por: Luiz Alberto Gomez de Souza.
Segundo transcendia, para presidente da Câmara o PT apoiava, numa jogada oportunista e míope, Marcelo Castro, membro do anfíbio PMDB, que fora ministro da Dilma e votara contra o impeachment. Certa ou não, a mídia a serviço do presidente interino, considerava esta candidatura, que ficou em terceiro lugar, uma criação de Lula e do PT e se lançou com todas as forças contra ela. O PC do B, num último momento ainda apresentou Orlando Silva, como a Rede o fez com Miro Teixeira. Porém, desde o início, o PSOL teve Luiza Erundina como candidata no primeiro turno, declarando que se absteria no segundo, ausentando-se do plenário. Manifestei meu apoio a ela, como uma deputada de posições definidas, que merecia os votos da esquerda.
Retomo lúcidas frases finais de Tarso Genro em sua carta a deputados petistas nessa ocasião.“É preferível ter poucos votos, com uma Chapa republicana, composta por pessoas sérias, declinando de uma aliança com Rodrigo Maia e seus companheiros de “ideais”, ou sermos identificados com os dissidentes do golpismo, que querem uma parte maior do botim neoliberal… Parece-me que a primeira hipótese é digna e tem futuro. E que a segunda é sombria e suicida. E mais: seria uma demonstração que não aprendemos nada com os nossos erros e que não estamos dispostos a mudar em nada… somem as biografias de vocês e resgatem a dignidade da política, sem temer ser minoria. Não troquem a dignidade de uma solidão com futuro, pela falsa alegria dos vencedores sem propósito”. Claro e direto.
Chegou o segundo turno e o PT, ao contrário do que pedia Tarso, decidiu votar em Rodrigo Maia. Não aceitando essa orientação, 25 de seus deputados se ausentaram e se supõe (o voto é secreto), que 33 votaram em Maia. Dos 10 do PC do B, que desta vez também apoiava Maia, dois não compareceram ( Jandira foi uma) e 8 possivelmente votaram em Maia. A Rede, pelo que indicam as informações nos sites, esteve presente na votação (serão dela alguns dos 5 votos de abstenção?). Todo o PSOL, consequente, ausentou-se.
Vejamos os números. Os votos do PT e do PC do B, considerando que todos seus deputados presentes teriam votado em Maia, somariam 41 (33 e 8). Desnecessários para a ampla vitória deste, com folgados 115 votos à frente de Rogério Rosso. Além de inútil, essa orientação com viseiras imediatistas, como já foi vista em várias ocasiões no passado, manchou desnecessariamente as duas siglas e deve ter perturbado suas militâncias.
Os meios de comunicação governistas festejaram exultantes a derrota de Castro no primeiro turno, considerando-a uma derrota de Lula e do PT. E não deixaram de fazer notar, com ironia, a contradição do PT e do PC do B votarem em Maia no segundo turno, um furioso apoiador do impeachment. Alguém falou de pragmatismo. Pragmatismo autodestrutivo. A coerência ficou com o PSOL.
As respostas a tantas interrogações virão nas eleições do ano que vem e nas de 2018, mas com um PT e em PC do B expressando neste momento posições pelo menos ambíguas, com prováveis repercussões negativas no futuro. E pior e mais grave ainda, isso está debilitando a luta prioritária contra o impeachment, passada nestes dias para um segundo plano por razões eleitoreiras. Terão alguns deixado Dilma de lado, pensando talvez numa incerta e discutível estratégia para construir a candidatura de Lula em 2018? Mas a que custo? Estamos neste momento diante de mais uma aliança espúria, com um DEM que até o momento fenecia (ex-PFL, ex-Arena) e com setores de um PMDB, parceiro desleal, num velho e desgastado acordo.
O Data Folha de 16/7 indica que Lula, neste momento, lideraria a intenção de votos num primeiro turno, mas perderia num segundo para Marina (44 a 32) e por Serra (40 a 35). Porém estamos ainda longe e as pesquisas refletem apenas a visibilidade hoje das atuais lideranças. Certamente haverá mudanças; por exemplo, um Ciro Gomes poderia crescer, no momento fraco nas intenções. Ainda é cedo para prognósticos. Mas o importante seria que partidos como PT, PC do B e PSOL – acabei não mencionando o PDT, tenho dúvidas da Rede – construíssem desde já, numa ampla aliança com setores progressistas na sociedade, um programa de reais alternativas, sem restringir-se a estratégias para vencer. Ganhar a qualquer preço, com acordos dúbios, e esta eleição na Câmara traz indicadores preocupantes, poderia levar candidatos proclamados de esquerda, se eleitos, a fazerem uma gestão de centro-direita, em nome de uma governabilidade que repetiria erros do passado no Brasil e em outros países. Valeria lutar e apostar com independência, mesmo se não levar, nas próximas eleições, a muitas vitórias. Como diria Gramsci, estaríamos numa “guerra de posições” na sociedade civil, pela afirmação de democracia, defesa nacional e cidadania, preparando aos poucos, com tenacidade e esforço pedagógico, uma outra hegemonia para superar este capitalismo predatório.