Prezados companheiros e companheiras,
Apresentamo-nos pela última vez como militantes do Partido Socialista Brasileiro, agremiação na
qual sempre militamos com imensa dedicação e que, pela sua história e ideais, nos foi durante
muito tempo motivo de profundo orgulho. Nós, socialistas por convicção e experiência,
procuramos o Partido Socialista Brasileiro como espaço de militância porque sabíamos da sua
trajetória firme e coerente, e conhecíamos suas figuras mais emblemáticas. Sua fundação em
1947, protagonizada por João Mangabeira, representou um marco para a esquerda democrática do país, ao romper com o stalinismo soviético e propor a luta por uma nova sociedade pautada sob princípios democráticos e igualitários. Já na redemocratização do país, figuras como Jamil
Haddad e Roberto Amaral foram de importância ímpar num momento em que o PSB se refundava e tinha destacado papel à esquerda no processo da Constituinte.
Alguns anos mais tarde, o Partido teria ainda Miguel Arraes como grande liderança, lutador
incansável na defesa das vontades populares e do povo pernambucano. Foi por esse conjunto de
ideais socialistas e porque víamos estes sendo perseguidos na prática é que decidimos ingressar e
militar no PSB. Atuamos com afinco, ocupando espaços e cargos de direção nos segmentos
sociais do partido – Juventude, Negritude, Sindical –, integramos os diretórios de zonais, as
executivas estaduais e distrital do PSB, assim como o Diretório Nacional. Da mesma maneira,
organizamos e participamos de atividades importantes para o crescimento do Partido e de seu
diálogo com a sociedade, como no caso da série de debates realizados para a construção do
programa de governo do PSB nos locais em que teve candidatura própria, mas também do projeto
nacional que orientaria a campanha de Eduardo Campos. Sempre, como vale ressaltar, com muita
convicção e orgulho de nosso trabalho em torno de um projeto socialista.
Com uma trajetória de afirmação de suas convicções, o Partido Socialista Brasileiro conseguiu
crescer e reunir forças para se apresentar, finalmente em 2014, como uma nova alternativa para o
país. Mas foi surpreendentemente neste momento, com o desenrolar dos acontecimentos políticos e as respectivas decisões tomadas pelos dirigentes partidários, que se observou o despertar de uma inflexão nas posturas do PSB, as quais passaram a obedecer muito mais à lógica do fisiologismo e da pequena política que a qualquer orientação programática.
Ainda que seja de amplo conhecimento da militância e da sociedade em geral, cabe relatar os
fatos referidos, os quais esvaziam as perspectivas de termos no PSB uma alternativa real à velha
política e de construir um programa à esquerda para a superação das crises e construção de um
novo país. A começar, assistimos lamentavelmente à decisão do partido que agora nos desfiliamos
de aliar-se, no segundo turno das eleições de 2014, ao campo representante daquilo que há de
mais retrógrado e conservador no nosso país – o PSDB e seu candidato Aécio Neves – e assim
optar pela mediocridade de não romper com a falsa dicotomia PT X PSDB que ainda hoje
permeia a política brasileira. Esse foi sem dúvida um marco no desvirtuamento da história
socialista, ao qual se seguiram, mês após mês, posturas reprováveis e inadmissíveis para uma
militância de esquerda: já no início de 2015, o PSB aceitou a insubordinação de sua própria
liderança na Câmara, que manobrou parlamentares para aprovar a redução da maioridade penal,
contrariando o posicionamento histórico do partido que, inclusive, havia sido reafirmado em
reunião recente da Executiva Nacional. A votação sobre a terceirização também mostrou um
partido dividido e sem compromisso com o posicionamento da base e da esquerda. Ao lado desta
modificação no espectro ideológico das votações na Câmara Federal, registramos cada vez mais a
filiação de políticos identificados com o campo reacionário. Heráclito Fortes, político da antiga
Arena e PFL, adversário dos socialistas históricos, em 2014 foi eleito pelo PSB. A filiação de
Jorge Bornhausen deve fazer Miguel Arraes se revirar no túmulo. Ildon Marques, do campo dos
Sarney, agora entra para o PSB. E são apenas alguns exemplos. No Distrito Federal, Juarezão, de
origens rorizistas, agora faz parte do PSB. Isto demonstra que o partido busca crescer a qualquer
custo, sem manter a sua coerência ideológica histórica.
