A nossa mídia corporativa pro-impeachment, que adora divulgar notícias desfavoráveis ao Brasil, andou informando que a atual situação aqui estaria provocando “gargalhadas” pelo mundo afora. “Esqueceu-se” de declinar, no entanto, a motivação das “risadas” que teria ouvido, revelada por importantes órgãos da imprensa mundial, como o New York Times e o Los Angeles Times: o julgamento de uma chefe de governo honesta, como a Dilma, por uma Câmara de Deputados presidida por réu em processos por corrupção, e composta, em sua ampla maioria (60%), por parlamentares investigados ou indiciados em processos pela mesma razão ou acusados de fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio, segundo dados da Transparência Brasil, citados por Simon Romero, do diário novaiorquino.

O Financial Times e Le Monde vão na mesma linha, com o francês destacando o absurdo que seria a substituição de Dilma, com os 54% dos votos obtidos nas últimas eleições presidenciais, pelo Temer. Ressalta-se, inclusive, que a campanha pelo impedimento é liderada pelos partidos com o maior número de acusados de corrupção. E não se deixa de citar, como “esquecem” aqui, os inúmeros pronunciamentos de líderes políticos internacionais, tais como o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica e o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzáles, além de dirigentes da ONU, contra o golpe em marcha no Brasil. Nada para rir ou festejar, evidentemente, pelo menos entre nós.

Ao contrário, o domingo, conforme previra Dorrit Harazim, d’O Globo, foi “um dia de derrota nacional”, amargo para todo o nosso povo. Em que “a cara do Brasil”, como ela disse, que achou que havia “algo a comemorar” era a do “bolão do impeachment” sobre o placar da votação, lançado pelos deputados Paulinho da Força e Carlos Manato, corregedor (?) da Câmara, ambos do Solidariedade, um dos partidos do conluio Temer-Cunha pela deposição de Dilma.

Arthur Poerner