Prezados Senhores:

Em artigo publicado na Folha em 19/07/2015 (“O fracasso do isolamento de Israel”), o Sr. Reda Mansour, embaixador de Israel no Brasil, aconselha “humildemente” ativistas pró-Palestina a pararem de “perseguir Israel” e a construir “em Gaza e em Ramallah uma sociedade civil calcada na democracia, no respeito à diversidade e na cultura da paz.” Trata-se, sem dúvida, de objetivo meritório, que o povo palestino deve ser ajudado a buscar. Ocorre, porém, que há impedimentos de monta – e os de origem externa são absolutamente assombrosos.

Há pouco completou um ano o último massacre perpetrado em Gaza pelo terror israelense (sob o manto, como sempre, do “direito de Israel a se defender”). Dessa vez foram assassinados 2139 palestinos, incluídas 490 crianças. Cerca de 500 mil pessoas foram desalojadas, e 20.000 residências destruídas. Nem mesmo uma escola da UNRWA, agência da ONU para refugiados, foi poupada: no local foram abatidas 20 pessoas.

Não há como esquecer, ademais, o massacre de 2008-2009. Na ocasião, os ataques das forças de ocupação israelenses a bairros densamente povoados da estreita Faixa de Gaza resultaram na morte de cerca de 1500 palestinos, a maioria civis, ferindo 5 mil.

O ex-secretário geral da ONU Boutros Bhoutros-Ghali definiu corretamente aquele ataque como “um presente para extremistas de todas as latitudes.”

Na ofensiva de julho do ano passado, quatro meninos palestinos foram assassinados pela artilharia de Israel quando jogavam futebol numa praia de Gaza. Talvez Zakaria Bakr e seus primos pudessem, quando adultos, contribuir para a construção de uma sociedade calcada na cultura da paz, como o diplomata sugere. Mas não o farão, pois estão mortos.

Os crimes contra a humanidade praticados por Israel, as sucessivas violações do direito internacional, a persistência dos assentamentos judaicos na Cisjordânia… tudo isso representa sério obstáculo à construção da paz na região. E tudo isso justifica a pressão internacional sobre aquele Estado, defendida inclusive por cidadãos israelenses, como o escritor Shlomo Sand.

O Sr. Mansou afirma oferecer conselhos com humildade. Essa é uma disposição de espírito louvável, que pode contribuir para tirar o pequeno Estado de Israel do brutal isolamento em que se encontra. Despir-se da arrogância, porém, não basta: é preciso cultivar a sinceridade e o apego à verdade.

Atenciosamente

Pedro Amaral