por: J. Carlos de Assis
A virtual derrota para a Rússia no Leste da Ucrânia, a derrota também para a Rússia em Aleppo, o desastre estratégico representado pelo Brexit na Europa Ocidental e, sobretudo, a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas são parte de uma cadeia de desastres estratégicos que estão fulminando o esquema de poder global concebido no núcleo neoconservador-neoliberal dos Estados Unidos. Acima disse, paira uma ameaça moral sem paralelo: o Papa Francisco, condenando o capitalismo financeiro com audácia inaudita.
Não é impossível matar um Papa. Afinal, é um homem, e todos os homens são vulneráveis. O Grande Chefão de Francis Coppola mostrou como provavelmente o Papa João Paulo I foi assassinado pela Máfia. Contudo, ele representava um desafio local na Itália. Francisco é um desafio global. Diante de desafios globais a CIA mudou de tática. Não mata diretamente. Usa levantes populares que podem começar com uma campanha contra a corrupção, a favor dos Direitos Humanos ou pelo meio ambiente.
Os idiotas são arrastados para essas campanhas, justas mas manipuláveis, como cordeiros para o matadouro. No Brasil, o braço da CIA para derrubar Dilma Roussef e com ela um projeto de poder não submisso aos Estados Unidos foi uma sucessão de denúncias contra a corrupção por parte de um suspeito grupo de juiz e procuradores federais de Curitiba. Não que não tenha havido ou que não haja corrupção no Brasil. Mas o que a grande mídia, comprada e manipuladora, vende a seus leitores é que só há corrupção no Brasil.
Grande coincidência. Não há corrupção nem na Colômbia nem no Canadá, países alinhados de forma absoluta com os Estados Unidos. Mas há corrupção no Brasil porque, afinal, o Brasil tem no pré-sal uma das maiores reservas de petróleo no mundo e está articulado, infelizmente ainda de maneira frouxa, com os BRICS, liderados por dois países que os Estados Unidos de Obama e dos Clinton veem como inimigos. Essa equação, para a felicidade da espécie humana, deve mudar radicalmente com Trump na Casa Branca.
Entretanto, nada é mais ameaçador, hoje, para os assassinos do Pentágono e da CIA, racionalizados pelos neoliberais (em economia) e neoconservadores (em geopolítica), do que a força moral que se afirma de forma insistente por parte do Papa Francisco. A CIA não precisa de montar um complô clássico para matá-lo. Basta usar os longos braços dos cardeais Raymond Leo Burke, Salter Brandmuller, Carlos Caffara e Joaquim Meisner para cumprir a ameaça que, sem muita sutileza, fizeram numa carta tornada pública.
Camuflados sob o manto da proteção à família (aparentemente sua rebelião se justifica por serem contrários à comunhão para divorciados), e numa crítica à carta de Francisco “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor), esses quatro cardeais, ou por serem extremamente ingênuos, ou por serem simplesmente bandidos, servos de Mamon, o dinheiro, atacaram Francisco em termos pessoais numa carta denominada “Dubbia” (dúvidas), com uma ameaça explícita: “há a possiblidade de corrigir o Pontífice Romano” “em um ato muito raro”.
Qual seria esse “ato raro”? Algo preparado pela CIA, no antigo molde das múltiplas tentativas de atentado contra Fidel Castro? Ou seria ao estilo mais moderno de sublevações sociais contra o Papa? Ou seria ainda uma campanha de desmoralização do Vaticano a partir, por exemplo, da TV Globo, que está aí disponível para qualquer parada? Caveat (cuidado!), Francisco. Talvez sua salvação, e a salvação do mundo o deus Mamon passem por uma aproximação maior sua com Putin, Li Keqiang e um futuro presidente do Brasil que se unam contra a ditadura do capital financeiro de Wall Street, da qual Trump se declarou inimigo.