A gota d’água veio no último domingo, dia 17 de abril, quando o legado de Miguel Arraes, João
Mangabeira e Jamil Haddad foi emprestado ao que há de mais atrasado na política brasileira.
Aliando-se a Eduardo Cunha, Michel Temer e Jair Bolsonaro na deposição de uma presidenta
democraticamente eleita – a qual , apesar dos inúmeros erros de seu governo, foi a escolhida pela
maioria da população brasileira para governar o país – o Partido Socialista Brasileiro deixou de
lado qualquer vínculo com o Socialismo e com a legalidade democrática, e entrou para a História
ao lado do campo conservador, antidemocrático e golpista. O campo que sempre comandou o país
atendendo aos interesses de uma minoria em detrimento do povo brasileiro. O rompimento com
os retrocessos representados pelas gestões de Dilma Rousseff deveria vir pela esquerda,
oferecendo ao país uma nova alternativa distante do petismo, que se perdeu em meio ao
pragmatismo, e da direita tradicional, inimiga conhecida da maioria de nosso povo.
Já onde assumimos governos, o desafio de governar consumiu a maior parte dos nossos quadros,
fazendo com que a construção partidária ficasse secundarizada. Como no Distrito Federal, onde
um processo de mobilização e envolvimento orgânico do PSB, iniciado em 2011, foi
interrompido logo após as eleições de 2014. Infelizmente, não soubemos equilibrar, de forma
satisfatória, as grandes pressões e demandas que surgiram após a vitória com a consolidação do
projeto que nos permitiu chegar à chefia do Executivo. Um projeto inovador, de rupturas e
enfrentamentos, gerado de forma colaborativa e tendo na participação popular seu maior trunfo. É com pesar que percebemos que, já iniciado o segundo ano de gestão, pouco horizonte podemos
ter do cumprimento do Programa de Governo apresentado.
Quando se perde a identidade coletiva e o sentimento comum de ser parte de algo maior, ganha
espaço o interesse particular, o individualismo, a disputa pelo ganho pessoal. Esta lógica, própria
do capitalismo, abre margem para as piores práticas e afasta quem mergulha na política movido
pelas melhores intenções. O cenário percebido hoje no PSB aponta para o seu esvaziamento
programático, uma vez que não há possibilidade real de contribuição através da via partidária. Em São Paulo vimos um PSB que se esquece do significado do “S”, sendo linha auxiliar do PSDB e
mais um instrumento de Geraldo Alckmin do que um instrumento de defesa dos ideais de justiça
e liberdade. Já no DF, que tinha grande potencial para representar um marco no modo de atuação
socialista, não discutimos nada que não seja governo. Na discussão de governo, não conseguimos
debater nada que não sejam cargos. Na discussão de cargos, não conseguimos escolher os
melhores. E, nos espaços que conseguimos ocupar, sua instrumentalização não é socializada,
sendo cada qual gerido de acordo com as convicções particulares daquele ou daquela indicada
para, ocupá-lo sem dar a devida atenção ao coletivo partidário. A conclusão é simples: não
havendo projeto público ou coletivo partidário, fica, ou chega, quem tem interesse pessoal. É
evidente que ainda resistem militantes orgânicos que acreditam na via transformadora da política.
Mas, a cada dia que passa, mais pessoas se sentem desiludidas, desmotivadas e paulatinamente se
distanciam da militância orgânica.
No mundo todo surgem novidades, alternativas não tradicionais que em pouco tempo ganham
muita expressão. Vimos surgir o Podemos e o Ciudadanos, na Espanha. O Syriza e o Novo
Aurora, na Grécia. O Piratas, espalhado por diversos países, tendo sido o partido mais votado pela
população com até 35 anos para o parlamento europeu. Nos EUA, o caricato outsider Donald
Trump é praticamente candidato único nas prévias dos Republicanos. Já entre os Democratas, a
vitória de Hilary Clinton, que parecia tranquila, está ameaçada pelo fenômeno Bernie Sanders,
que se apresenta com socialista e se torna cada vez mais popular, contrariando todas as
expectativas. Todos estes exemplos nos mostram que existe uma tendência mundial à renovação
política, tendência que faz com que partidos tradicionais – de esquerda e de direita – sejam
engolidos por novas organizações e lideranças que, também, podem ser conservadoras ou
progressistas.
