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Os analistas, e mais do que eles os partidos — nos quais a vida inteligente, aliás, é matéria cessante- foram surpreendidos com o movimento das ruas, das praças e dos estádios, tomados por jovens. O que parecia, inicialmente, uma anárquica reação a um aumento da tarifa de ônibus ,a cidade de São Paulo, transformou-se em movimento nacional que se espalha por quase todas as cidades, reclamando por qualidade de vida: mobilidade urbana, transportes eficientes e, finalmente, explode em protesto entre os contrastes entre os gastos bilionários com estádios de futebol e as imensas carências de nossas cidades. Ainda não estou interpretando nem expliando, mas apenas tentando arrumar  pedras de complicado quebra-cabe;cabeças ideológico. Espero, apenas, que as esquerdas não enterrem a cabeça no primeiro buraco, como na fábula. Por isso, pareceu-me que a entrevista do governador Tarso Genro pode nos ajudar a começar a pensar. Sugiro sua leitura neste ‘não deixe de ler’ (RA):

Vejam entrevista de Tarso genro sobre as mobilizações e artigo

Para Genro, governos devem baratear as tarifas

Artigo no Valor Econômico

Manifestantes fazem 5º protesto sem perspectiva de redução da tarifa

 

Outras opiniões

 1)    Bem, a esquerda sumiu na eleição espanhola porque o país está depressão econômica profunda, que gera depressão política, racismo, fascismo etc. O sumiço nada tem a ver com o 15-M. Este, aliás, não foi criminalizado pela esquerda e, ao contrário, se bem me lembro, pesou em favor da eleição em seguida de um governo socialdemocrata – pena que este, como sói acontecer com governos desse matiz, deu em merda e foi por isso repudiado na eleição seguinte, que foi essa recente. Eu poderia questionar numerosos pontos semelhantes desses textos gaúchos, mas limito-me a dizer que, a meu parco juízo, eles são vazios de sentido nacional e de classe, perdem-se no palavrório liberal de esquerda católica fórumdeportoalegrista. Acho que devemos sim encontrar um discurso que responda com vigor e atualidade aos problemas que essas manifestações levantam, mas sem nos deixar levar por deslumbramentos enganosos tipo aquele de maio de 68 ou as mais recentes primaveras, que prometem muito mas costumam terminar mal (Renato Guimarães). 

2)     Thiago Niemeyer: “Estou achando fantástica a manifestação – e tenho participado dela ativamente – mas temo que ela vire outra ´Marcha com Deus pela Família`, que antecedeu o golpe de 1964 e 21 anos de treva, tortura e sangue. NÃO estamos na rua contra a ´corrupção` – isso é básico, todos nós somos – nem ´acordamos`, porque nunca estivemos ´dormindo` – era disso que falavam os que marchavam antes do golpe militar. O movimento tem pautas claras, que passam pela redução da tarifa de ônibus, da violência policial e a demonstração da indignação com a maneira como a cidade do Rio (e outras) foi tornada balcão de negócios de empreiteiras por conta da Copa de 2014 e dos jogos de 2016. Não é uma criminalização do fazer político: estamos pagando por uma Copa da qual poucos poderão desfrutar, e ainda promove mudanças desocupações e cerceamentos no nosso direito de livre transito. Estamos pagando caro por ´arenas` padrão FIFA quando o dinheiro certamente poderia ter melhor destino. Criminalizar a política termina em ditadura, eleição do Collor… Os mais variados tipos de desgraça. Em que pese meu desapontamento colossal com a Dilma, não abro mão da manutenção da ordem democrática, até porque o golpismo só trará algo muito, muito pior.”

3) Nathalie de la Cadena:”Aos meus amigos militantes e membros de partidos políticos, 
Ontem foi lindo de ver o povo na rua reagindo a uma tentativa de cerceamento das liberdades civis. A consolidação da democracia brasileira. A direita e seus representantes foram os principais perdedores, mas fica um alerta: a hostilidade das pessoas para com os partidos políticos. 

É claro que podemos dizer que são alguns reacionário disfarçados de democratas que estavam perdidos no meio do movimento, sim isso existe. No entanto, não é apenas isso. A juventude está desacreditada desse sistema político, as pessoas não se sentem representadas pelos partidos e seus membros, a organização social nem sempre está vinculada a organismos tradicionais como sindicatos e entidades estudantis, não há projeto de país para 20 ou 30 anos, tudo é para as próximas eleições, os partidos estão perdendo contato com a base, pois muitos quadros estão presos em compromissos de governo e não estão mais militando. 

