por: Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA – “É ouro, é recorde, é militar!” Parece aquele locutor famoso pelo ufanismo, mas é o site do Ministério da Defesa comemorando uma medalha na Rio-2016.

Nos últimos dias, o portal trocou as imagens de tanques e aviões por fotos de atletas premiados na Olimpíada.

As notícias exaltam as vitórias brasileiras como se fossem feitos militares.

“Forças Armadas conquistam quarta medalha para o Brasil”, diz a manchete sobre o judoca Rafael Silva. “Sargento da Marinha vence final de boxe”, informa o título sobre Robson Conceição.

Arthur Zanetti

Arthur Zanetti

Quem vê nossos campeões prestando continência no pódio pode pensar que os quartéis estão transformando o Brasil numa potência esportiva. Não é bem assim. Na verdade, as Forças Armadas apadrinharam civis que já se destacavam em suas modalidades.

Os escolhidos viram militares temporários em troca de benefícios como salário de terceiro-sargento e assistência médica.

Um dos idealizadores do programa, lançado no governo Lula, conta que ele nasceu como um típico “jeitinho brasileiro”.

Os oficiais queriam evitar um fiasco esportivo em 2011, quando o Rio receberia os Jogos Mundiais Militares.

No torneio de 2007, o Brasil ficou em 33º lugar, com apenas três medalhas.

Quatro anos depois, saltou para a liderança com 114, sendo 45 de ouro.

Para os autores do truque, ninguém precisava saber que os nossos heróis eram civis que tinham acabado de aprender a marchar.

É positivo que as Forças Armadas ajudem a manter atletas de ponta, mesmo que o objetivo mais evidente seja fazer propaganda.

O ministro Raul Jungmann, que não perde uma chance de aparecer, já convocou entrevista para faturar os resultados.

O ponto negativo da história é que nossos campeões precisem vestir fardas por um patrocínio tão modesto.

O soldo dos sargentos olímpicos é de R$ 3.200 brutos.

Os deputados recebem R$ 4.253 só em auxílio-moradia, sem descontos.