O Brasil não está imune a essas influências. A decadência dos partidos é notória e atinge as
agremiações de todas as cores. Ainda não vimos surgir as organizações que ocuparão os espaços
que se abrem. Mas já é possível perceber algumas novidades conservadoras, capazes de levar
milhares de pessoas às ruas e, em muitas casos, pautar o debate público fazendo com que a
esquerda fique na defensiva. O resultado é que hoje os setores progressistas se organizam mais no
sentido de barrar retrocessos do que de reivindicar avanços, ou seja, a esquerda age sempre em
reação às ações conservadoras.
E o PSB nisso tudo? A impressão que fica é a de que o PSB está sem rumo, sem identidade, sem
projeto, sem objetivos. A possibilidade de trazer Geraldo Alckmin, mesmo que não se concretize,
já é sintomático do esvaziamento político que vivemos. Não resta dúvidas do potencial que o PSB
tem para representar a nova política, com alguns dos maiores quadros do Brasil e distante dos
escândalos de corrupção. A eleição de Rodrigo Rollemberg é um grande exemplo disso! Também
é claro, porém, que este potencial não tem sido aproveitado e que se tem adotado, em regra, as
práticas da velha política, deixando de instituir dinâmicas inovadoras como as vistas durante o
período que antecedeu as eleições de 2014 no Distrito Federal.
Nesta linha, assistimos com interesse ao o surgimento da Raiz Movimento Cidadanista, liderada
pela companheira Luíza Erundina que, há pouco, também deixou o decaído Partido Socialista
Brasileiro. Embora ainda seja cedo para saber o real papel que esta iniciativa cumprirá, é a
primeira vez que a esquerda brasileira se dispõe a tentar criar um novo ambiente de organização,
menos hierárquico, mais horizontal, diverso e democrático. A rigidez dos partidos tradicionais,
com uma exagerada centralização, já era alvo de críticas do PSB em 1947. No entanto, na prática,
também reproduzimos em larga medida este modelo e não construímos, a sério, formas de
organização partidária que descentralizem o poder.
Assim, deixamos as fileiras do PSB para podermos continuar no campo das lutas pela construção
do socialismo, que a partir de agora muitos de nós faremos em torno da Raiz. Esperamos que esse
ponto comum seja suficiente para que nos vejamos como o mesmo campo, apesar das concessões
pragmáticas que o PSB tem feito. Redobramos o nosso fôlego militante e nossa utopia, seguimos
para a construção de algo novo, esperando que o próprio PSB possa também se renovar à
esquerda, resgatar sua história, e não ser ele próprio mais uma força conservadora na política
brasileira.
Brasília, 22 de abril de 2016
Alisson Cesar
Ex-integrante da JSB
André Dutra Silva Magalhães
Ex-Presidente da JSB
Ex-integrante do Diretorrio do PSB-DF
Fabiana Oliveira
Ex-Secretarria de Juventude do Municíprpio de SaPao Paulo
Ex-Coordenadora do Nurcleo de Base dos Internacionalistas – SaPao Paulo/Capital
Gabriel Rolemberg Serwy
Ex-integrante da Executiva da Zonal do Plano Piloto
Ex-integrante da CoordenaçaPao da JSB no DF
Gabriel Villarim
Ex-integrante do Diretório da Zonal do Plano Piloto
Ex-membro do Conselho de Ética do PSB/DF
Grahal Benatti
Ex-Presidente da Zonal do Plano Piloto
Larissa Arantes
Ex-Secretarria de ComunicaçaPao da JSB-DF
Laura Sales Gorman
Ex-militante da JSB-DF
Leandro Freitas Couto
Ex-integrante do Diretorrio do DF
Ex-integrante da Executiva do DF
Leandro Grass
Ex-membro do Forrum de EducaçaPao do DF
Pablo Feitosa Nunes Amorim
Ex-dirigente da Negritude Socialista Brasileira
Ex-integrante do Diretorrio do PSB/DF
Pedro de Castro Amaral Vieira
Ex-assessor da liderança do PSB na Câmara dos Deputados
Ricardo Faria
Ex-representante da JSB no Fórum Paulista de Juventude
Raphael Sebba D. F. Curado
Ex-integrante do Diretorrio Nacional do PSB
Ex-integrande do Diretorrio Distrital do PSB
Ex-Coordenador da JSB do Centro-Oeste
Victor Daniel Diniz Quaresma
Ex-Presidente da JSB do município de São Paulo
Ex-Coordenador do Núcleo de Base dos Internacionalistas