por: Carlos de Assis
O mais poderoso motor de retomada da economia brasileira comunicado ao país nesta semana está na revista “Veja”. Sua atual edição vem dedicada a demonstrar à sociedade que a crise econômica acabou. Não é preciso ler para conferir. Como Cândido, de Voltaire, “Veja” descobriu que estamos no melhor dos mundos. Seus argumentos são pífios e parciais. Tecnicamente não significam nada. Assim mesmo insistem na técnica nazista de repetir uma mentira tantas vezes, e com tanta ênfase, que se espera venham a convencer.
O motor de crescimento de “Veja” tem um problema: ele não funciona. Está simplesmente engastado. E não há como consertá-lo a não ser mudando de mecânico. Os indicadores selecionados pela revista para concluir que começou a retomada são irrelevantes. Para a sociedade só há dois indicadores estatísticos que revelam as tendências essenciais da economia: o crescimento ou contração do PIB e a taxa de desemprego. Ambos vão de mal a pior. E não há nenhuma indicação de que revertam a curto e médio prazo.
Em termos prospectivos, há outro indicador que assinala as tendências de médio e longo prazo da economia: a taxa de crescimento do investimento, seja público, seja privado. Na situação em que estamos não há uma coisa nem outra. O investimentos público – por exemplo, o da Petrobrás – está estagnado desde que a Lava Jato resolveu transformar o Brasil num país incorruptível, porém pobre. Já o investimento privado desabou. Um investidor privado que destina seu dinheiro a expandir a produção sem demanda é um idiota.
Estamos numa armadilha político-econômica de proporções catastróficas. A maior parte dessa tragédia se deve a ação insistente de órgãos da grande imprensa como “Veja” no seu empenho em desconstruir as bases estruturais da economia brasileira. Do meu ponto de vista, nada foi mais destrutivo que o ataque à Engenharia Nacional, que foi historicamente – corrupção à parte – o maior instrumento de desenvolvimento da economia brasileira em termos de geração de emprego, de tecnologia nacional e de expansão do mercado.
No momento, estamos inteiramente desarmados enquanto economia nacional. Não é difícil reconhecer as manobras do Governo Temer no sentido de reduzir o espaço do setor público e do setor nacional, em todas as áreas, a fim de abrir espaço para o capital financeiro e as empresas de serviço (previdência, saúde) do exterior. O setor da Engenharia Nacional, como observado antes, está virtualmente destruído. A única coisa que nos resta é o agronegócio, com pífia geração de emprego, baixos salários e altíssima concentração de renda.
É esse espólio miserável que “Veja” aponta como em fase inicial de retomada do crescimento. Se fosse um problema de bom entendimento, seria o caso de contestar a racionalidade das análises. Entretanto, não é problema de entendimento. É uma questão de poder. O que está em jogo é a distribuição de renda da sociedade, a partir do esmagamento dos salários em favor de “investidores” especulativos estrangeiros. Em essência, trata-se de extrair o máximo de mais valia do trabalhador e do Estado para entupir os ricos de dinheiro.
Em meados dos anos 70, quando a economia dos EUA oscilava entre baixo crescimento e estagnação, os governos recorriam a estímulos verbais para tentar empurrar a retomada. É claro que isso nunca funcionou. Aqui também não tem como funcionar, a despeito dos esforços de “Veja”. A economia é um jogo de interesses. Do lado privado, só investe quem tem perspectiva de ganhar dinheiro. Já, de seu lado, o Estado está sendo contraído supostamente em favor do privado. É claro que isso não tem como dar crescimento.