por: Francis Bogossian*
A Estratégia Nacional de Defesa prevê, para a força naval, submarinos convencionais e submarinos de propulsão nuclear. Prevê, ainda, que o Brasil desenvolverá e manterá capacidade de projetar e fabricar tanto submarinos de propulsão convencional como de propulsão nuclear.
Foi essa capacitação que conheci em segundo turno, visitando o complexo Estaleiro e Base Naval (EBN) composto por Estaleiro de Construção, Estaleiro de Manutenção, Complexo Radiológico, Base Naval e a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem).
Esse conjunto de obras que constitui a parte de infraestrutura industrial e de apoio do chamado Programa de Obtenção de Submarinos (Prosub) cujo propósito é capacitar o Brasil a produzir e operar submarinos convencionais e com propulsão nuclear.
Visando a concretização da independência na obtenção de submarinos, inclusive com propulsão nuclear, foi assinado acordo entre Brasil e França para adaptação do projeto Scorpène aos requisitos brasileiros, estabelecimento de requisitos para as instalações de fabricação e apoio e para assessoria de projeto e construção da parte não nuclear do submarino nuclear brasileiro.
A Ufem está localizada ao lado da Nuclep e recebe desta as seções do casco cilíndrico para complementar as seções com bases, equipamentos, redes e cabos elétricos. A cerda de 3,5km da Ufem encontra-se a Área Norte da Base Naval, que, entre outras funções, realiza o controle do acesso a Área Sul, onde são realizadas as etapas de união das seções, integração e testes de sistemas, acabamento, lançamento ao mar, provas de cais, provas de mar, operação e manutenção dos submarinos.
As sessões dos submarinos serão transportadas da Ufem para a Área Norte por estrada e, entre as áreas Norte e Sul, através de um túnel de 703m de extensão, até o prédio principal do Estaleiro de Construção.
O projeto e a construção dos quatro submarinos convencionais brasileiros tem como base a classe Scorpène, francesa. Na construção do submarino com propulsão nuclear brasileiro foi realizada transferência de tecnologia, para a parte não nuclear, de projeto e construção de submarinos, de acordo com os métodos e processos franceses, o que permitiu a preparação de um corpo técnico de projeto formado por engenheiros projetistas e operários nacionais. Para o projeto e construção da planta de propulsão nuclear não há assessoria. O desenvolvimento é realizado, exclusivamente, pela Marinha do Brasil, em São Paulo.
A responsabilidade social e do meio ambiente são também cuidados pela Marinha junto à comunidade local, através do Programa Acreditar, que oferece treinamento e emprego aos habitantes locais; do programa Caia na Rede, que oferece cursos de inclusão digital à população local; e do programa familiar Alimento Justo, que incentiva e assessora os produtores locais para serem fornecedores de produção agrícola para o empreendimento, sem esquecer dos mais rígidos controles de impactos sobre o meio ambiente.
Trata-se, assim, de um programa de cunho nacional, não apenas militar, cujo objetivo é maior que o de independência tecnológica, mas de desenvolvimento social.
* Presidente da Academia Nacional de Engenharia