Por: Jeferson Miola
A cantilena é por demais conhecida.
Independentemente da realidade objetiva e da situação concreta da economia, os ventríloquos do capital financeiro repetem sempre a mesma receita que, a juízo deles, o governo deveria seguir: [i] cuidar mais da inflação do que do desenvolvimento, [ii] ampliar o superávit fiscal e [iii] aumentar os juros.
Faça chuva, faça sol, a receita é sempre a mesma. E exatamente nessa ordem: [1º] compensar o aumento dos preços via contenção dos salários, para aumentar a concentração da renda e a lucratividade do capital; [2º] reduzir investimentos estatais, dilapidar a máquina pública e desfinanciar as políticas públicas para “economizar” e, assim, ampliar o “dinheiro livre” para alimentar o apetite insaciável do capital financeiro; e [3º] aumentar a taxa de juros para canalizar maior parcela da renda pública ao capital financeiro especulativo – nacional e internacional.
Esses postulados econômicos neoliberais são defendidos como leis férreas que deveriam ser adotados cegamente pelo governo. Caso contrário – conforme reza a chantagem dos especuladores – o país seria atingido pela maldição do rebaixamento do grau de investimento. E, dessa maneira, perderia atratividade, confirmando a profecia do caos econômico, com o capital financeiro “abandonando” o país.
Para os ventríloquos do capital financeiro, o Brasil está permanentemente no fio da navalha, com a economia sempre à beira dum abismo. Junto com a mídia conservadora, aludem dificuldades terríveis da economia; muito superiores às reais. E abstraem a conjuntura internacional, da gravíssima crise gerada na Europa e nos EUA. Com isso, ocultam o contexto de excepcionalidade da economia mundial, para também ocultarem a capacidade que o país vem tendo – com a escolha de políticas heterodoxas -, de transitar com relativo êxito, a despeito dessa complexa realidade.
O governo vinha numa trajetória de declínio dos juros a patamares históricos. Essa trajetória, entretanto, foi interrompida pelo terrorismo da orgia financeira, com o governo sucumbindo outra vez às suas chantagens.
A aparência de uma ciência econômica sofisticada não consegue esconder a verdadeira picaretagem por trás dos movimentos especulativos. Não existe nenhuma racionalidade econômica e menos ainda razão ética na postulação dos financistas – mas sim o objetivo predador da multiplicação financeira através da usura.
O provável fracasso eleitoral das candidaturas conservadoras em 2014 obrigou o capital financeiro a antecipar sua estratégia para assegurar seus interesses. No último período, o discurso conservador brada por duas exigências: maior superávit fiscal, apesar da absurda desoneração de setores do grande capital que faz o governo; e independência do Banco Central, como sinônimo de garantia de aumento de juros.
Na realidade, são duas vertentes para a reprodução exponencial do capital financeiro: maior superávit significa [1] menos direitos sociais e mais dinheiro público para o pagamento dos títulos dos rentistas, e [2] aumento da remuneração do capital financeiro [e de sua força reprodutiva] com o maior sacrifício do povo através da maior “poupança fiscal”.
Quando se entrega a cabeça do Ministro da Economia e se pede a cabeça do Secretário do Tesouro Nacional para “tranquilizar o mercado”, se está sendo no mínimo “magnânimo” com o rentismo, cedendo-lhe terreno no “território” do poder econômico que disputa com o governo.
Nessa disputa, não faltam os cavalos de Tróia. Como o ex-Ministro da Fazenda [que também foi Chefe da Casa Civil com mandato atalhado por um escândalo] e o ex-Presidente do Banco Central, que defendem abertamente políticas contrárias à trajetória tentada pelo governo. Publicam artigos, na maior das vezes falam em off, concedem entrevistas e dissertam suas certezas sobre juros ascendentes, superávit primário idem, contenção de “gastos” públicos e proposição ao “Congresso a independência legal do Banco Central” [FSP, 15/12/2013, página A2, artigo “Rumo ao grau de potência”, de Henrique Meirelles.
Aliás, não faltam cavalos de Tróia na vida, na economia e na política. Quando a Presidenta Dilma, depois de perscrutar as ruas de junho propôs corretamente o plebiscito para reformar o corrupto sistema político e eleitoral, teve como contrapartida a afronta desleal de um deputado que já não deveria estar no PT, apesar de já ter sido líder do Partido e do governo no Congresso.