Tucanos miram apoio de parcelas do PRB, PR, PTB e PSD
por: Kennedy Alencar
Articuladores com experiência no jogo de poder em Brasília, os tucanos Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves e José Serra ajudam o vice-presidente Michel Temer a obter votos necessários na Câmara para o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Além do PMDB do vice, estão no alvo bancadas dos partidos que têm ministérios no governo Dilma: PR, PTB, PRB e PSD.
Nesta semana, ainda que em votação secreta, houve um termômetro da batalha por votos na Câmara. A oposição obteve 272 a favor da chapa que apresentou para integrar a comissão especial que analisará o pedido de abertura do processo de impeachment. Faltam, portanto, 70 votos para a oposição atingir os 342 necessários (dois terços) para aprovar o impedimento.
O PSDB ajudará Temer a tentar obter esses 70 votos. No PMDB, o vice-presidente já tem feito boa parte do serviço. Em aliança com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, derrubou Leonardo Picciani da liderança do partido na Câmara. Picciani, do PMDB do Rio, queria indicar para a comissão especial aliados do impeachment.
Temer e os tucanos sabem que a batalha fundamental será por votos. O foco da articulação é rachar partidos aliados do governo e que estão alojados no ministério. O PSDB e Temer procuram líderes políticos e deputados do PRB, PR, PSD, PP e PTB. Serra já teve conversas com o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, presidente do PSD e aliado de Dilma. O presidente do PRB, Marcos Pereira, já teve conversas com aliados de Temer e com tucanos.
Não é difícil para um governo obter 171 votos, que é o terço necessário da Câmara para barrar o impeachment. Em 1999, FHC conseguiu 342 contra o impeachment e 100 a favor da abertura do processo.
A oposição e Temer já entenderam que o jogo principal é no voto, caso não haja uma interferência maior do Supremo nessa guerra. Os tucanos estão conversando com aliados de Dilma sinalizando que, diante da expectativa de poder de Temer, poderiam retirar o PT do governo federal e assumir o comando do país. O PSDB aposta em Temer.
Os tucanos entenderam isso. Há relatos de que a presidente Dilma se mostrou abatida ao longo da semana por haver suposta dúvida em relação à sua honestidade. Essa não é a questão principal. Pode ser tema para divã, mas é algo menor diante da disputa pelo poder. A questão é obter voto na Câmara.
Ciente disso, em reunião ontem em Brasília, a cúpula tucana se reuniu. Estiveram presentes o ex-presidente FHC, os seis governadores tucanos e representantes das bancadas do PSDB no Senado e na Câmara. No encontro, o PSDB fechou questão a favor do impeachment, o que reforça a articulação política do grupo do PMDB que deseja levar o vice-presidente Michel Temer a comandar o país.
Apesar de tucanos terem dito que análise de um apoio a um eventual governo Temer ficaria para um segundo momento, há um sinal claro de suporte ao vice-presidente. O mais provável é que, se o governo Temer virar realidade, o PSDB dê apoio no Congresso e libere tucanos a assumir cargos em caráter pessoal.
Até poucas semanas atrás, não havia unidade no PSDB sobre apoiar o impeachment e, em caso positivo, quando seria a hora de fazê-lo.
O senador Serra atua há bastante a favor do impeachment já apostando que terá lugar de destaque num eventual governo Temer. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mudou de posição ao longo do ano. Ele, que dizia que não via razão para impeachment, passou a dizer que há razões que justificam o afastamento da presidente. E o presidente do PSDB, o senador Aécio, deixou em segundo plano o objetivo de, por meio do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), cassar os mandatos de Temer e da presidente Dilma Rousseff, o que hoje resultaria em nova eleição para a Presidência.
Com a bênção de FHC, que tem sido o principal conselheiro de Aécio, o partido fechou questão. Em 1999, FHC derrotou em plenário um pedido de impeachment apresentado pelo PT. Agora, o ex-presidente dá o troco.