Hoje militar não é apenas conseguir ganhar um sindicato, ou ter maioria nas organizações estudantis, militar é disputar versão a cada segundo na rede, é monitorar a “temperatura” das discussões, acompanhar o que está sendo debatido, publicado e considerado importante. É evidente a hostilidade para com a Globo e meios de comunicação que mentem. Aproveitem a deixa! É evidente o descontentamento com cartéis de empresas de ônibus que cerceiam as pessoas no seu direito elementar de ir e vir. Esses cartéis que financiam as campanhas (como no Rio faz a FETRANSPORT). Exponham o vínculo. Politizem a discussão, não se afastem dela. 

As pessoas estão protestando, são contra, mas há que se mostrar uma solução. REFORMA POLÍTICA e LEI DE MÍDIA! Fica o alerta.

 4) Carlos Heitor Cony na FSP de hoje (18)- Um conhecido de vista e chapéu, como aquele cara que Dom Casmurro encontrou num trem da Central, mesmo sem chapéu, me cumprimentou e perguntou se podia bater um papo. Como as donzelas dos romances antigos, não gosto de conversar com estranhos, mas topei a liberdade e ele sentou-se na mesa onde, sozinho, eu almoçava um “penne arrabbiata”.

“O senhor sabe quem está por trás dos atos de vandalismo em São Paulo e em outras cidades brasileiras?”

Ia responder que não, nem queria saber, mas o homem já tinha começado: “Tenho lido o que a mídia está dizendo a respeito. Os entendidos são unânimes em afirmar que o movimento é organizado, e não espontâneo, como a vaia que deram na presidente no estádio de Brasília. Sendo possível ou sendo verdade, quem estaria interessado em bagunçar a paz da sociedade brasileira?”.

E continuou: “Nenhum dos partidos existentes. Em 64, as marchas por Deus e pela democracia eram coordenadas e financiadas pelo dinheiro do trigo que o embaixador Lincoln Gordon desviava para armar uma situação que justificaria a intervenção dos Estados Unidos, que já tinham mandado uma esquadra para garantir a invasão”.

“A quem interessa uma ruptura do regime democrático que, bem ou mal, estamos mantendo? Não temos nem o ouro de Moscou nem o dinheiro dos cubanos que sonhavam com uma nova Sierra Maestra. O PT, especializado em orquestrar a voz das ruas, faria tudo para se conservar no poder. Os evangélicos, os gays, os ecologistas?”

“Com a Comissão da Verdade ameaçando chegar aos torturadores do regime de 1964, com a repulsa aos militares que estão sendo chutados como cães atropelados, qual o grupo interessado em virar a mesa?”

5) Ei reaça, vaza dessa marcha! por Nata Castro: “Não, reaça, eu não estou do seu lado. Não vem transformar esse protesto legítimo em uma ação despolitizante contra a corrupção. Não vem usar nariz de palhaço, não tem palhaço nenhum aqui. Agora que a mídia comprou a manifestação tu vem dizer que acordou?

O povo já está na rua há muito tempo, movimentos sociais estão mobilizados apanhando da polícia faz muito tempo. São eles os baderneiros, os vândalos, os que atrapalham o trânsito. Movimento pelo transporte, Movimento Feminista, Movimento Gay, Movimento pela Terra, Movimento Estudantil… Ninguém tava dormindo! Essa violência que espanta todo mundo não é novidade, não é coisa de agora. Acontece TODOS os dias nas periferias brasileiras, onde não tem câmera pra registrar ou repórter para se machucar e modificar o discurso da mídia.
Não podemos admitir que nossa luta seja convertida pela direita numa passeata contra a corrupção. Não é uma causa de neoliberais. Não é uma causa pelos valores e pela família. Não estamos pedindo o fim do Estado – pelo contrário! – Esse “Acorda, Brasil” não tem absolutamente NADA a ver com a mobilização das últimas semanas.
Então se tu realmente acredita que a mídia tá do nosso lado, abre os olhos! São muitas as maneiras de se acabar com um levante: força policial, mídia oportunista, adoção e desconstrução do discurso…
Começou a disputa pelos sentidos da efervescência:

“Não é nem um pouco fácil entender a proporção que as coisas estão tomando no Brasil. Os protestos estão cada vez mais heterogêneos, e amanhã (hoje) vai ser um dia gigante e imprevisível. Protestos são convocados por desde movimentos libertários e autogestionados (que se encontram na gênese das manifestações) até pelas páginas ufanistas/moralistas/udenistas como a antipetista Acorda Brasil, que dissemina desinformação e preconceito de classe. Se esse choque de alteridades pode ser potente, também pode gerar desmobilização numa questão de semanas. Começou a disputa pelos sentidos da efervescência. Reacionários estão determinados a também sair do facebook e transformar a insatisfação coletiva numa versão inchada do elitista Movimento Cansei, com sua pauta moralista e antipetista. Por outro lado, governistas estão mais preocupados em deslegitimar as manifestações e em blindar os governos petistas, que não se pronunciam sobre o que acontece por não conseguirem compreender o novo, e quando se pronunciam, não conseguem romper com o emcimadomurismo. A multiplicidade de pautas que desaguam nessa insatisfação generalizada torna impossível vislumbrar os rumos que as coisas irão tomar. Será árdua a tarefa de disputá-los.”

