por: J. Carlos de Assis* da Aliança pelo Brasil
Marx supunha que o capitalismo explodiria por conta de suas próprias contradições internas. Parte do capitalismo brasileiro não quer esperar por isso. Corre o risco de explodir por conta de sua imbecilidade. As matérias pagas pedindo o impeachment da Presidenta Dilma em edições de quatro jornais de ontem denotam a suprema estupidez do empresariado, sobretudo paulista, capitaneado por essa figura caricata de Paulo Skaf, por perderam completamente a perspectiva dos interesses reais em favor de ideologia política.
É bem verdade que, para seus propósitos imbecis, Skaf é um sujeito de sorte. Encontrou entre dirigentes das classes trabalhadoras um trânsfuga do movimento sindical, Paulinho da Força, que se coloca na vanguarda do atraso em matéria de política econômica e tornou-se seu sócio. Skaf teve sorte também por trocar a fatigante vida industrial pela comodidade do corporativismo sindical, apossando-se de uma das maiores caixas da República, o dinheiro público arrecadado em nome do Sesi e do Senai.
A exposição pública de dinheiro esbanjado na propaganda do impeachment, com a cobertura de assinaturas provavelmente financiadas pela própria Fiesp, é um acinte à decência e um desafio à ética. Algum procurador da República, desses que preservam a honra de não agir segundo preferências partidárias, deveria investigar a fonte dos recursos usados nessa propaganda, ou seja, se há ali dinheiro do Sesi e do Senai – dinheiro público que deve estar sob fiscalização do TCU e demais órgãos de controle da administração federal, mas que não está.
Não só pelo descaramento do uso político-partidário de verbas oriundas de recursos parafiscais essa atuação de Skaf deveria ser investigada. Ele e o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Eugênio, introduziram no sistema S a inacreditável cobrança por cursos de profissionalização. Um sistema inventado por Getúlio e empresários idealistas, no tempo em que os havia, foi degenerado numa arapuca para ganhar dinheiro de pobres e de desempregados, numa verdadeira aberração das finalidades do Senai.
Por que a imprensa brasileira nunca denunciou isso? A resposta está nas páginas do pedido de impeachment. Na verdade, a Fiesp não quer apenas fazer propaganda do golpe. Quer também encher de dinheiro as burras dos jornais cujo partidarismo extremo, desafiando a inteligência dos leitores, os estão levando à falência. A propaganda do impeachment deve ter reforçado o caixa cambaleante dos jornais em mais de R$ 20 milhões pelos meus cálculos, uma forma de compensá-los pela sórdida cobertura da situação brasileira no noticiário diário caracterizado pela manipulação da opinião pública.
Espero que o honrado Ministro da Justiça abra um procedimento investigatório para saber de onde a Fiesp tira dinheiro para propagandear pelo impeachment e tentar desestruturar o Estado, inclusive insistindo em seu mantra contra impostos, que naturalmente não inclui as contribuições para Sesi e Senai. Sua invocação de cidadania é absolutamente falsa. Repare bem na cara de Skaf, e dê uma olhada paralela na cara de Paulinho da Força: parecem gente honesta? De fato, quanto a Paulinho, o que ele quer é se colocar sob as asas de Eduardo Cunha para que os dois, por algum expediente metafísico, escapem de seus processos de roubo e improbidade administrativa a que respondem no Supremo. Quanto a Skaf, com um pouquinho mais de esforço ele destrói a indústria paulista por pura ideologia.
*Jornalista, economista, doutor pela Coppe/UFRJ.a