Governador se diz contra doações de empreiteiras a partidos fora do período eleitoral
Uma das poucas vozes do PT que pedem mudanças radicais na estrutura do partido, o governador Tarso Genro disse na quarta-feira que se houver indícios de envolvimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no esquema de corrupção da Petrobras, ele tem de ser expulso, sem esperar julgamento.
O governador também cobrou ações de Dilma Rousseff para contornar a crise e sugeriu que a presidente envie um projeto de lei ao Congresso que acabe com as doações de empresas para partidos.
Confira a entrevista concedida nos estúdios da RBS TV.
Em 1999, diante de uma grave crise econômica no governo FHC, o senhor sugeriu a renúncia do presidente e a convocação de novas eleições. Agora, com o escândalo da Petrobras, o país vive um momento de instabilidade de grandes proporções. De que forma o governo Dilma sairá dessa crise?
A presidente tem de, rapidamente, fortalecer o Ministério da Justiça e a Casa Civil, colocando pessoas definitivas lá, e apresentar um ministro da Fazenda que tenha coerência com o seu plano de governo e empatia para desbloquear o crescimento econômico do país, que é um problema sério. Ter uma crise política com crescimento econômico é diferente de ter uma crise sem crescimento. O que se espera, e eu confio nisso, é que a presidente vai tomar essas atitudes rapidamente para dar estabilidade ao governo.
Um dos diretores apontados como operador do esquema de corrupção é Renato Duque. Os delatores da Lava-Jato dizem que ele drenava a propina dos contratos com as empreiteiras para o caixa do PT. Como fica a credibilidade do partido diante dessas acusações?
Em primeiro lugar, é preciso saber se essas acusações são verdadeiras. Em segundo, tem de saber se o Renato foi indicado efetivamente pelo PT. Mas qualquer partido que receba dinheiro ilegal, seja PT, PP, PMDB ou PSDB, como é frequente no noticiário, tem de responder publicamente por isso. As pessoas têm de ser processadas e condenadas.
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é citado como um dos beneficiados pelo esquema de corrupção. Como o partido deve agir neste caso?
Se o tesoureiro do partido compartilhou de qualquer procedimento ilegal, tem de ser expulso imediatamente. A minha visão é de que o partido tem de analisar o caso dele através de advogados que manuseiem o processo e verifiquem se existe qualquer indício de participação dele. Se sim, tem de expulsar imediatamente, sem esperar o julgamento. Porque esse nível de comprometimento com esse tipo de ilegalidade tem atrapalhado o prestígio do partido, como atrapalharia qualquer outro, mas é mais importante porque o PT está no governo federal. A nossa obrigação é de reagir mais rapidamente do que qualquer outro partido. Nunca a questão da refundação do PT esteve mais em evidência do que hoje.
Quais pessoas seriam capazes de conduzir essa refundação, se parte do partido está ligada a casos de corrupção?
Isso se faz através dos mecanismos internos de debates, através de congressos, de decisões excepcionais, que podem ser tomadas pelo conjunto do partido e que sejam demandadas por correntes como a minha, Mensagem ao Partido, que têm uma visão se não de refundação, mas de reestruturação profunda do PT. O fato é que o PT não vai mudar se não mudar a sua agenda em relação à sociedade. O PT precisa pautar a reforma política, porque é impossível que você consiga renovar um partido apenas pela disputa interna.
Mas nem internamente o PT tem ideias convergentes sobre a reforma política. O projeto do deputado Henrique Fontana foi boicotado pelos próprios colegas petistas.
A minha reforma, enquanto ministro da Justiça, também. Sofreu as mesmas restrições que a do Fontana. Isso demonstra exatamente isso que estou colocando, que essas relações internas não vão mudar se o partido não mudar a sua relação com a sociedade. Então grupos de dirigentes como esses da Mensagem e outros que estão inclusive em outras correntes do partido têm de atuar para que o partido tenha essa agenda com rapidez e urgência, senão não vai haver essa mudança. Se o PT não mudar a sua relação com a sociedade, se não se reestruturar, pode se tornar um partido igual aos outros, igual ao PSDB, ao PMDB.
Já não se tornou?
Não. O PT tem uma lógica interna e uma disputa interna que passam por um processo de refundação que vai e volta e isso se torna cada vez mais atual. O PT ainda não é um partido tradicional, mas pode se tornar.
É possível acreditar em reforma política a partir de um Congresso minado de deputados e senadores que tiveram as campanhas pagas por empreiteiras, a maioria deles por empresas envolvidas em pagamento de propina?
Não. O que esse Congresso pode fazer é analisar, se a presidente mandar um projeto de lei proibindo, a partir da próxima eleição, a doação de empresas para campanhas eleitorais. Isso não é uma reforma, mas é direcionador de uma nova relação dos partidos com as empresas. Então, isso pode ocorrer, mas é necessário que haja iniciativa presidencial para isso. Isso deve ser uma demanda imediata do partido sobre a própria presidente Dilma. É mandar um projeto de lei para sinalizar uma ruptura com esse tipo de prática.
Algumas dessas empreiteiras envolvidas na Lava-Jato fizeram doações também para a sua campanha. É possível, no atual sistema político, fazer campanha sem o dinheiro dessas empresas?
Totalmente impossível. As campanhas têm de ser cada vez mais ricas, mais midiáticas, com elaboração tecnológica absolutamente artificial, o que muitas vezes esconde o programa dos partidos ao invés de apresentá-lo de maneira clara. O que tem de fazer é tornar as campanhas mais baratas, recursos mais controláveis e menos espetaculares, para exigir mais dos políticos. Nesse sistema que está aí de financiamento de campanhas, eu não vou ser candidato a mais nada. Vou continuar lutando pela reforma política, para melhorar o meu partido. Porque, na verdade, você tem um controle apenas formal. A lei passa a ser uma baliza ética, mas está se mostrando insuficiente nas circunstâncias atuais.
Mas os partidos também recebem dinheiro fora do período eleitoral. O PT recebeu doações milionárias de empreiteiras em 2011 e 2013.
Sou contra isso. Tem de proibir também fora do período eleitoral. A mistura do financiamento empresarial com os partidos políticos é um elemento impulsionador da corrupção em todas as dimensões. Isso precisa acabar, antes que isso acabe com a democracia brasileira.