por: Roberto Requião
Os métodos de mistificação do governo Temer atingiram alturas infinitas no que se relaciona com a infame reforma previdenciária. Não é possível mais contestar com racionalidade os desvarios do ministro Henrique Meirelles em seus esforços de empurrar goela abaixo do Congresso Nacional e da sociedade brasileira uma iniciativa repelida, com absoluta razão, por todo o povo brasileiro. Por ele já não fala mais a razão, mas a mentira descarada. Já não há cuidado em confundir dados, mas em simplesmente distorcê-los e inventá-los.
No último dia 10, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, disse solenemente Meirelles: “Não vou entrar em detalhes, mas quanto mais generosa e mais cara é a Previdência maior é a taxa de juros estrutural da economia”. Isso é a mais absoluta bestialidade jamais pronunciada por alguém com cargo de ministro no Brasil, e talvez no mundo. Relacionar a Previdência com a taxa extravagante de juros que os bancos servidos por Meirelles usufruem na economia do país é a mais extravagante mistificação.
Quando tomei conhecimento dessa declaração absurda, pensei comigo mesmo: onde estamos e para onde vamos? Se um ministro fala o que falou, tudo é permitido em termos de manipulação da opinião pública. Mesmo porque, me perdoem se estou errado, não vi um único representante da grande mídia, um grande jornal e ou uma televisão, que considerasse estranha relação entre Previdência e juros. Todos engoliram o que Meirelles falou sem qualquer questionamento, como se fosse a verdade eterna.
No entanto, estamos diante do maior dos absurdos, de um acinte contra a sociedade brasileira. Por outro lado, devemos entender que o despudorado governo Temer precisa achar desculpas para a taxa de juros de agiotagem com que premia o sistema bancário brasileiro, cujos representantes estão sentados nas cadeiras de Ministro da Fazenda e de presidente do Banco Central. Como desculpar essas taxas de juros absurdas, as maiores do mundo, a não ser encontrando algum culpado, mesmo que falso? Sim, a culpa dos juros, para Meirelles e Temer, é da “excessivamente generosa” Previdência Social do país.
Basta. Ou Temer se livra desse ministro enganador e falso, que despe sua desfaçatez na frente de toda a sociedade brasileira, ou teremos que buscar caminhos para fixar novos destinos para a cidadania brasileira. Não é possível suportar tanta incompetência e tanta arrogância. A crise fiscal brasileira não é uma crise do Brasil, mas uma crise da estupidez do Governo que destrói a capacidade produtiva do país na tentativa frustrada de equilibrar o orçamento, gerando recorrentemente menos receita fiscal e, em seguida, cortando mais direitos e investimentos sociais, fazendo a economia e a arrecadação voltar a cair e colocando a Nação em um ciclo vicioso pérfido.
Se este Governo fosse confiável, se não estivesse a serviço exclusivamente da banca e do capital estrangeiro, seria possível reunir rapidamente um grupo de economistas que traçasse um plano de recuperação para a economia, fora das trilhas imbecis da “Ponte para o Futuro”.
Isso não é nada difícil, há várias experiências exitosas no mundo, inclusive no Brasil em 2009 e 2010. Infelizmente não é possível, já que os recursos eventualmente levantados para serem aplicados num programa de retomada seriam consumidos na voragem dos juros extorsivos praticados no país. Aparentemente, não temos saídas normais. Aqueles que gritam nas ruas e nos auditórios fora Temer tem razão.
Conclamo meus pares, aqueles que, diferentemente de Temer e Meirelles, tem que dar satisfação de seus atos ao eleitorado, que joguem a reforma da Previdência no lugar que ela merece, ou seja, a lata de lixo. Que não temam as ameaças de Meirelles de que, se ela não for aprovada, o país quebra. De fato, nos termos da política de Meirelles e de Temer, o país já quebrou. São três anos sucessivos de contração, fato inédito no Brasil e no mundo, e uma taxa de desemprego sem precedentes. Assim, só nos resta juntar forças para viabilizar a retomada com um governo que venha a suceder ao atual.