por: J. Carlos de Assis

Os golpistas ganharam o primeiro round. É o único que poderiam ganhar porque o juiz do torneio esgotou suas prerrogativas. Daqui para frente ele depende cada vez menos do cargo e mais de algumas centenas de deputados para tomar decisões. Naturalmente, ele, que comprou tantos, não pode ter comprado todos. Ao contrário do que Lula pensava anos atrás, não existem 300 picaretas no Congresso. Existem picaretas, mas muito menos. Agora será bem fácil contá-los. São os vigaristas. Os golpistas. Os comprados por Eduardo Cunha.

É inevitável, portanto, que a Câmara se divida entre legalistas e golpistas no caso de Dilma. E entre vigaristas e honestos, no caso de Cunha. A esse respeito foi ótima a decisão de Cunha de aceitar a impertinente denúncia do impeachment subscrita por advogados irresponsáveis, um ligado a tucanos e ouro movido pelo ressentimento contra o PT. Teremos agora dois divisores de água depois de quase um ano em que o Congresso Nacional, e em particular a Câmara, fizeram não apenas o PT ou Dilma, mas o povo brasileiro refém de interesses mesquinhos.

Se golpistas e vigaristas querem enxovalhar ainda mais a República, uns propondo a condenação de Dilma, outros a salvação de Cunha, do outro lado desponta uma possível maioria que não se deixará levar na lama da traição ao Brasil. Saberemos, nesse processo, detalhadamente, pessoalmente, individualmente quem são os inimigos do povo e da Nação. A natureza real do processo de impeachment foi exposta por uma repórter da Globo nesta quarta-feira. O objetivo da oposição, disse ela, é enfraquecer Dilma “e a economia”.

O sentido claro das manobras da oposição, notadamente PSDB e DEM, é, pois, promover o completo derretimento das instituições, já suficientemente fragilizadas. Contudo, só um Parlamento alienado e uma sociedade dopada pela grande mídia aceitarão isso sem reagir. De fato, por iniciativa do senador Roberto Requião e de outros parlamentares e líderes sociais, será lançada nos próximos dias a “Aliança pelo Brasil”, destinada a reunir no Congresso e fora dele os defensores da legalidade e, simultaneamente, de uma nova política econômica pautada pelo interesse nacional e a defesa do bem-estar social e do pleno emprego.

Há outro lado positivo, além do divisor de águas, na decisão de abertura do impeachment. A Presidenta, que fez tantas concessões aos banqueiros e especuladores em nome da governabilidade, terá aprendido que sua opção foi um erro tendo em vista também as consequências de conviver com Cunha como se fosse um parlamentar normal. A economia exige medidas imediatas que estavam bloqueadas pela politicagem e má fé. Agora é o momento de rejeitar a paralisia que havia se abatido sobre o Governo e começar a governar com aqueles que tem algum sentido de responsabilidade.

Espera-se com a “Aliança pelo Brasil” que tenhamos no Congresso, acima de ideologias e partidos, uma bancada com capacidade de influir nos rumos das votações e na linha econômica do Governo tendo em vista o imperativo da retomada do crescimento econômico e da reversão do desemprego. Medidas de curtíssimo prazo devem ser tomadas, como a recuperação da Petrobrás e da cadeia produtiva do petróleo e o estabelecimento de segurança jurídica para acordos de leniência que possibilitem a volta às atividades de empresas envolvidas com a Lava Jato, sem prejuízo das devidas indenizações e multas. Com efeito, sem essas medidas não haverá recuperação da economia: o Governo já admite contração de 2% em 2016, depois de uma contração próxima dos 5% este ano. Essa situação é simplesmente insustentável. É para revertê-la, num clima de legalidade, que está sendo criada a “Aliança pelo Brasil”.

*Jornalista e economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo