Portal UOL – Redação | São Paulo – 09/07/2014

 Israel lança 160 ataques“Da nossa parte, essa não precisa ser uma batalha curta”, afirmou o ministro da Defesa israelense, Moshe Ya’alon. Operação já deixou quase 30 mortos

O exército de Israel lançou 160 ataques aéreos na Faixa de Gaza no início desta quarta-feira (09/07), cobrando a vida de mais nove palestinos. De acordo com fontes médicas, como o Ministério da Saúde de Gaza, agora são 28 os palestinos mortos desde o início da operação “Margem Protetora”, iniciada na segunda-feira à noite. O ministro da Defesa, Moshe Ya’alon, anunciou que a investida militar deve crescer nos próximos dias.
A maioria dos mortos é civil — incluindo crianças. Além disso, os bombardeios deixaram mais de 200 pessoas feridas. O deputado Ahmed Tibi, árabe-israelense, acusou as forças armadas de estarem cometendo crimes de guerra em Gaza e “propositalmente eliminando famílias inteiras”.
De acordo com o jornal israelense Haaretz, Ya’alon afirmou que os ataques a Gaza destruíram armas, infraestrutura, centros de comando, prédios e casas de “terroristas do Hamas”. Ele não se referiu às mortes de civis. “Estamos matando terroristas de diferentes estratos, e essa operação irá se intensificar”, disse. “Da nossa parte, essa não precisa ser uma batalha curta. Continuarems a atingir o Hamas e outros grupos terroristas com força.”
Israel já havia informado antes que havia matado em um ataque Abdullah Dyifala, comandante do Hamas identificado como responsável pelo lançamento de foguetes. Em resposta, milícias palestinas dispararam 45 foguetes em direção ao centro e ao sul de Israel, sem provocar vítimas. Sirenes de alerta soaram ontem à noite e esta manhã em Tel Aviv e Ashkelon.

 

A violência na região se intensificou desde a morte de três jovens israelenses na Cisjordânia no mês passado, seguida do assassinato de um adolescente palestino, incendiado com gasolina enquanto ainda estava vivo. O governo israelense culpa o Hamas pela morte dos jovens, fato que foi negado pelo grupo. O crime aconteceu poucas semanas após o Hamas e o Fatah definirem um acordo histórico de reconciliação — criticado por Israel.
Poucas horas depois do início da terceira operação contra o Hamas desde que o grupo assumiu o controle de Gaza, em 2007, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, confirmou a escalada, ao afirmar que prevê uma campanha bélica “conscienciosa, longa, contínua e dura”. O chefe do governo se reuniu em Tel Aviv com os principais responsáveis de Segurança para avaliar as diferentes opções e destacou a possibilidade de uma operação terrestre de grande escala.
Além disso, o governo já havia autorizado a mobilização de 40 mil reservistas para a fronteira com Gaza, território palestino cercado por Israel e alvo frequente de investidas militares. A pior delas, no final de 2008 e início de 2009, deixou mais de 1,4 mil palestinos mortos. Treze israelenses, sendo 10 soldados, perderam a vida.

 

Reações
Em comunicado oficial, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, pediu ao governo israelense que freie a ofensiva e cobrou envolvimento da comunidade internacional para evitar uma escalada bélica que poderia levar instabilidade a toda a região. Segundo a agência de notícias oficial palestina Wafa, Abbas também fez “consultas urgentes” com líderes árabes e de outros países para tentar que o executivo israelense volte atrás na operação.
A Casa Branca condenou o lançamento de foguetes palestino e manifestou apoio ao direito de Israel de “se defender”. Nenhum comentário foi feito sobre a mortes de civis palestinos.
Na mesma linha se pronunciou a ONU (Organização das Nações Unidas), cujo  secretário-geral, Ban Ki-moon, condenou o lançamento de foguetes contra Israel e pediu a máxima moderação às duas partes, depois de forças de segurança israelenses iniciarem uma ofensiva contra a faixa.
“O secretário-geral está extremamente preocupado com a perigosa escalada de violência, que já causou várias mortes e ferimentos a palestinos como resultado das operações israelenses contra Gaza”, disse o porta-voz de Ban, Stéphane Dujarric, na entrevista coletiva diária.
O diplomata, que considera “imperativo restaurar a calma”, pediu que todas as partes tenham “a máxima moderação e evitem mais baixas civis e desestabilização”. Ele ressaltou que também é necessário responder à “insustentável situação em Gaza nas dimensões política, de segurança, humanitária e de desenvolvimento” para conseguir uma solução.

