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Jornal GGN – Na contramão dos argumentos de que acordos de delação premiada são feitos de maneira espontânea na Lava Jato, a Folha de S. Paulo noticiou, nesta segunda (10), que a força-tarefa ameaçou não firmar acordo de delação premiada com redução de pena e regime domiciliar caso Marcelo Odebrecht não aceitasse contribuir da maneira imposta pelos procuradores.

A reportagem, que taxa o modo como Marcelo tentou se defender da série de acusações feitas pela Lava Jato como “resistência” em cooperar, aponta que ele está “melancólico” após ser forçado a admitir participação direta em crimes que ele negou ter cometido.

Chama atenção o parágrafo em que a Folha condiciona a confissão de Odebrecht ao medo de perder o acordo de delação premiada porque os procuradores não estavam satisfeitos com o que ele disse. “(…) ante a possibilidade de ver enterrada a colaboração premiada, acabou admitindo participação direta nos delitos, o que levou procuradores do Ministério Público Federal a comemorar o desfecho dos depoimentos.”

A Folha não precisou a data em que Marcelo aceitou entregar o que a Lava Jato quer, mas sinalizou que ocorreu em setembro. Outro trecho de destaque é o que diz que o empresário deve delatar o favorecimento a Odebrecht pelo ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci, alvos da Polícia Federal naquele mesmo mês.

Mantega foi objeto de pedido de prisão temporária que foi revogado no mesmo dia por Sergio Moro após repercussão negativa do caso (ele estava no hospital em que sua mulher, com câncer, iria ser operada, no momento em que a Polícia Federal foi executar a ordem). Já Palocci foi preso às vésperas do primeiro turno da eleição municipal, que ocorreu em 2 de outubro.

Segundo o jornal, foi só na semana passada – ou seja, depois da eleição e da prisão de Palocci – que a Lava Jato bateu o martelo nos termos da delação de Marcelo Odebrecht, incluindo um capítulo sobre os ex-ministros.

Palocci é acusado de receber propina para favorecer Odebrecht em medidas adotadas pelo governo Lula. Sua prisão temporária foi transformada em preventiva porque a PF não encontrou as provas que precisa para provar a transação criminosa.

A delação de Odebrecht, portanto, daria mais credibilidade à acusação da Lava Jato contra Palocci e Mantega.

Ainda de acordo com a Folha, Marcelo Odebrecht aceitou os termos impostos pelos procuradores porque, após meses de negociação, ainda não havia previsão de quando a delação seria encaminhada ao Supremo Tribunal Federal e quando ele chegaria, enfim, o regime domiciliar – como ocorreu com vários outros delatores.

“Já condenado na Lava Jato, ele comentou na reunião que um dos advogados da empresa havia dito que estava negociando com a força-tarefa para que ele saísse da prisão em três meses. Os procuradores negaram a possibilidade (…) e então sinalizaram que aquela conduta poderia levar a delação a naufragar. Passaram a dizer que Marcelo Odebrecht não estava contribuindo da maneira como esperavam. (…) O empresário, então, passou a discutir com os defensores da própria empreiteira, gerando grande constrangimento. (…) Quando a entrevista foi retomada, Odebrecht disse aos procuradores que havia pensado no futuro de sua família e iria cooperar, revelando como havia atuado nos crimes. (…) Ao final, a força-tarefa considerou o conteúdo dos relatos de Odebrecht um grande feito para a Lava Jato. O empresário, porém, voltou deprimido para a carceragem.”

Agora, a previsão é de que a delação chegue ao Supremo em dois meses e meio.