por: Bernanrdo Mello Franco
BRASÍLIA – O impeachment já vencia de lavada quando o presidente da Câmara chamou o 371º deputado ao púlpito de votação. Embrulhado numa bandeira do Brasil, o tucano Caio Nárcio se postou em silêncio diante do microfone. Num gesto teatral, ergueu o pavilhão acima da cabeça, deixou que o pano deslizasse pelos ombros e começou a discursar.
“Por um Brasil onde meu pai e meu avô diziam que decência e honestidade não era possibilidade, era obrigação. Por um Brasil onde os brasileiros tenham decência e honestidade”, disse, com ar compungido.
O deputado mineiro voltou a silenciar, como se meditasse sobre o momento grave da República. Olhou para os lados, respirou fundo e elevou a voz. “Por Minas, pelo Brasil, para os jovens que estão lá fora nas ruas. Verás que um filho teu não foge à luta! Siiiiiiiiiim!”, concluiu, com um berro.
Nesta segunda (30), o país voltou a ouvir falar na decência e na honestidade do pai de Caio. Ex-presidente do PSDB mineiro, Nárcio Rodrigues foi presosob suspeita de corrupção. Ele é acusado de cobrar R$ 1,5 milhão em propina quando era secretário do governo Anastasia. O tucano é aliado do senador Aécio Neves, que já o definiu como “um dos mais completos homens públicos do seu tempo”.
A história dos Nárcio não chega a ser uma novidade. Eleita pelo PSD mineiro, a deputada Raquel Muniz dedicou outro “sim” exaltado ao marido, prefeito de Montes Claros. “Meu voto (…) é para dizer que o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós”, discursou. No dia seguinte, o homenageado foi preso pela Polícia Federal, acusado de desviar verbas da saúde.
Em março de 2015, o senador Aloysio Nunes surpreendeu eleitores ao se dizer contrário ao impeachment. “Não quero que o Brasil seja presidido pelo Michel Temer”, justificou, com ar de quem sabia mais do que falava. Nesta terça (31), o tucano foi apresentado como líder do governo Temer.