 

 

Folha de S. Paulo – Israel cogita invasão a Gaza por terra

 

Governo israelense autoriza Exército a convocar mais de 40 mil reservistas e promete operação militar duradoura
No primeiro dia da Operação Margem Protetora, ao menos 23 palestinos morreram em ataques aéreos

 

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

 

O governo israelense autorizou, nesta terça-feira (8), a convocação de 40 mil reservistas do Exército para reforçar a ofensiva sobre a faixa de Gaza, chamada de Operação Margem Protetora.
Segundo a imprensa israelense, o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, pediu ao Exército que faça planos para uma possível incursão terrestre no território.
“Todas as opções estão na mesa, incluindo invasão por terra”, teria dito o premiê, numa reunião com assessores.
Desde a segunda (7), quando começou a operação, o Exército israelense realizou ao menos 146 ataques aéreos em Gaza, deixando 23 mortos –a maioria civis–, e mais de 50 feridos.
Em alguns casos, as forças israelenses telefonaram para os moradores antes dos ataques, dando cinco minutos para deixarem suas casas.
Do outro lado, militantes do Hamas atiraram mais de 90 foguetes em Israel, sem deixar nenhum ferido.
Pela primeira vez desde o início das hostilidades, soaram os alarmes que avisam a chegada de mísseis em Jerusalém, a 76 km de Gaza. Os ataques não chegavam tão longe desde 2012.
Ao menos um dos foguetes explodiu na região, e os outros teriam sido interceptados pelo “Domo de Ferro”.
A prefeitura da cidade iniciou a abertura de abrigos públicos antibomba e instruiu cidadãos a prepararem os abrigos privados.
O Hamas e a Jihad Islâmica assumiram a responsabilidade pelos ataques.
As Brigadas Ezzedin al-Qassam, braço armado do Hamas, disseram que Israel “cruzou a linha vermelha” e prometeram manter os ataques com foguetes. “Israel vai lidar com as consequências de sua agressão bárbara e criminosa”, afirmou a organização.
Pelo lado israelense, o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, disse que a operação será duradoura. “Estamos nos preparando para uma batalha contra o Hamas que não terminará nos próximos dias.”
Segundo veículos de mídia do país, quatro membros do Hamas tentaram chegar por água à cidade de Zikim, onde há uma base militar israelense, e foram mortos.

 

REPERCUSSÃO
A Liga Árabe pediu uma reunião de emergência ao Conselho de Segurança da ONU para discutir o assunto.
Antes disso, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, havia pedido à comunidade internacional uma intervenção imediata, “para travar a perigosa escalada, que poderá causar ainda mais destruição e instabilidade na região”.
O governo americano repudiou os ataques de foguetes em Israel e defendeu o “direito de defesa” israelense.
“Nós condenamos fortemente os contínuos ataques de foguetes a Israel e as tentativas deliberadas de acertar civis por organizações terroristas de Gaza”, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, em comunicado.
A terça-feira (8) foi o dia mais violento desde o início da crise decorrente da morte de três adolescentes israelenses e do assassinato de um jovem palestino em retaliação, na semana passada.

 

O Globo – Ataques sem limite

 

Israel convoca até 40 mil reservistas e duela com gaza em 400 bombardeios mútuos

 

Daniela Kresch

 

