Por: Julia Sweig

Folha de São Paulo – Mundo

Publicado em 12/02/2014

Pesquisa mostra que 62% da população do Estado defende a normalização das relações entre EUA e Cuba

JuliaSweigNós, americanos, gostamos de nos enxergar como pessoas pragmáticas que solucionam problemas. Mas, no caso dos últimos 55 anos de política em relação a Cuba, ainda adoramos ídolos falsos que pregam a mitologia da era de Eisenhower e Kennedy, segundo a qual guerras econômicas (e às vezes militares) promoverão mudanças de regime.

Mas não por muito tempo.

Novos dados divulgados nesta semana mostram que a opinião pública dos EUA e da Flórida é favorável a mudanças substanciais na política cubana de Washington.

De acordo com pesquisa bipartidária, 56% dos americanos são a favor da normalização das relações com Cuba. O apoio é maior entre democratas e independentes, mas, fato notável, chega a 52% entre os republicanos.

A maior notícia, possivelmente, é que a Flórida, que abriga a maior população cubano-americana, lidera a nação por sete pontos percentuais no apoio à normalização, defendida por 63% dos latinos e 62% da população total do Estado.

Além disso, na Flórida 67% dos adultos e 66% dos latinos querem o fim da proibição às viagens a Cuba para todos os americanos, direito hoje reservado a cubano-americanos.

Ah, e lembra a Guerra Fria? Foi quando Ronald Reagan colocou Cuba na lista do Departamento de Estado de países que patrocinam o terrorismo. Conservar Cuba na lista é um importante símbolo de deferência aos deuses e deusas do status quo atual, além de grande obstáculo às relações comerciais e de investimentos com os EUA.

Hoje, porém, 61% dos americanos acham que Cuba deve sair dessa lista. Na Flórida, antigo reduto de exilados que planejavam ataques terroristas a Cuba e agora uma das primeiras beneficiárias dos laços econômicos nascentes, essa porcentagem sobe para 67%.

Os políticos do Estado captam a mensagem. Charlie Crist, ex-governador republicano, trocou de partido e agora lidera a contestação democrata ao governador Rick Scott.

Na semana passada, Crist disse em rede nacional que é hora de acabar com o embargo. Ele focou na oportunidade de empregos e crescimento da Flórida, ligando o futuro econômico do Estado ao de Cuba.

O governador Scott atacou Crist, mas sabe que a resposta de Crist de que a Flórida não pode mais curvar-se diante de alguns poucos ídolos na questão de Cuba acertou na mosca.

Afinal, foi Rick Scott quem, em uma mesma semana de 2012, se opôs e, depois, pressionado, apoiou uma lei que proibiria empresas como a Odebrecht de firmarem contratos na Flórida se também tivessem negócios com Cuba.

Depois, uma corte federal considerou a lei anticonstitucional. A Odebrecht e o Brasil provavelmente se beneficiarão de um futuro econômico interligado da Flórida e de Cuba.

Esses números de opinião pública são ainda melhores que os resultados eleitorais do presidente Obama em 2012: 51% do voto popular nacional e 50% do voto cubano-americano na Flórida. É política doméstica por números: é hora de um pouco de pragmatismo presidencial.

@JuliaSweig

Tradução de CLARA ALLAIN