por: Pedro Amaral

Não vou me aventurar pelas filigranas jurídicas. Para além da intuição que todos temos do que é o direito, pouco estudei essa matéria, e ainda assim passando ao largo do Processo Penal. Isso, claro, não fará falta: a desconstrução da pífia peça condenatória endossada hoje pelo TRF4 já foi feita e bem feita pela competente defesa do ex-presidente e por mestres dessa seara como o prof. Afrânio Silva Jardim. Cerceamento da defesa, inversão do ônus da prova, ausência da caracterização dos crimes imputados (inexistência, por exemplo, da comprovação de benefício material advindo de um suposto crime econômico!)… tudo isso está registrado e exposto.

Arrisco-me, então, pela política, e quero dizer aos amigos que o 3×0 lavrado hoje acendeu em mim uma ponta de esperança.

Explico.

Se o processo que levou à condenação do ex-presidente tivesse sido manifestamente limpo, respeitável, com aparência de equilíbrio – sem, por exemplo, as patacoadas de Moro (juiz de piso-dublê de promotor), as estultices dos dallagnóis e o exibicionismo de meganhas federais –, o campo da centro-esquerda fatalmente acusaria o golpe (eu disse golpe?), perdendo, ao menos para efeitos da disputa eleitoral iminente, seu principal cabo eleitoral e candidato mais viável. Se o processo primasse pela respeitabilidade que deveria havê-lo caracterizado e o resultado fosse a absolvição de Lula, teríamos, creio, uma espécie de “sanitização” do ex-presidente, que sairia dessa mais estimulado a tentar re-editar o pacto de classes que caracterizou seu governo, noutra quadra da nossa História. Afinal de contas, as instituições estariam dando mostras de funcionar. Seria, pois, a aposta renovada na conciliação, com chances exíguas de sucesso.

Do modo como a coisa se deu, a saber, como um julgamento político com ares de farsa burlesca, o campo da centro-esquerda, fustigado pela perseguição a Lula, é impelido a se mobilizar e se articular, agora sem ilusões (aliás, por quantos anos buscamos no Judiciário a reversão de nossas frustrações políticas?). Ilusões, inclusive, no que diz respeito à perspectiva de ganhos de setores da esquerda em cima do flagelo de outros.

Entre o esquerdismo combativo, voluntarioso, mas incapaz de traçar uma perspectiva de poder, e a esquerda-light predisposta a ceder em nome da “governabilidade”, haveremos de gestar uma alternativa, sem demora.

O momento é interessantíssimo.