Rio, 20/setembro/2012 – A cada semana, acumulam-se as evidências de que a agenda da “descarbonização” da economia mundial se mantém em retrocesso – para desalento da coalizão de interesses que a tem promovido, sob o pretexto de evitar o inexistente aquecimento global causado pelo homem. Dois fatores têm contribuído de forma significativa para isso: a rápida expansão da exploração do gás de folhelhos (shale gas) e a retirada forçada dos subsídios anteriormente concedidos às fontes energéticas “renováveis”, como a eólica e a solar, o que tem explicitado os seus altos custos reais.

Um exemplo dessa tendência é a posição crítica do novo secretário de Meio Ambiente do Reino Unido, Owen Paterson, com relação aos enormes subsídios às usinas eólicas britânicas. Em sua primeira entrevista como ministro, concedida em 15 de setembro, Paterson afirmou ser “cético” com relação à efetividade das políticas do governo para combater o suposto “aquecimento global” (Daily Telegraph, 16/09/2012).

Em suas palavras, “é absolutamente óbvio que as mudanças climáticas estão aí… mas eu quero ter certeza de que as medidas adotadas estão, efetivamente, amenizando o problema, e não criando outros… Eis a razão de por que sou cético”.

Com relação às usinas eólicas, Paterson explicitou o que é conversa de rua no Reino Unido, afirmando que elas são “incrivelmente impopulares” e considerando que a experiência britânica com tais fontes energéticas “prova que elas não são viáveis”.

Na entrevista, Paterson também informou que pediu aos demais ministros para apoiarem um plano voltado para a promoção de pesquisas em busca de reservas de gás de folhelhos, em todo o Reino Unido. Em um recente pronunciamento, o ministro exaltou a descoberta das reservas britânicas como “um golpe de sorte inesperado e de enorme potencial”. Este novo recurso energético, que fica armazenado em formações rochosas profundas, passou a ser economicamente viável graças à tecnologia de extração conhecida como fracking, desenvolvida nos Estados Unidos, que consiste na injeção de areia, água e produtos químicos para fraturar tais rochas e liberar o gás contido nelas.

As posições de Paterson são, em linhas gerais, compartilhadas por seu colega de Energia e Mudanças Climáticas, Edward Davey. Apesar de apoiar a construção de novas usinas eólicas, o novo ministro já declarou que os planos britânicos de promoção de energias “renováveis” só poderão avançar com grandes investimentos em gás de folhelhos. Além disso, Davey rejeitou uma carta de Lorde Deben, presidente do Comitê de Mudanças Climáticas do Parlamento, que solicitava ao secretário a formulação de um instrumento legal que proibisse a geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis em todo o país.

Em sua resposta ao lorde, Davey reafirmou a sua visão de que o país precisa realizar grandes investimentos na geração de energia a partir de usinas a gás, e que as tecnologias de “sequestro e captura de carbono” (CCS, na sigla em inglês) nessas usinas ainda é uma “tecnologia não comprovada” (The Sunday Telegraph, 16/09/2012).

Assim, a nova dupla ministerial sugere que o governo britânico está rompendo com a política ambientalista seguida nas últimas décadas e que seu novo foco será manter a economia do país a salvo de medidas irracionais e suicidas.

Eólicas chinesas à beira da bancarrota

Patrick Chovanec, professor da Escola de Economia e Administração da Universidade Tsinghua de Pequim, faz uma avaliação contundente do estado de penúria que a indústria chinesa de componentes para usinas eólicas está enfrentando. Segundo o especialista, além de sofrer com a situação de falência do setor de energia solar, o país vê os seus investimentos em energia eólica se tornarem um verdadeiro elefante branco.

Segundo Chovanec, “os maiores fabricantes de turbinas eólicas na China, a Goldwind e a Sinovel, viram os seus vencimentos se reduzirem em 83% e 96%, respectivamente, na primeira metade de 2012”. Além disto, “os operadores chineses de usinas eólicas, a Huaneng e a Datang, viram os seus lucros caírem em 63% e 76%, respectivamente, devido à baixa capacidade de utilização” (Walter Russel Mead, 15/09/2012).

Ao mesmo tempo, o mesmo governo chinês tem pressionado a UE a abandonar os seus planos de submeter as empresas de aviação que voem ou fazem escala na Europa ao seu mercado de carbono (ETS). Nesse sentido, a China ameaçou suspender encomendas de 50 jatos da Airbus, em um valor total de 14 bilhões de euros, caso tal projeto não seja suspendido pelo bloco europeu.

Diante da ameaça, representantes das fábricas de componentes para a Airbus, situadas na Alemanha, Espanha e França, estão tentando convencer a Comissão Europeia a voltar atrás de sua determinação. Um exemplo do temor em relação à advertência chinesa foi a declaração do novo ministro de Negócios do Reino Unido, Michael Fallon, para quem “a Airbus deixou bem claro que a ameaça de ação retaliatória é real e pode causar sérios danos ao seu orçamento” (Reuters, 14/09/2012).

Outro ministro a exprimir a intenção de rever a decisão da Comissão Européia foi Peter Hintze, representante do governo alemão para a política aeroespacial, que afirmou ser favorável ao adiamento do início das cobranças pelas emissões para o “outono de 2013”. Segundo Hintze, o adiamento do início da cobrança, passando de abril (segundo a previsão atual) para setembro do próximo ano, daria tempo hábil para que houvesse um entendimento entre as partes.

Segundo o executivo-chefe da Airbus, Fabrice Bregier, caso a disputa não se resolva e a China cancele as suas encomendas, tal cenário representaria um drástico corte na produção das fábricas da empresa européia. “Somos muitos conscientes de que o relógio não pára. Nós temos realmente muito pouco tempo”, afirmou. Além da China, países como o Brasil, os Estados Unidos, a Rússia e a Índia têm feito forte oposição à ideia de se submeter as companhias aéreas ao ETS.

Mercado do gás de folhelhos cresce na Europa

A descoberta de novas reservas de gás de folhelhos está desencadeando o maior volume de investimentos na Europa, desde a queda do Muro de Berlim, em 1989. Dentre as grandes investidoras está a gigante anglo-holandesa Royal Dutch Shell, a francesa Total e a estadunidense ConocoPhillips, que adquiriram direitos de exploração na Polônia – onde, segundo o Instituto Geológico Polonês, as reservas são suficientes para atender entre 35 e 65 anos da demanda de gás do país.

Outra nação que tem sido alvo dos investidores do setor energético é a Ucrânia, onde a TNK-BP Holding, uma joint venture da British Petroleum com um grupo de investidores russos, planeja injetar 1,8 bilhão de dólares em projetos de extração de gás de folhelhos, em diversas localidades do país. Em junho, a italiana ENI pagou uma quantia não revelada para adquirir uma participação na LLC Westgasinvest, grupo sediado na Ucrânia, onde detêm uma concessão de cerca de 1.500 quilômetros quadrados de terras com grande potencial de reservas de gás. Outra gigante a apostar na exploração do novo recurso energético no país europeu é a Chevron (The Wall Street Journal, 17/09/2012).

Fonte: Alerta Científico e Ambiental é uma publicação da Capax Dei Editora Ltda.
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