Israel. Um homem com uma criança no colo busca refúgio junto a outros moradores de Tel Aviv num abrigo durante um ataque com mísseis do Hamas à cidade israelense
 Faixa de Gaza. Uma mulher palestina passa pelos restos de uma casa bombardeada na cidade de Khan Yunis, enquanto uma multidão observa os trabalhos de resgate
Num dos hotéis mais luxuosos de Tel Aviv, centenas de convidados participavam, ontem, da Conferência sobre a Paz patrocinada pelo jornal “Haaretz”, evento regado a comida, bebida e bonitos discursos sobre a tolerância entre israelenses e palestinos. Convidados e palestrantes – entre eles a ministra da Justiça, Tzipi Livni, e o presidente de Israel, Shimon Peres – pareciam deslocados da realidade que tomava conta do país. Uma realidade de conflito militar com os palestinos da Faixa de Gaza – mais distante impossível da retórica pacifista da conferência. E que terminou o dia com 235 ataques israelenses ao território, mais de 150 foguetes palestinos disparados de lá, e a autorização para a convocação de 40 mil reservistas por Israel.
A realidade da guerra começou de madrugada, com o início da Operação Limite Protetor, a maior ação israelense em Gaza desde a Operação Pilar Defensivo, em 2012. Mas, num sinal de que a ação não se limitará aos ataques aéreos, o Gabinete de segurança autorizou a convocação de 40 mil reservistas, além dos 1.500 já alistados. Desse montante, só dez mil devem ser convocados numa primeira etapa.
Os palestinos anunciaram 28 mortos, entre eles sete de uma mesma família que teria vínculos com o Hamas – incluindo duas crianças. Outro ataque foi contra um carro no campo de refugiados de Jabaliya, no qual estava o líder do braço marítimo do Hamas, Muhammad Shaaban. Ele e outras três pessoas morreram. O porta-voz do grupo, Sami Abu Zuhri, acusou Israel de ter realizado “massacres” e decretou que agora “todos os israelenses são alvos legítimos”.
Em meio aos ataques, uma saraivada de 160 projéteis palestinos – entre mísseis iranianos Fajr, foguetes Qassam e Grad, e morteiros – caiu em Israel. Novos tipos de projéteis de longo alcance foram usados, como os mísseis M-75, R-160 e M302. Um deles foi interceptado acima de Tel Aviv, no primeiro ataque à cidade em um ano e meio. Outras cidades do centro do país, não acostumadas ao disparo de projéteis, também tiveram sirenes acionadas, entre elas Rishon LeTzion, Holon, Herzelyia e mesmo Jerusalém. As sirenes soaram até em cidades do Norte, como Hadera – no ataque de mais longo alcance do Hamas até hoje, a cerca de cem quilômetros de Gaza – colocando dois terços da população de Israel, cerca de 4,5 milhões de pessoas, em abrigos antiaéreos ou quartos reforçados.
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Mais de 30 projéteis foram interceptados pelo sistema antiaéreo Domo de Ferro. Até o fim da noite, seis pessoas tinham sido feridas e 32 atendidas por pânico. Além dos ataques aéreos, um grupo de cinco militantes do Hamas foi morto ao tentar entrar em Israel pela fronteira com Gaza. Um soldado ficou levemente ferido.
Em um comunicado gravado, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, acusou Israel pela escalada da violência. Sem citar os ataques do Hamas a Israel, Abbas disse que pedirá à comunidade internacional que condene o Estado judeu. Os palestinos enviaram carta à ONU pedindo uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.
O premier Benjamin Netanyahu afirmou, em nota à nação, que Israel está “no auge de uma campanha para devolver a calma” aos cidadãos e que, por isso, ordenou “uma expansão significativa das ações do Exército contra os terroristas do Hamas”.
– Todos os esforços feitos para a restauração da calma não foram respondidos, e o Hamas escolheu o conflito. Não queremos guerra, mas a segurança de nossas crianças vem antes de tudo – afirmou Netanyahu, que passou a tarde telefonando a líderes mundiais para explicar a ofensiva. – O Hamas se esconde entre civis palestinos e, então, é o responsável pelos que são mortos por erro. Peço paciência porque a operação pode levar tempo.
Como é de praxe nos primeiros dias de uma ação militar como essa, a cúpula política se uniu. Netanyahu recebe apoio até mesmo de críticos como o líder da oposição, Yitzhak Herzog, do Partido Trabalhista, e a líder do partido de extrema-esquerda Meretz, Zehava Galon.
– Netanyahu conta, no momento, com uma posição confortável porque ainda não houve vítimas fatais israelenses, apesar da quantidade de mísseis lançados pelo Hamas. Mas o crédito pode acabar rapidamente – alertou o comentarista Raviv Druker, do Canal 10.
O apoio pôde ser sentido na Conferência sobre a Paz do “Haaretz”. O ex-premier Ehud Barak e Herzog concordaram com a resposta forte de Netanyahu. Mas o ministro da Economia, Naftali Bennet, do partido ultranacionalista Casa Judaica, foi interrompido no discurso de apoio, chamado de “assassino” por alguns presentes, acusado de conivência com extremistas que pregaram vingança após o sequestro e morte de três jovens judeus na Cisjordânia. Dias depois, um jovem palestino foi queimado vivo por ultranacionalistas em Jerusalém, acirrando ainda mais os ânimos.