por: Bernardo Mello Franco
BRASÍLIA – Na primeira entrevista como presidente efetivo, no lobby de um hotel de Hangzhou, Michel Temer foi questionado sobre as manifestações que começavam a pipocar contra seu governo. “As 40 pessoas que quebram carro?”, ele desdenhou.
Refestelado numa confortável poltrona de couro, o presidente classificou os protestos como “inexpressivos”. “Foram grupos pequenos e depredadores, né?
Não foi uma manifestação democrática”, menosprezou.
“São 40, 50, 100 pessoas, nada mais do que isso. No conjunto de 204 milhões de brasileiros, acho que isso é inexpressivo”, disse.
Os repórteres enviados à China repetiram a pergunta a José Serra.
“Manifestações aonde?”, debochou o ministro.
Ao ser lembrado de que o governo começava a ser alvo de protestos em várias cidades brasileiras, ele voltou a esnobar os atos.
“Míni, míni, míni, míni, míni, míni”, disse.
Ao jornal “El País”, Serra arriscou uma conta parecida com a do chefe.
“São muito pequenas, quase nada. Cinquenta, cem pessoas”.
No dia seguinte às declarações, cerca de 100 mil pessoas marcharam em São Paulo contra o governo.
Assessores de Temer reconheceram que ele errou ao depreciar os protestos.
Para eles, o presidente passou imagem de soberba e ajudou a inflamar quem estava insatisfeito.
Subestimar a rua não é uma boa tática para governantes impopulares.
Em 1992, Fernando Collor chamou a oposição de “minoria que atrapalha” e instou o povo a se vestir de verde e amarelo para defendê-lo.
Uma multidão preferiu sair de preto, com os resultados conhecidos.
Nesta quarta (7), Temer foi alvo de vaias e gritos de “Fora” no desfile militar em Brasília.
Protegidos por um forte esquema de segurança, seus ministros voltaram a zombar dos manifestantes.
“Que protesto? Quinze pessoas?”, perguntou Geddel Vieira Lima.
“Não havia mais de 18”, provocou Eliseu Padilha.
À noite, o presidente ouviria outra vaia no Maracanã. E não foi míni.