Reunindo mais de 150 pessoas nesta quarta-feira (22), no Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro, aconteceu a mesa-redonda “A crise: qual a saída?”, tendo como debatedores o ex-governador Tarso Genro, o ex-presidente do PSB Roberto Amaral, o professor Luis Manuel Fernandes, da UFRJ e dirigente do PCdoB, e o engenheiro Fernando Siqueira, diretor do Clube de Engenharia, como mediador.
Por Léo Malina e Dayane Santos
O evento foi promovido pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pelo Instituto Brasileiro de Estudos PolíticosO evento foi promovido pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pelo Instituto Brasileiro de Estudos Políticos O evento, promovido pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e pelo Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP), buscou aprofundar o debate sobre questões como a defesa da democracia, soberania nacional, garantia e avanço nos direitos dos trabalhadores e combate às desigualdades.
Uma das propostas do evento, que tem ganhado força entre as lideranças políticas e intelectuais, é a constituição de uma Frente Nacional Popular não-partidária, integrando diversos setores da sociedade civil, como sindicatos, organizações populares e demais movimentos sociais.
Em debate semelhante promovido em São Paulo, nesta quinta-feira (23), sob a mediação de Roberto Amaral e com a participação de Selma Rocha, da Fundação Perseu Abramo, do jurista e professor Marcelo Lavenere, e pelo ex-governador Cláudio Lembo, como debatedores, também reforçou a proposta de criação de uma frente ampla.
“A ideia é percorrer todo o Brasil agregando valor aos conteúdos e buscando o envolvimento e participação de todas as camadas sociais na construção de uma frente nacional popular”, disse Roberto Amaral.
Durante evento no Rio, o ex-ministro destacou que a mais grave das crises é a política, que no Brasil aponta para uma autodestruição dos partidos. Para enfrentar esse desafio, Roberto Amaral defende a proposta da frente ampla. “Coloco como proposta a criação de uma Frente Nacional Popular, não vinculada a partidos políticos, que seja capaz de promover a constante reflexão sobre a crise”, salientou.
Amaral acredita que a esquerda precisa fazer uma autocrítica, pois com a rejeição de 1989 e o pragmatismo eleitoral de 2002, teve de absorver a direita, caso contrário não governaria. “Com a queda dos regimes socialistas e a negação do humanismo socialista houve acomodação encastelada num possível avanço capitalista. Com isso as lideranças sindicais, mesmo as mais importantes, foram para os gabinetes. Por que não foram para as ruas?”, indagou, destacando que esse é o quadro que se apresenta hoje e que se assemelha a outros momentos da vida nacional, como nos governos de Getúlio, Juscelino e Jango.
“Seguindo essa linha de pensamento chega-se à conclusão de que há uma crise política. Porém, ela também atinge a direita, que a rigor tem um alvo: a eleição de Lula em 2018, que poderá promover um novo governo de centro-esquerda”, pontuou o ex-ministro.
Avanço da esquerda
O professor da UFRJ e dirigente do PCdoB, Luís Fernandes, abriu o debate destacando que, após dois governos de ofensiva, a esquerda se depara com o fato de que a direita assumiu nova roupagem. “Alinhada à chamada crise do socialismo, a crise atual assusta devido à acomodação das próprias forças progressistas, o que bloqueia a participação popular” enfatizou Luís Fernandes.
Segundo ele, ainda essa tentativa de impedir o avanço das forças progressistas não é exclusividade brasileira, pois as forças da direita se articulam para esvaziar os governos progressistas na América Latina, como Argentina e Venezuela. “Esse é o verdadeiro alvo. O interesse é tão grande que nem o desenvolvimento capitalista com redução das desigualdades é visto com bons olhos. Para travar esse combate, a tarefa é derrotar a ofensiva golpista que se avizinha no Brasil, buscando implementar a construção de uma agenda de reformas estruturais, incluindo a reforma do Estado”, completou o professor.
Regime de exceção
O ex-governador Tarso Genro, por sua vez, chamou a atenção para o fato de vivermos uma situação de exceção. “As comunidades carentes vivem a exceção diariamente. Tivemos um modelo exitoso no início do primeiro governo Lula e, hoje, perguntamos se o ajuste do capital financeiro terá resultado”, ressaltou.
Para ele, a política econômica tem de dar respostas à sustentação política. “Contraditoriamente, a terceirização abrirá mais postos de trabalho. Porém há segmentos da sociedade que já ocupam esse nicho do mercado que fatalmente serão atingidos pelo aumento do número de trabalhadores e a consequente redução de salários. Socializando a pobreza”, destacou.
Tarso reforçou a necessidade de promover reformas estruturantes. “As reformas tão necessárias para avançar mais podem e devem ser feitas pelo atual governo”.
O ex-governador propõe um novo projeto de esquerda, com visão programática voltada para o futuro. “O que fazer para mudar? É fundamental que a militância pressione seus partidos para mudar”, reforçou.
O encontro é resultado de uma série de evento realizados desde novembro passado, por um grupo formado por profissionais liberais, jornalistas, professores, líderes sindicais, estudantes, militantes de partidos políticos e políticos com ou sem mandatos vêm organizando um conjunto de reuniões voltadas para a reflexão e a compreensão do processo político em curso. O ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula, Roberto Amaral, o ex-ministro da Saúde José Temporão e os deputados federais Gláuber Braga, Alessandro Molon e Jandira Feghalli integram o grupo.
São Paulo
Em São Paulo, o debate lotou o auditório do Sindicato dos Engenheiros, com a participação de intelectuais, blogueiros, professores, lideranças sindicais e políticas, entre as quais o presidente nacional do PT, Rui Falcão; o presidente municipal o PCdoB, Jamil Murad; o secretário de Comunicação do PCdoB e editor do Vermelho, José Reinaldo; e o Altamiro Borges, secretário de mídias do PCdoB e do Centro de Estudos Barão de Itararé.
Cláudio Lembo, jurista e político de formação liberal, abriu o evento destacando que a crise política em curso “é a manifestação da índole fascista, do fascismo endêmico que se manifesta toda vez que as massas se organizam e avançam”.
Ele enfatizou a importância da democratização dos meios de comunicação contra o que classificou como “pensamento único e conservador da mídia”, resultado do monopólio dos meios de comunicação. Segundo ele, as forças progressistas precisam ter um jornal para debater as grandes questões nacionais.
Seguindo a ideia de disputar a comunicação, Selma Rocha, mestre em História pela USP e diretora da Fundação Perseu Abramo, destacou que é preciso atrair a juventude para as causas progressistas. Segundo ela, é preciso ter claro que a visão das lideranças dos movimentos que atuam há pelos menos 50 anos, precisa encontrar tradução à linguagem e anseios desses jovens.
O professor Marcelo Lavenere destacou os pontos da plataforma da coalizão pela reforma política, movimento encabeçado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Confederação dos Bispos do Brasil (CNBB) com a participação de mais de 100 entidades, incluindo as centrais e movimentos sociais.
Para Marcelo, o avanço democrático passa fundamentalmente pela reforma política. Ele destacou que a defesa feita por setores conservadores de uma reforma com cláusulas de barreiras, voto distrital e financiamento empresarial de campanha representariam um retrocesso para o país.