6). O texto abaixo, de autoria do estudante Paulo Motoryn, foi publicado originalmente na revista Vaidapé.

Desde o ato da última quinta-feira contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo, em que a violência e a repressão policial viraram notícia em todo o planeta, mais uma ameaça ronda o sucesso das manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre: a instrumentalização do povo.

A evidente mudança de postura da imprensa em relação aos protestos deve ser motivo de desconfiança, não de festa. Isso porque nos últimos dias imperou o comentário: “Agora até a grande mídia defende as manifestações”. Como se isso fosse algo positivo.

Por um lado, a máxima “não é só pelos 20 centavos” conseguiu convencer diversos setores da população a ir às ruas. Por outro, abriu uma questão polêmica: se o aumento da passagem foi só o estopim, o que mais nos incomoda? Quais são os reais motivos do fim da letargia política em São Paulo?

É fato, o reajuste do preço transporte só provocou a revolta necessária para que o paulistano percebesse o óbvio: política se faz nas ruas. No entanto, a recusa ao modelo de sociedade atual tem de ser deixada clara. Isso porque os perigos da apropriação do movimento são reais.

Na sua última edição, Veja contrariou sua linha editorial e se posicionou a favor das manifestações. Quando um veículo que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir.

Mas as páginas de Veja só revelam a nova postura dos veículos da imprensa dominante: já que não podem mais controlar ou evitar a multidão, manipulam seus objetivos. De acordo com a revista, o descontentamento dos manifestantes se deve também à corrupção, à criminalidade… Falácia.

É evidente que essas questões também são importantes, mas os jovens que estão nas ruas estão preocupados com questões muito mais profundas. A juventude está mostrando que não quer compartilhar dos valores individualistas, consumistas e utilitaristas da geração de seus pais.

O grito dos jovens está longe de bradar contra os “mensaleiros”, contra a inflação, contra as políticas sociais de transferência de renda. O movimento é progressista por natureza e agora tem de saber lidar com uma ameaça feroz: a direitização.

O aparelho midiático que serve a esses interesses já foi acionado. A grande imprensa já está mobilizada para maquiar o movimento de acordo com um ideário conservador, por isso o povo precisa fazer seu recado ser entendido.

Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés.

O que queremos é derrubar as barreiras entre ricos e pobres, quebrar os muros entre centro e periferia, consolidar o povo como um ator político de importância ímpar e lutar por um Brasil com justiça social, sem desigualdade e com oportunidades iguais para todos e todas. Nada mais. E nada menos.

Vamos à luta!

7) Folha de São Paulo de hoje: Manifestantes invadem a Alerj e entram em confronto com a PM

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FABIO BRISOLLA

ITALO NOGUEIRA
MARCO ANTONIO MARTINS
DO RIO

Mais de 150 policiais do Batalhão de Choque entraram em confronto com um grupo de cerca de 300 manifestantes por volta das 23h30 desta segunda-feira após a invasão do prédio da Assembleia Legislativa do Rio. Ao menos, oito pessoas foram detidas.

A invasão da Alerj aconteceu por volta das 23h e durou alguns minutos, até a chegada da Tropa de Choque. Os policiais chegaram às 23h15 em vinte carros e um blindado, o chamado caveirão, e atiraram várias bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes, que correram em direção à Candelária.

O ato tinha começado pacificamente seis horas antes, reunindo 100 mil pessoas. Antes da invasão, um grupo de 80 policiais, sendo vinte deles feridos, chegou a ficar encurralado pelos manifestantes no prédio da Alerj.

Por volta das 22h30 policiais conseguiram entrar pelos fundos do prédio da Assembleia para resgatar os que estavam feridos.

Os atos violentos da passeata começaram por volta das 19h30, quando um grupo se dispersou dos que caminhavam em direção à Cinelândia e decidiu seguir para a Assembleia Legislativa, onde, na quinta (13) já tinha acontecido outro confronto.

