Em novembro, o acusado Eduardo Cunha fez 41 perguntas a Michel Temer, sua testemunha de defesa nos processos de Curitiba. O juiz Sergio Moro censurou metade do questionário. Afirmou que oito indagações não tinham “pertinência” e outras 13 eram “inapropriadas”.
Cunha e Temer são velhos aliados, e as perguntas vetadas por Moro forneciam um bom roteiro para a Lava Jato. Numa delas, o correntista suíço queria saber: “O sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de vossa excelência ou do PMDB?”
Em dezembro, Yunes foi acusado por um delator da Odebrecht de receber dinheiro em espécie para Temer. Ele se disse indignado e deixou o cargo de assessor do presidente.
Nesta sexta (10), Moro recusou um pedido para soltar Cunha. Na decisão, voltou a reclamar das perguntas a Temer. Disse que tinham como objetivo “constranger o exmo. sr. presidente da República e provavelmente buscavam com isso provocar alguma espécie de intervenção indevida da parte dele”. Faltou explicar que tipo de intervenção estaria ao alcance presidencial.
De acordo com Moro, Cunha recorre a “extorsão, ameaça e intimidações” para tentar escapar da lei. Os métodos do ex-deputado são conhecidos, mas o juiz deveria parecer mais interessado no que ele tem a revelar. A tarefa de evitar constrangimentos a Temer pode ser deixada para os advogados do presidente.
Lula teve um surto autoritário em 2004, quando tentou expulsar um correspondente estrangeiro do país. Recuou graças a um conselheiro que ocupava o Ministério da Justiça.
Temer teve dois surtos autoritários na semana passada, quando restringiu a circulação de jornalistas no Planalto e pediu a censura de uma reportagem da Folha. O presidente não tem ministro da Justiça e seus outros conselheiros estão ocupados, tentando fugir da Lava Jato.
por Bernardo Mello Franco (Folha de S. Paulo)