por: Helenita M. Sipahi

“Faz escuro mas eu canto…” (Thiago de Mello)

Seria muito bom que determinados personagens envolvidos na articulação do golpe (é golpe mesmo!) contra a democracia brasileira, refletissem sobre esse poema de um dos nossos maiores e mais respeitados poetas, escrito quando de uma de suas prisões durante a ditadura civil-militar iniciada em 1964 e que perdurou 21 anos. Ler também Os Estatutos do Homem, idem, da mesma época.

A parte civil – midiática e empresarial – do golpe de 64 continua a mesma, mas alguns personagens mudaram, lamentavelmente. Antes lutavam contra o golpe e pelo restabelecimento da democracia, muitos se exilaram, e hoje se envolvem despudoradamente nesta tentativa de apear do governo uma Presidenta  legitimamente eleita e que, ironicamente, é um dos únicos políticos sobre quem não pesa uma única acusação de corrupção. Além de outros sobre quem nada se comprovou, apesar da perseguição midiático-judicial dos últimos dois anos.

Os atuais mandantes e comandantes do golpe, incluindo aqueles personagens a quem me refiro, são todos, todos mesmo, suspeitos de algum “mal feito” no passado…É só consultar a Lista de Furnas, da Odebrecht e reportagens recentes.

Mas voltemos ao início – o poema do Thiago de Mello.

Ele é exatamente a antítese e negação dessa escalada fascista de ódio e intolerância de uma parte da sociedade, insuflada pela grande mídia e por Moros, Cunhas e Bolsonaros da vida, com os quais nossos personagens estão univitelinamente alinhados e deles dependem para efetivar o golpe.

Há mais de um ano lemos, assistimos e ouvimos relatos de agressões contra aqueles que de alguma forma são identificados como próximos ao governo e/ou contrários ao golpe – desde o criminoso adesivo obsceno da Presidenta aos constrangimentos em hospitais, restaurantes e aeroportos ao ex-Ministro Mantega, ao Ministro Jaques Wagner, ao João Stedille em Fortaleza, ao Suplicy em livraria de SP, ao Chico no Rio, à Presidenta em uma maternidade de Porto Alegre e até no enterro de um deputado do PT. Por último, agressões quase físicas a uma mãe que carregava uma bebê vestida de vermelho, físicas ao Arcebispo Dom Odilo em missa da Semana Santa na Igreja da Sé, manifestações fascistas em frente à residência de Ciro Gomes e há poucos dias à da família do Ministo Teori Zavascki em Porto Alegre, além de invasões e vandalismos em sedes do Instituto Lula, UNE, diretórios do PT e do PCdoB – ISTO É BARBÁRIE.

Neste mais de um ano, não ouvimos nem lemos uma única declaração desses senhores repudiando tais atos ou se solidarizando com os ofendidos…

Do outro lado, apesar da luta renhida, não há registros de vandalismos, constrangimento e agressões aos golpistas, nem às sedes dos seus partidos e/ou instituições, ao Instituto FHC, nem às suas residências – ISTO É CIVILIZAÇÃO.

TODOS estes senhores SE OMITEM e se respaldam nesta turba frenética, sem liderança e sem controle, que eles próprios criaram e que hoje os representam e garantem o clima de conflagração nacional para facilitar o golpe.

Mas não adianta se omitir, fazer “cara de paisagem” e/ou proselitismo através de longos artigos na grande mídia, alguns ridículos e com cheiro de naftalina. São vocês os principais responsáveis por esta escalada fascista de uma parte desinformada (ou mal intencionada) da sociedade, foram vocês que iniciaram este processo e a escalada de ódio e de intolerância – o ovo da serpente.

Foi assim na Alemanha pré-holocausto. Falta exigir estrelas vermelhas na lapela.

Este alerta é dirigido, entre outros, aos senhores Fernando Henrique, José Serra, Aluysio Nunes (o de sangrar até o fim), Roberto Freire, Jarbas Vasconcelos e outros menos votados. Os demais: Temer não tem luz própria e a Moro e Aécio, não adianta alertar – eles não conhecem luta democrática e não entenderiam o alerta – aliás, este último foi desde sempre e tão somente “filhinho de vovô” …

A História (com agá maiúsculo) lhes cobrará a todos, seja qual for o resultado.

Da minha parte, sempre lutei no lado certo da História, desde o pré-64. (aliás, quando criança eu já chorava o suicídio do Getúlio).

Para concluir, segurem seus loucos e aguardem suas chances para 2018.

Enquanto isto, faço meu o brado de todos, sempre dentro do marco civilizatório:

NÃO VAI TER GOLPE!

VAI TER LUTA!

Março/ 2016