Um carro de som que acompanhava o grupo anunciou: “Ocupamos o Congresso”, referindo-se ao que acontecia em Brasília. A multidão então começou a gritar: “ocupa, ocupa, ocupa a Alerj” e “isso aqui vai virar um inferno”.

Entre os detidos, está o estudante de economia da Universidade Federal Fluminense Mateus Costa, que disse que sua prisão foi arbitrária, já que estava apenas nos arredores da área do conflito. Filho de um dos fundadores da ONG Rio da Paz, Antonio Costa, Mateus disse que o grupo com o qual tinha participado da passeata caminhava nos arredores do terminal Menezes Cortes, quase em frente à Assembleia, quando foi preso.

Em uma das ruas próximas ao terminal, lojas e agências bancárias foram saqueadas. O primeiro carro foi virado e incendiado. Os poucos policiais presentes foram acuados e se refugiaram dentro do prédio.

 

8) Blog 247 -Presidente se reúne com o ex-presidente Lula, o marqueteiro João Santana, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, em hotel de São Paulo; prefeito Fernando Haddad se juntará ao grupo; na pauta, os protestos que ocorrem por todo o Brasil, que começaram no âmbito dos transportes públicos e tiveram a abrangência ampliada por críticas à organização da Copa e à corrupção; ideia é traçar estratégia para gerenciar a crise, que, nesta segunda-feira, chegou à marquise do Congresso Nacional

 

18 DE JUNHO DE 2013 ÀS 17:16

 
SP247 – Não foi apenas para encontrar o ex-presidente Lula que a presidente Dilma Rousseff viajou para São Paulo na tarde desta terça-feira. Acompanhados pelo marqueteiro João Santana, pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, presidente e antecessor montaram um gabinete de crise num hotel da zona sul da capital paulista. O prefeito Fernando Haddad também se somaria ao grupo mais tarde.

 

A meta da reunião é tratar dos protestos que se espalharam pelo País nos últimos dias e traçar uma estratégia publicitária para gerenciar a crise. Com a intensificação das manifestações, que chegaram à marquise do Congresso Nacional na noite desta segunda-feira, as reivindicações se diversificaram e passaram a pedir até o impeachment de Dilma. Retorno da presidente para Brasília está previsto para as 17h45.

 

Abaixo, relato da Agência Brasil sobre a reunião entre a presidente Dilma e seu antecessor:

 

Dilma se reúne com Lula em São Paulo

 

Elaine Patrícia Cruz
Repórter da Agência Brasil

 

São Paulo – A presidenta da República, Dilma Rousseff, reuniu-se hoje (18) com o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva em São Paulo. O encontro ocorreu no Hotel Sheraton, na zona sul da capital. Também participaram da reunião o ministro da Educação, Aluízio Mercadante, e o presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão.

 

O tema da reunião não foi divulgado. Nenhum dos participantes falou com a imprensa após o término do encontro. Dilma chegou na base aérea de São Paulo às 14h30. Alguns dos participantes do encontro foram vistos deixando o local às 17h40.

 

Ontem, o ex-presidente divulgou nota dizendo que as manifestações e o movimento social não são coisa de polícia, mas sim de mesa de negociação. “Ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil, porque a democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas”.

 
9) Advertência

 

Por Breno Altman, especial para o 247

 

Um fantasma ronda o mundo petista. O da perplexidade. Apesar das importantes conquistas dos últimos dez anos e das pesquisas eleitorais favoráveis, a onda de protestos abala o principal partido da esquerda brasileira e aproxima-se do governo federal. Com o prefeito de São Paulo na berlinda e multidões de jovens nas ruas, tudo o que era sólido parece se desmanchar no ar.

 

Muitos se perguntam o porquê de tanta ira depois de uma década na qual a pobreza diminuiu, a renda foi melhor distribuída e chegou-se praticamente ao pleno emprego. É verdade que as manifestações estão gravitando, por ora, ao redor de uma agenda local. A revolta juvenil exige principalmente menores tarifas de transporte e direito de manifestação, contrapondo-se à violência das polícias estaduais. Somente um autista político, no entanto, deixaria de perceber que uma nova situação se instaurou no país.

 

Alguns petistas, estarrecidos, não hesitaram em vislumbrar, balançando o berço dos protestos, a mão peluda da direita, arrastando junto os infantes da ultraesquerda. Mas a narrativa conspiratória não resistiu aos fatos. Os centros de poder do conservadorismo – especialmente os veículos tradicionais de comunicação e o governo paulista – desencadearam reação feroz contra a mobilização, que desaguou na repressão implacável da última quinta-feira.

