O movimento já chegou a consenso sobre alguns pontos como a luta pela democracia no seu significado mais amplo e a defesa da soberania nacional como pilar de qualquer programa político
O ex-ministro e fundador do PSB Roberto Amaral está capitaneando a formação de uma Frente Popular pelo Brasil para se contrapor ao que classifica como avanço das forças conservadoras. A ideia é voltar a pensar e formular propostas em defesa do País com setores da sociedade, como políticos, sindicalistas, intelectuais, empresários e representantes dos movimentos sociais. Um ato público na segunda semana de junho, em São Paulo marcará o pontapé inicial da iniciativa e as linhas gerais de sua atuação, que estão sendo discutidas.
Indagado a respeito do que essa frente poderá se transformar num futuro próximo, principalmente com a crise que atinge o Partido dos Trabalhadores (PT), Roberto Amaral, em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, evoca o poeta catalão Antônio Machado, que em uma de suas construções poéticas diz ‘caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar’, para destacar que a ideia é engessar o mínimo possível a frente. “O processo (que está em discussão e deve continuar) é que vai dizer o que vai resultar dela, seja partido ou não”.
O movimento já chegou a consenso sobre alguns pontos: a luta pela democracia no seu significado mais amplo, a defesa da soberania nacional como pilar de qualquer programa político, o fim de todas as desigualdades e discriminações, a defesa e aprofundamento dos direitos dos trabalhadores e a luta pela retomada do desenvolvimento com distribuição de renda.
Amaral disse que não há monopólio e três tendências estão sendo discutidas de forma mais abrangente. Uma delas defende a discussão a partir das siglas partidárias, outra não discute a questão partidária, mas afirma que a frente tem de ser de esquerda e não pode ignorar o processo eleitoral, e a terceira diz que ela deve ser ampla, nacional e popular e não se restringir apenas a uma frente de esquerda. O ex-ministro do governo Lula destaca que a iniciativa é suprapartidária e ressalta os convites para o ex-governador e jurista Cláudio Lembo e o ex-ministro de FHC Luiz Carlos Bresser-Pereira.
Alguns integrantes do PT, como o ex-governador e ministro Tarso Genro e o deputado federal Alessandro Molon (PT) já participam dos debates em torno da construção dessa frente. Para Amaral, o avanço da direita e das ideias retrógradas só pode ser detido com a união de forças.
Para Roberto Amaral, ao dizer que a frente é popular, fica estabelecida que a sua base deve ser a sociedade. “Não exclui os partidos, mas é fundamental a participação de setores da sociedade, precisamos voltar a falar com o povo, os trabalhadores e os estudantes.” Sobre a crise que atinge a esquerda brasileira, Amaral diz que ela não nasceu com a crise do PT, mas se tornou mais aguda com ela. Segundo ele, o estopim é uma crise de valores.
Os primeiros encontros para a formação dessa frente começaram em novembro do ano passado, no Rio, em Brasília e São Paulo. Em março, num encontro no Sindicato dos Professores do Rio, Amaral reuniu os ex-ministros do governo Lula José Gomes Temporão e Luiz Dulci, que hoje é diretor do Instituto Lula, além de empresários, economistas e acadêmicos. No mês passado, houve outro encontro no Rio, no Clube de Engenharia, reunindo mais adeptos. E na segunda semana de junho, no ato público em São Paulo, a frente deverá ser formalizada.
Fonte: Diário de Pernambuco