Ex-presidente foi visitado pelo teólogo um dia antes de prestar depoimento como testemunha de defesa de Sérgio Cabral.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atribuiu a uma “traição da elite brasileira” sua prisão, considerando-a um evento tramado para tirá-lo das eleições presidenciais deste ano.
A avaliação foi transmitida por Lula ao teólogo Frei Betto, que visitou o ex-presidente na sede da Polícia Federal de Curitiba nesta segunda-feira (4).
“Ele me disse: ‘tudo isso é porque não me querem presidente do Brasil. Essa elite que tanto me apoiou e tanto me bajulou, inclusive depois que saí com 87% de aprovação'”, contou o religioso.
“Durante os governos Dilma, essa elite ia lá no Instituto Lula me bajular, fazer pedidos, dizer que nosso governo tinha sido fantástico”, disse o ex-presidente, segundo Betto. “Essa mesma elite hoje quer o desmonte do Estado brasileiro e tem horror à inclusão dos excluídos brasileiros. Daí se opõem a um candidato do PT”, completou.
Lula reafirmou ao religioso sua disposição de ser candidato a presidente. “Ele deixou claro: não tem nenhuma razão para deixar de ser candidato. Se a Justiça Eleitoral quiser impedi-lo, ela que mova esse impedimento e prove a razão. Ele diz que não tem como justificar um possível impedimento de sua candidatura”, relatou.
“Ele [Lula] sabe que está preso para que evitem que seja candidato a presidente, na medida em que as pesquisas apontam que ele sozinho tem mais que a soma dos pontos de seus concorrentes”, prosseguiu Betto.
O teólogo confirmou que Lula se exercita diariamente e está bem disposto. “Ele tem uma esteira para fazer exercícios e pequenos aparelhos para musculação. Ele caminha também durante duas horas num pátio reservado para o banho de sol. Esse exercício diário lhe deixa com muita disposição”, disse.
De olho na campanha presidencial, Lula mantém-se informado sobre tudo o que acontece no Brasil. “Ele recebe todas as manhãs um clipping com notícias dos principais jornais, blogs e agências internacionais. Então ele se informa muito bem a respeito da conjuntura nacional e internacional”, afirmou Frei Beto.
Lula tem uma televisão na cela e acompanha os noticiários das TVs abertas. “Ele me disse que prefere a TV Aparecida, porque gosta da missa das seis da tarde e da música sertaneja”, relatou Frei Beto.
Depoimento
Nesta terça-feira (5), Lula prestou depoimento por videoconferência como testemunha de defesa do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral na ação penal que apura denúncia de pagamento de propina a membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para que o Rio fosse escolhido cidade sede dos jogos. Lula rechaçou que tenha havido “esquema” à ocasião.
“Eu não sei qual o critério do cidadão que diz que foi trapaça. Esse cidadão não deve saber nada. O ambiente no COI era de muita seriedade”, declarou Lula.
“Lamento que venha uma denúncia de corrupção de compra de delegado [do COI] oito anos depois. Não sei quem fez a denúncia, não quero saber. Estamos vivendo num momento de denuncismo”, disse o ex-presidente. “O meu compromisso é com a verdade. Não acredito que hoje no Brasil tenha um brasileiro que anda em busca da verdade mais do que eu. Estou cansado de mentiras e quero a verdade”, completou.
O ex-presidente demonstrou bom humor antes de iniciar seu depoimento ao comparecer usando a mesma gravata verde, azul e amarela que usou na cerimônia que anunciou a realização das Olimpíadas no Brasil. “Estou bonito hein. Essa gravata é da conquista das Olimpíadas. Carrego ela até desbotar”, brincou.