 

A truculência policial serviu de condimento para a escalada de protestos e sua nacionalização. A defesa de um direito democrático fundamental, diante da qual vacilaram, nos primeiros momentos, tanto o ministro da Justiça quanto o prefeito paulistano, foi assumida com energia e radicalidade pela juventude das grandes metrópoles. Partidos e governos da direita foram os responsáveis pela escalada repressiva, mas tiveram a seu favor a tibieza de setores da esquerda surpreendidos com fenômenos alheios a suas planilhas.

 

Parte do estado-maior reacionário refez suas contas, emparelhando discurso para disputar a rebelião e voltá-la contra o governo federal, provisoriamente arquivando a opção da violência. Até o momento, colheram um rotundo fracasso. Não apenas as manifestações e lideranças resistiram a abraçar suas bandeiras como foram frequentes cartazes e palavras de ordem contra o governador Alckmin e a própria imprensa, especialmente a Rede Globo.

 

Mesmo os alvos escolhidos pelos segmentos mais radicalizados – o Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, a Assembléia Legislativa no Rio, o Congresso Nacional em Brasília – demonstram que os jovens não estão nas ruas a serviço da restauração antipetista. Tampouco parecem se sentir representados e incluídos, porém, no processo impulsionado a partir da vitória de Lula em 2002.

 

A imensa maioria dos manifestantes tinha abaixo de 25 anos, formada por filhos das camadas médias e também dos bairros periféricos. A julgar por suas palavras de ordem, cartazes e bandeiras, não estão contra as reformas empreendidas desde 2003. Mas querem mais, melhor e rápido.

 

Ninguém levantou a voz para criticar o bolsa-família, o crédito consignado ou o Prouni. Nenhuma faixa foi erguida para defender privatizações e outras políticas favoráveis aos interesses de mercado. Poucos eram os manifestantes que carregavam cartolinas contra o “mensalão” e a corrupção. A luta é pela ampliação de direitos políticos e sociais, demanda encarnada pela exigência de barateamento do transporte público.

 

Mas cansaram de esperar que estes avanços sejam patrocinados por governos e partidos, mesmo os de esquerda. Não parecem satisfeitos com a timidez e a lentidão para realizar novas reformas, mais audazes, que acelerem a melhoria de suas condições de vida. E resolveram, como ocorre em determinados momentos históricos, tomar a construção do futuro em suas próprias mãos.

 

A rejeição à presença de bandeiras partidárias pode ser analisada pela ótica corriqueira, como rechaço a instrumentos de organização coletiva ou despolitização. Mas também caberia ser compreendida, ao lado de outros ingredientes, como simbolismo de quem, avesso às correntes conservadoras ou ao aparelhismo de pequenos grupos, não se sente cativado ou vocalizado no projeto liderado pelo PT.

 

Provavelmente não se trata apenas de uma questão econômico-social, mas igualmente política. Uma parte da sociedade, mesmo com inclinação progressista, dá sinais de fadiga com a estratégia de mudanças sem rupturas. Há crescente mal-estar com uma equação de governabilidade que preserva as velhas instituições, depende de alianças com fatias da própria oligarquia para formar maioria parlamentar, abdica da disputa de valores e renuncia à mobilização social como método de pressão.

 

Antes esse cansaço se restringia a pequenos círculos de militantes mais enfezados. Afinal, muito pode ser feito mesmo sem reformas estruturais, a partir da reorientação do orçamento nacional, integrando dezenas de milhões à cidadania e ampliando conquistas sociais. O fato é que esse cenário pode ter atingido seu teto. E as ruas começam a gritar.

 

O movimento não é contra o PT, mas coloca a estratégia do partido e do governo em xeque. Há uma exigência de protagonismo popular e juvenil, explicitada nos últimos dias. A direção partidária e o Palácio do Planalto estão dispostos a considerar essa mobilização um fator de poder e refazer suas conexões com estes movimentos, impulsionando sua ascensão para construir forças rumo a uma nova geração de reformas?

 

Esta e outras perguntas estão embutidas no alarme que a revolta do vinagre fez soar. Diante do clamor, o petismo pode retificar sua estratégia e repactuar com a rebelião das ruas para aprofundar e acelerar reformas de base. Ou pagar o preço próprio das situações onde a esquerda e as ruas se divorciam.

 

Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

 

10) Plínio de Arruda Sampaio:

 

Há relatos até de um militante do PSTU agredido fisicamente. De que adianta “acordar” se é para acordar o autoritarismo? Se estão se achando novos por serem nacionalistas, patriotas e antipartidos, gostaria de sugerir a leitura do Ato Institucional nº 2, de 1965. Só isso. (Texto enviado por Jaime Cardoso)