Não sei se o ex-presidente Lula é inocente ou culpado, e de que acusações, precisamente, dentre tantas que hoje pululam até no horóscopo dos chamados grandes jornais. Lula culpado, terá sido deplorável a sua condenação por meio de um justiçamento, mandadas às favas as leis que tivemos, e já está sendo repugnante testemunhar o fétido conluio entre setores do Judiciário, da PF e uma velha imprensa até aqui de máculas – à frente dela, nada menos que a Rede Globo de Sonegação. E se já era penoso ver parte da sociedade brasileira depositando suas esperanças num incontinente justiceiro camisa preta (e não será casual a referência à Itália da Mani Pulite e de Il Duce Mussolini…), menos digerível é vê-lo deitar falação sobre seu apartidarismo num evento partidário em SP.
Não sei, repito, se Lula é inocente ou culpado, nem como sairemos dessa embrulhada que só se complica. A anomia da presidente, a hidrofobia de parte de seus opositores, a perplexidade da militância de esquerda diante de um governo que lhe parece ao mesmo tempo imprescindível e impossível defender… tudo isso contribui para formação de um cenário distópico em que não faltam fantasmas.
Em meio a isso tudo, três promotores paulistas – já devidamente apelidados – surgem com uma denúncia contra o ex-presidente, demandando sua prisão preventiva. Mal escrita, confusa, inconsistente e permeada de pedantismo, a peça já pode ser considerada uma pérola de estupidez coxinha – inclusive pela façanha de substituir Engels por Hegel na parceria com Karl Marx. O despautério é tal que até mesmo lideranças tucanas como o senador Cunha Lima (que por esses dias mandou um colega “pra puta que pariu” num debate em plenário) e o buliçoso deputado Carlos Sampaio apontaram a inconsistência da denúncia. Imaginem vocês uma denúncia que nem mesmo o promotor Carlos Sampaio julga razoável!
Não se enganem, porém: em meio a isso tudo e às vésperas do dias 13/3, data prevista para uma grande manifestação de indignação seletiva contra a corrupção, o flato expelido pelos três patetas ganhou formidável repercussão. Talvez fosse este o intento concreto, e o desejo expresso – a prisão de Lula – apenas uma fantasia onanista.
Pedro Amaral