por: Miguel do Rosário
Na Folha de hoje (07/08/2016), mais uma delação futurística da Lava Jato.
Segundo a reportagem, os executivos da Odebrecht disseram aos procuradores que José Serra recebeu R$ 23 milhões de caixa 2.
A delação ainda não foi assinada, mas já foi devidamente vazada à imprensa, como de praxe.
Há tempos que a Lava Jato vaza as delações antes mesmo delas existirem oficialmente.
Pela lei da delação premiada, tanto aqui como nos Estados Unidos, o vazamento deveria ser suficiente para anulá-la, até porque permite que o réu destrua provas, mas isso não vem ao caso, pois o objetivo principal é o tribunal da mídia.
José Serra é um tucano velho e decadente: um cordeiro gordo perfeito para um sacrificiozinho político temporário.
A matéria vem com infográficos, coisa rara em se tratando de material negativo aos tucanos.
Os executivos prometeram entregar recibos dos depósitos feitos em bancos no exterior. A ver.
Quando disputou as eleições em 2010, o Congresso em Foco apurou que o tucano era o recordista, entre os candidatos, de processos na justiça: tinha 17 processos, todos por improbidade administrativa.
Mais um menos um. Que diferença faz?
O que me deixa intrigado, com a Lava Jato e com a mídia, porém, é o seguinte.
Precisava quase destruir a Odebrecht e todas as grandes da engenharia nacional, prender o Marcelo por mais de um ano (e condená-lo a 19 anos de regime fechado), provocar demissão de centenas de milhares de famílias, criar um clima de golpe de estado, para descobrir que José Serra fez caixa 2 em 2010?
O Amaury Ribeiro escreveu um livro, Privataria Tucana, onde não quebrou sigilo de ninguém, não torturou ninguém com prisão preventiva, não destruiu nenhuma empresa, nem prejudicou um único trabalhador, não gastou um centavo de verba pública, e, no entanto, descobriu muito mais podres sobre Serra do que a Lava Jato!
A Folha e a grande mídia em geral desprezaram o conteúdo apresentado no livro do Amaury, apesar dele trazer provas abundantes de tudo que dizia, e agora dão destaque, com direito a infográfico, a uma delação ainda não assinada, que não traz, por enquanto, prova nenhuma?
Casos que interessam aos procuradores…
A Lava Jato está na fase “pega tucano”, ou seja, naquele momento em que disfarça suas intenções.
Algumas reportagens-denúncias sobre o PSDB, nada que provoque grandes reviravoltas…
Afinal, algum tesoureiro tucano foi preso?
A sede do PSDB foi invadida pela Polícia Federal?
Esse dinheiro de campanha era para pagar marketeiros: algum foi preso?
A filha de Serra também será perseguida pela Lava Jato?
Voltando ao livro do Amaury, o leitor, a mídia e os procuradores descobrirão que a fortuna da família Serra não é feita de canoas de alumínio num sítio de amigo.
A minha teoria sobre o golpe, é bom lembrar, para eu mesmo não me perder nessa rede de intrigas e conspirações, é que ele foi costurado pelas castas burocráticas e mídia.
Os políticos aproveitaram o vácuo criado e o ocuparam.
Mas o golpe foi feito para isso mesmo, para que exatamente esses mesmos políticos ocupassem o vácuo.
O MPF e as castas em geral, fazem questão de manter os políticos bem conscientes de que eles, mesmo tendo ocupado o vácuo, são apenas representantes dos interesses das castas, da mídia e dos patrocinadores da mídia.
O poder real está em mãos das castas judiciais e da mídia, cuja arma principal agora é a Lava Jato, que é uma espécie de ensaio de Estado de Exceção, uma “pausa democrática”, um cão raivoso vigiado de perto por seus donos.
Há um embate surdo dentro do golpe.
As gravações de Sergio Machado revelaram isso muito bem. Os políticos que assumiram o Planalto conspiram agora para ampliarem sua autonomia.
O “barbarismo”, o radicalismo neoliberal, que vemos no governo Temer, é tão grande porque são as únicas ações que agradam à grande mídia e aos representantes do setor privado que também conspiraram pelo golpe.
Os interinos tentam, desesperadamente, agradar aos patrocinadores do golpe visando ganhar um pouco de crédito e autonomia para brincarem de governo.
Aparentemente, a Lava Jato finge seguir o moralismo fanático descrito na máxima latina fiat iustitia pereat mundus.
Faça-se justiça ainda que o mundo pereça.
Mas é mentira.
Quer dizer, no que toca à economia brasileira e à democracia, é verdade, e com apoio da mídia. Miriam Leitão escrevia nas suas colunas: não importa o prejuízo a ser provocado na economia, a Lava Jato tinha de seguir em frente.
Claro, havia um cálculo: uma economia em dificuldades era condição fundamental para se criar a atmosfera de golpe.
O fanatismo moral da Lava Jato, porém, sempre foi uma máscara.
Quando, numa das fases da Lava Jato, as investigações se aproximaram de uma offshore usada pela Globo e outros grupos para fazerem seus negócios no Brasil, Sergio Moro e a força tarefa recuaram imediatamente, soltaram os detidos e voltaram aos pedalinhos de Lula.
O jogo é simples. Vou repetir alguns argumentos do post anterior. A votação final do impeachment se aproxima. Caso a insatisfação social com Temer e a rejeição ao impeachment cresçam além do controle, a Lava Jato precisará lançar alguns factoides especialmente fortes nas duas próximas semanas.
Ou seja, a Lava Jato terá que prender, naquele método da prisão preventiva perpétua, às vésperas da votação, alguns petistas graúdos: um Edinho Silva, por exemplo, seria uma vítima perfeita, porque geraria a manchete: tesoureiro da campanha de Dilma é preso.
Pronto: clima de intimidação, perplexidade, golpe. Os senadores indecisos ficam assustados, porque farejam no ar o clima de linchamento midiático ao PT e intuem que, senão aderirem à onda, serão eles mesmos agredidos.
A prisão de Lula pode ficar para depois do golpe consumado, caso haja clima… Agora já se criaram duas frentes promissoras de ataque: a própria Lava Jato e o MPF do Distrito Federal.
A Lava Jato precisa, contudo, fazer um movimento calculado.
Antes de encetar novo violento ataque ao PT, é de bom tom distribuir uma denúncia forte contra um tucano. É como comprar créditos.
Denuncia-se um tucano, nada mortal, como movimento preparatório para mais um grande ataque judicial-midiático ao PT.
A Globo, vê-se logo, por seu tamanho, riqueza e arrogância, tem enorme dificuldade para entender e seguir as sutilezas desse jogo, mas vem aprendendo rápido e, sobretudo, é a proprietária da conta bancária de longe a mais polpuda dentre os barões de mídia e pode comprar, portanto, através de consultorias, a inteligência que seus diretores e donos não possuem.