Da amiga Marília Guimarães recebi o texto abaixo de José Saramago, o maior escritor contemporâneo da língua portuguesa, saudando nosso Niemeyer em seu centenário. Penso que todos nós  — os que, cada um a seu modo, tentam como eles tentaram em toda a vida mudar o mundo — podemos nos considerar signatários dessa bela imagem.

¨Creio que não se tem reparado numa das maiores diferenças existentes entre o português e outras línguas neo-latinas. Um espanhol, um italiano ou um francês, no dia do seu aniversário, dirão, com uma expressão algo insegura: “Hoje cumpro x anos”. Como se não tivessem bem a certeza de os haver cumprido de acordo com as regras e as disciplinas estabelecidas pelos diversos mentores sociais. Nós, portugueses, nós, brasileiros (acabo de comprová-lo no Aurélio) não cumprimos anos, fazemo-los. Já se pensou no bonito que é mexer no tempo, empurrá-lo, estendê-lo, empurrá-lo, e a isto chamo eu vida, e de repente começar a receber e-mails, cartas, chamadas telefônicas de parentes e amigos que nos dizem: “Parabéns, mais um ano”. E nós respondemos: “Bom trabalho me deu, mas aí está, feito”. Aí estão agora estes cem, feitos por Oscar Niemeyer, amassados de todas as esperanças e razões do mundo, entregues nas mãos do futuro, com estas palavras de promessa: “Aqui estive, aqui estou, aqui me encontrarão sempre”. Querido Oscar, até ao próximo ano.¨

José Saramago.¨