de apoio aos segmentos mais retrógrados da economia brasileira voltados para a exportação.
O Getúlio, do período democrático, foi levado ao suicídio, porque foi incapaz de mobilizar o povo brasileiro na luta anti-imperialista que marcou seus últimos anos de governo.
Jango, dez anos depois, foi vítima da mesma incapacidade política de perceber que suas propostas radicais de março de 64 eram inviáveis sem uma prévia mobilização da população brasileira.
Os governos do PT, que ficarão na história do Brasil como os que mais avançaram na luta pela melhoria de vida das populações mais pobres do Brasil, parece hoje incapaz de dar o salto adiante, que implicaria na definição de objetivos claros a ser conquistados, com a separação política de quem está a favor e quem está contra.
Atendendo o que propõe a Professora Céli, porque não elegermos alguns temas importantes para mobilizar os segmentos progressistas que ainda restam na nossa sociedade?
Por exemplo: a regulação dos meios de comunicação, hoje transformados nas grandes armas da direita golpista; a luta contra a sonegação de impostos, brevemente levantada pela Operação Zelotes e hoje praticamente esquecida e a auditoria da dívida pública, que, por exemplo, salvou o Equador da falência.
No seu magnífico livro sobre Lenin, As Portas da Revolução, Slavoj Zizek, falando sobre as esquerdas europeias, diz algo que cabe muito bem para muitos dos nossos políticos: “o sonho que a esquerda tem de uma terceira via é igual ao de que um pacto com o diabo possa dar certo: tudo bem, nada de revolução, aceitamos o capitalismo como regra do jogo, mas pelo menos poderemos manter algumas conquistas do Estado do bem-estar social e construir uma sociedade tolerante em relação às minorias sexuais, religiosas e étnicas”.
Em vez dessas concessões, o que o capitalismo financeiro internacional está nos oferecendo é a mesma receita que aplicou na Grécia: arrocho fiscal, desemprego e subserviência ao imperialismo.
Cabe a nós, decidir que queremos para o Brasil.
Poderíamos, para encerrar, lembrar mais uma vez a afirmação de Rosa Luxemburgo, reafirmada por Istvan Meszaros, de que não existe uma terceira via para a humanidade: é o socialismo ou barbárie.
Ele adverte: ”A crise estrutural do capital no plano militar e político lança uma nuvem escura sobre o futuro, caso os desafios históricos postos diante do movimento socialista não sejam enfrentados com sucesso, enquanto ainda há tempo”.
Marino Boeira é professor universitário.
Fonte: Sul21