Executivo argentino de marketing esportivo disse que a emissora brasileira, a norte-americana Fox e a mexicana Televisa participaram do esquema.
Num dos depoimentos do julgamento do escândalo de corrupção na Fifa, em curso desde a segunda-feira (13) em Nova York, a Rede Globo foi citada como uma das seis empresas de comunicação que teriam pago propina para obter direitos de transmissão de torneios internacionais.
Buzarco foi ouvido como uma das testemunhas de acusação no julgamento de José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, acusado de extorsão, fraude financeira e lavagem de dinheiro. O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também é investigado pelas autoridades norte-americanas, mas continua em liberdade por não haver a previsão de crime de corrupção privada no Brasil.
Buzarco também é réu na investigação. Ex-diretor da Torneos y Competencias, ele fechou um acordo de colaboração com os promotores do caso. Ele está em prisão domiciliar em Nova York desde que foi detido há dois anos. A empresa fez um acordo de leniência com a Justiça dos EUA, no qual se comprometeu a pagar mais de US$ 112 milhões de multa para continuar operando.
O argentino relatou um encontro em que estavam presentes Marin, Del Nero e Marcelo Campos Pinto, ex-homem forte do futebol da Globo. “Informei a eles que tinha mais US$ 2 milhões de propina, dinheiro que Teixeira não havia coletado. Com a benção de Campos Pinto, ficou decidido que os 2 milhões seriam divididos entre Del Nero e Marin”, disse Buzarco.
O empresário também chegou a citar o grupo argentino Clarín, mas disse que as propinas a serem pagas pela empresa não chegaram à Fifa.
Buzarco afirmou ainda que pagou valores irregulares diretamente a Marin. O ex-presidente da CBF é um dos três de 40 indiciados que ainda se declaram inocentes.
Em nota, a Globo afirmou que “não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina”. Segundo a emissora, investigações internas apontam que jamais houve “pagamentos que não os previstos nos contratos”. A empresa afirma que Marcelo Campos Pinto, em apuração interna, “assegurou que jamais negociou ou pagou propinas a quaisquer pessoas”.
Investigação no Brasil
A Polícia Federal abriu, em 2015, uma investigação sobre os contratos da CBF com a Globo, detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro há décadas.
Segundo a acusação das autoridades norte-americanas, a Traffic, empresa de marketing esportivo do empresário brasileiro J. Hawilla, pagava como suborno a Marin e a outros dois dirigentes da CBF R$ 2 milhões por ano pelos direitos de transmissão da Copa do Brasil. A Traffic, então, revendia esses direitos para emissoras brasileiras.
Um desses dirigentes era, provavelmente, Ricardo Teixeira. Por décadas, ele coordenou por parte da CBF a aliança com a Globo. No caso específico do Campeonato Brasileiro, que não está sob investigação do FBI pelo que se sabe até aqui, não havia uma empresa intermediária como a Traffic. Por anos, a CBF organizava a competição e a própria Globo comprava diretamente os direitos de transmissão, junto ao Clube dos 13, entidade que reunia diversos clubes do futebol brasileiro.
Leia a nota da TV Globo:
Esclarece que, após mais de dois anos de investigação, não é parte nos processos que correm na justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos.
O Grupo Globo se surpreende com o relato envolvendo o ex-diretor da Globo Marcelo Campos Pinto. O Grupo Globo deseja esclarecer que Marcelo Campos Pinto, em apuração interna, assegurou que jamais negociou ou pagou propinas a quaisquer pessoas. O Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido.
Para a Globo, isso é uma questão de honra. Os nossos princípios editoriais nem permitiriam que seja diferente. Mas o Grupo Globo considera fundamental garantir aos leitores, aos ouvintes e aos espectadores que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige.
Fonte: CartaCapital