Estamos vivendo no Brasil uma escalada autoritária. Depois do fechamento do Instituto Lula não há absolutamente nenhuma dúvida. A decisão é um atentado contra o direito de associação, o direito de reunião, o direito de opinião, ao pluralismo e com um conteúdo nitidamente persecutório ao ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva.
A sucessão de eventos confirma essa escalada. O ataque dos fazendeiros a trabalhadores rurais indefesos no Mato Grosso, a investida barbara brutal de fazendeiros e seus capangas ao índios gamelas, decepando quase as duas mãos de um dos índios e dezenas de indígenas feridos. O capitão da PM em Goiânia, durante as manifestações da greve geral, quebrou o seu cassetete na cabeça desse estudante o enviando à UTI, onde ficou quase duas semanas.
O mesmo aconteceu no Rio de Janeiro, que a pretexto de reprimir as ações dos black blocs resolveram reprimir manifestações absolutamente pacíficas nessa greve geral. A proibição de realização de reunião na cidade de Curitiba e o desfile grotesco, com ares de um filme de Fellini sobre o fascismo, de dezenas de policias correndo com seus cachorros num cântico totalmente inadequado à nossa República.
Por outro lado no Congresso vemos projetos absurdos como praticamente a volta à escravidão, ao colonato com a eliminação de pagamento aos trabalhadores rurais. Uma CPI sobre os indígenas coordenadas pelos donos de terra, pela bancada do boi, resolvendo indiciar antropólogos. É a primeira vez na democracia que isso ocorre. Indígenas, religiosos, sem atingir nenhum proprietário rural. Por outro lado se desconstrói a democracia e a constitucionalidade de 1988, querendo se desdemarcar terras indígenas, por abaixo o estatuto do desarmamento responsável por uma queda notável de homicídios.
É absolutamente necessário diante de todas essas manifestações de desconstrução da constitucionalidade de 88 e da democracia que todos nós acimas dos partidos, acima das divergências quebremos o nosso silêncio e protestemos contra essa escalada. Se nós ficarmos quietos e calados, nós todos seremos igualmente atingidos.
Está na hora de nos organizarmos, de resistir, de nos manifestarmos. É isso aí!
*Paulo Sérgio Pinheiro é presidente desde 2011 da Comissão de Investigação da ONU sobre a Síria. Foi ministro-chefe da Secretaria de Estado de Direitos Humanos (governo FHC).
Fonte: Nocaute