Sei que não posso continuar aqui.
de ontem para hoje,
dez outros morreram,
o cheiro está insuportável,
a fome e a sede apertam,
mas a pátria de onde vim é pior.
sei que vou morrer
se ficar aqui,
mas, fora do caminhão,
o que me espera não é
a luz, a liberdade, o trabalho,
a dignidade e a vida,
mas a prisão, o degredo,
o retorno, feito gado,
para o lugar de onde vim,
e, para sempre,
o estigma da desesperança.
sei que não posso ficar aqui,
mas sei, também,
que não posso voltar.
Sérgio Paolozzi