por: Sérgio Sérvulo

            Depois de propor um exercício, quero contar uma fábula.

            Aceitando a sugestão do seu mais renomado cientista, um país decidiu construir uma máquina, que seria capaz de resolver todos os problemas sociais, e de assegurar a paz e a prosperidade. A única condição para a construção dessa máquina era a  participação de todos.

            Todos, de fato, segundo a respectiva condição, puseram-se a construí-la, e depois de algum tempo a tinham pronta; mas, quando ligada, a máquina tossiu, expeliu fumaça, mas não funcionou. A expectativa era tão grande que, mais do que tristes as pessoas ficaram desesperadas, e algumas, mesmo, em pânico. Foi quando veio, de alguém, a ideia de suplicarem a Deus que, na sua infinita misericórdia, salvasse o país, fazendo funcionar a máquina.

            Pronto, a fábula termina aqui.

            Lembrei-me dela ao ter presente um vídeo em que a escritora Adélia Prado, falando a uma imensa audiência, propôs que todos fizessem uma oração, pedindo a Deus pelo Brasil. E, de fato, rezaram o “Pai nosso”.

            Foi uma cerimônia comovente. É mesmo útil, e necessário, contarmos com o auxílio divino em todas as circunstâncias da nossa vida. E salutar quando rezamos uma oração cuja primeira lição é mostrar a nossa unidade. Porque esse Pai, sendo de cada um em particular, acima de tudo é nosso.

            Mas não pude deixar de lembrar de uma passagem do evangelho em que alguém, da multidão, pede a Jesus: mestre, diz a meu irmão que me dê minha parte da herança. E Jesus responde: “homem, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vocês?” (Lc 12,13).

            Deus é sem dúvida misericordioso, e perdoa a Israel suas constantes traições. Mas é a nós, não a Ele, que compete contruir essa máquina, que deixa de funcionar porque, possivelmente, não pusemos em sua construção o necessário cuidado e seriedade. Lembro do meu amigo Alexandre Germano, poeta da gema, que dizia: “A vida é uma arte. Deus faz o melhor, mas não faz a minha parte”. Lembro do poeta menor, que diz: “Deus não é um seguro contra o infortúnio”. E lembro finalmente de minha mãe que, boa em provérbios, repetia: “quem semeia ventos colhe tempestades”.