(Editorial do O Diário INF. de Lisboa, edição do último dia 8)
Nas últimas semanas, a campanha dos EUA contra a Rússia intensificou-se. As sanções que atingem aquele país, a pretexto da situação existente na Ucrânia, geraram uma atmosfera de guerra fria.
A histeria de Washington, patente na agressiva oratória de Barack Obama , deforma grosseiramente a realidade.
A acusação de que as forças do leste ucraniano derrubaram o avião da Malasya Airlines foi forjada; tudo indica que é falsa. Peritos militares de diferentes nacionalidades afirmam que o aparelho foi destruído por um míssil enviado por um caça da força aérea de Kiev.
As recentes sanções financeiras impostas pela Comissão Europeia resultaram da insistente pressão dos EUA. A resposta de Moscovo foi imediata, proibindo a importação de produtos alimentares de países que aprovaram essas sanções.
O presidente Putin sublinhou com razão que a União Europeia precisa hoje mais da Rússia do que o inverso. Tem uma dependência transparente do gás russo e dificilmente poderia encontrar uma alternativa para essas importações se Moscovo fechasse o seu fornecimento.
Em Portugal, os media, controlados pelo grande capital, têm ocultado que a crise norte -americana é mais profunda do que a europeia, vinda aliás dos EUA.
Como o diplomata indiano Bhadrakumar esclareceu (odiario.info 7.8.14) essa crise mergulha as raízes na fragilidade crescente do dólar.
Bastaria que a quase totalidade das transações de petróleo deixassem de ser realizadas em dólares para que a moeda americana se afundasse estrondosamente. As conclusões da cimeira dos BRICS em Fortaleza tiveram o peso de uma seria advertência a Washington. A Rússia é hoje um país capitalista, mas os seus interesses nacionais são incompatíveis com os do imperialismo estado-unidense.
Obama está consciente disso e sabe que as emissões contínuas de um dólar desacreditado não podem prosseguir indefinidamente.
Daí a estratégia das criminosas guerra de saque, desencadeadas em nome da defesa da democracia e das liberdades, mas cujo objetivo é a permanência da hegemonia imperial norte-americana sobre o planeta.
O balanço dessas agressões tem sido desastroso para os EUA. Mas a atual campanha contra a Rússia demonstra que Washington não soube extrair as lições dos acontecimentos do Iraque, do Afeganistão e da Líbia e da renúncia, por ora, a um ataque ao Irão.
Obama apoia a agressão genocida do estado terrorista de Israel contra o povo da Gaza (quase 2000 palestinos mortos), mas derrama lágrimas pelos fascistas ucranianos caídos nos combates contra os adversários do governo de Kiev.
A concentração de poderosas forças aéreas, marítimas e terrestres dos EUA e da NATO nas fronteiras da Rússia, do Báltico ao Mar Negro, levou alguns observadores e influentes media ocidentais a admitir a iminência de uma guerra contra a Rússia.
Uma tal tragédia é, porem, muito improvável.
O próprio secretário-geral da NATO, o ultra conservador Rasmussen, reconhece que a organização não está preparada para uma guerra convencional de grandes proporções nos espaços russos. Idêntica é a opinião de influentes chefes militares do Pentágono.
Quanto ao recurso a armas nucleares – tema que suscita especulações- parece hipótese remota porque configuraria uma ameaça à própria sobrevivência da humanidade.
No tocante à estratégia belicista de Obama, pode-se afirmar que o tiro está a sair pela culatra.
Enquanto a sua popularidade cai para um nível muito baixo, a de Putin sobe. A esmagadora maioria do povo russo apoia a política que adotou na crise ucraniana e nas relações com os EUA e a União Europeia.
Significa essa reconquista da popularidade que a politica que praticou no exercício do poder foi globalmente positiva? Nao. Putin deve a sua ascensao à Presidencia a Ieltsin, e foi cúmplice da estratégia criminosa da restauração do capitalismo na Russia .
Mas,a inteligência e a pciencia diplomática do atual governo russo tem eviado o pior e, a pouco e pouco, vai revelando os sinistros apetites hegemónicos e agressivos dos EUA e seus aliados.