Avanço nacionalista previsto deu lugar a esquerda renascida e centro fortalecido
por: Guga Chacra
Não houve uma onda de extrema-direita na Europa Ocidental como se previa alguns poucos meses atrás. Partidos e líderes de agremiações nacionalistas tiveram desempenho abaixo do esperado e ficaram distantes do poder. Ao mesmo tempo, ocorre um renascimento da esquerda em algumas nações europeias. O centro, por sua vez, se fortaleceu depois de ser dado como morto em 2016.
O caso mais óbvio do fracasso da extrema-direita ocorreu no Reino Unido. O Ukip, partido nacionalista que esteve na linha de frente da defesa do Brexit, não tem mais nenhum representante no Parlamento. A votação do partido em todo o país foi de 594 mil votos, ou 1,8% do total. Em 2015, o Ukip havia obtido 3,9 milhões de votos (12,6%), conseguindo uma cadeira. Basicamente, a extrema-direita britânica derreteu e não existe mais.
O Partido Trabalhista, que era de centro nos tempos de Tony Blair, Gordon Brown e na última eleição com Ed Miliband, deu uma guinada para a esquerda com Jeremy Corbyn, seu atual líder. As previsões iniciais diziam que o partido seria um fiasco ao adotar uma agenda esquerdista que os trabalhistas tinham abandonado nos anos 1990. No fim, Corbyn e os trabalhistas surpreenderam. Obtiveram 3,5 milhões de votos a mais do que em 2015 (de 9,3 milhões para 12,8 milhões), subindo de 27% para 40% do total. O número de cadeiras no Parlamento foi de 232 para 262. São minoria, mas cresceram. Os conservadores (centro-direita) mantiveram a maior pluralidade, embora sem maioria.
Na França, Marine Le Pen foi ao segundo turno presidencial. Neste sentido, pode-se considerar um avanço em relação a 2012. Mas a expectativa dela e de seus seguidores no final do ano passado e começo deste era a de vencer ou de perder por pouco. No fim, a candidata da extrema-direita foi massacrada pelo centrista e jovem Emmanuel Macron na proporção de dois para um (66% a 34%). Nas eleições parlamentares, sem dúvida, o partido nacionalista Frente Nacional aumentou de tamanho. Foi de duas para oito cadeiras. Uma melhora, mas segue medíocre quando comparado ao República Em Marcha, de Macron, que, com pouco mais de um ano de existência, conquistou 350 cadeiras e terá maioria parlamentar.
Já a extrema-esquerda francesa cresceu bem acima do esperado. Juntos, os partidos França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, e o Partido Comunista Francês foram mais votados do que a Frente Nacional e terão um bloco de 27 cadeiras na Assembleia Nacional francesa — mais do que o triplo da extrema-direita. Verdade, o Partido Socialista, de centro-esquerda, naufragou e seus votos migraram para o centrista Macron ou para a extrema-esquerda. Os Republicanos, de centro-direita, também se enfraqueceram, apesar de se manterem como principal força da oposição.
Os holandeses de extrema-direita do Partido da Liberdade, de Geert Wilders, foram outro fiasco. Tiveram somente 13% dos votos, ficando distantes da pluralidade que previam conquistar. Este patamar foi inferior ao desempenho da extrema-direita holandesa em algumas eleições no passado, indicando que este movimento tem uma base sólida, mas esta praticamente não cresceu. Não houve uma “onda” de extrema-direita. Chama a atenção, por outro lado, como a Esquerda Verde, do jovem Jesse Klaver, surgiu quase do nada, tendo performance forte nas grandes cidades como Amsterdã e Roterdã. Ainda assim, seguem pequenos no restante do país.
A extrema-direita austríaca foi mais longe. Norbert Hofer, o candidato desta vertente, alcançou 46,2% dos votos na eleição presidencial. Sem dúvida, uma performance fortíssima. Mas ele não foi derrotado por um partido do establishment. O vencedor foi o esquerdista do Partido Verde Alexander Van der Bellen. Os alemães, por sua vez, nas eleições parlamentares deste ano, escolherão entre os democrata-cristãos de Angela Merkel (centro-direita) e seus rivais social-democratas, de centro esquerda. A Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita, talvez sequer consiga cadeiras no Parlamento. A onda de extrema-direita está forte somente em países do Leste Europeu como Macedônia, Hungria e Polônia, e também tem avançado em algumas nações menores ocidentais, como a Dinamarca e a Suíça. Por outro lado, praticamente inexiste na Espanha e Portugal. Aliás, os portugueses, assim como os gregos, são governados pela esquerda.
A euforia de alguns e o medo de outros com a onda da extrema-direita, ao menos na Europa Ocidental, por enquanto, não se confirmou nas urnas.