por: Tereza Cruvinel
Em nenhum momento, nas matérias que publicou sobre a pesquisa realizada pelo Datafolha em 14 e 15 de julho, a Folha de S. Paulo registrou que 60% dos entrevistados preferem que haja uma nova eleição. Pelo contrário, informou que 50% preferem que Michel Temer fique no governo até o final do mandato que seria de Dilma Rousseff e que apenas 3% preferem novo pleito.
Mas este dado – “60% são favoráveis à nova eleição” – aparece no título de um dos blocos do relatório da pesquisa que está postado no site do instituto (confira o documento aqui).
Embora os 60% apareçam no título, eles não são mencionados no texto inferior. A explicação já apresentada foi de que, no questionário apresentado ao entrevistado, não havia a alternativa de nova eleição, restando-lhe apenas escolher entre a volta de Dilma e a permanência de Temer.
Teria sido, no mínimo, um erro metodológico. Tanto é que a realização de nova eleição foi considerada pelo próprio Datafolha na pesquisa divulgada em 9 abril, em que 60% preferiam a saída de Dilma, 58% a de Temer e 79% preferem uma nova eleição.
Isso não explica, entretanto, que no relatório sobre a última pesquisa, conforme a cópia acima tirada do site do instituto, tenha havido a menção à preferência de 60% por um novo pleito presidencial. Na matéria da Folha, assinada por Fernando Canzian, eles também não aparecem. Nela aparece, realçando a incongruência, a baixa taxa de aprovação a Temer, de apenas 14%, que não foi destacada. Mas se os 60% aparecem no título, de alguma passagem da pesquisa eles foram retirados.
A Folha e o Datafolha continuam devendo explicações sobre a pesquisa que se constitui no elemento mais vistoso da pintura que vem sendo feita na paisagem política e econômica para induzir à condenação de Dilma no julgamento de agosto pelo Senado, tornando Temer presidente de fato e de direito.
As incongruências, decorrentes de manipulação ou imperdoável falha no trato de pesquisa tão relevante, foram apontadas inicialmente pelo Brasil 247 e escrachadas pelos jornalistas Glenn Greenwald e Erick Dau no site The Intercept.