Por: ANDRÉ SINGER
Fonte: Folha de São Paulo, 24/8/13
Quando, em meio ao vendaval do câmbio, Guido Mantega revisou anteontem, mais uma vez para baixo, a previsão de aumento do PIB para 2013, reconheceu, ainda que implicitamente, que o resultado foi frustrante depois de um ano de concessões aos investidores. Embora o capital não faça manifestação de rua, existe uma espécie de greve de investimentos, apelidada de “desânimo”, a qual está longe de ser o menor dos problemas políticos de Dilma Rousseff.
O impasse vem desde meados de 2012. Naquela época, observou-se que, a despeito das opções tomadas no período anterior –redução da taxa de juros, pressão sobre os bancos privados para a diminuição do “spread”, alteração das regras da poupança e desvalorização do real–, a atividade continuava no marasmo.
O Executivo decidiu, então, complementar as medidas estruturais citadas com uma série de estímulos pontuais para diversos setores produtivos. O tiro saiu pela culatra. Por volta de dezembro, generalizou-se nos meios empresariais a impressão de que estava em curso uma perigosa escalada intervencionista do Estado, a qual tirava a necessária liberdade de o mercado alocar os recursos onde lhe parecesse mais vantajoso.
Tal conclusão acabou por se cristalizar quando a mandatária resolveu mexer no setor elétrico. O modo imperioso da presidente, que teve outra vez a audácia de cutucar interesses poderosos, funcionou como um toque de reunir.
Formou-se um amplo arco de frações empresariais em torno de teses caras ao setor financeiro, o qual, por razões óbvias, vinha há tempos apregoando a existência de uma escalada estatista.
Deve-se reconhecer que nem tudo é ideologia nessa percepção. De fato, sob o comando de Dilma, cresceu uma postura que tentava afiançar o controle estatal sobre instrumentos centrais da economia. Apenas é preciso acrescentar que o objetivo era ativar uma dinâmica reindustrializante, supostamente em convergência com parte significativa da burguesia.
Seja como for, o bloco reunificado foi se queixar a Lula, como se tornou costume à esquerda e à direita, obtendo uma espécie de recuo do desenvolvimentismo em quase todas as frentes no último semestre: aumento de juros, privatizações generalizadas na área de transportes, maiores taxas de retorno nas concessões, expansão das desonerações, suspensão das restrições ao capital especulativo e corte de dispêndio público.
Mesmo assim, nada se moveu. Precisará o governo cortar o gasto até o osso, avalizar leis que reduzam o custo da mão de obra e demitir o titular da Fazenda para conquistar os capitalistas? Estará disposto a ir tão longe?
O que querem os empresários?
Quando, em meio ao vendaval do câmbio, Guido Mantega revisou anteontem, mais uma vez para baixo, a previsão de aumento do PIB para 2013, reconheceu, ainda que implicitamente, que o resultado foi frustrante depois de um ano de concessões aos investidores. Embora o capital não faça manifestação de rua, existe uma espécie de greve de investimentos, apelidada de “desânimo”, a qual está longe de ser o menor dos problemas políticos de Dilma Rousseff.
O impasse vem desde meados de 2012. Naquela época, observou-se que, a despeito das opções tomadas no período anterior –redução da taxa de juros, pressão sobre os bancos privados para a diminuição do “spread”, alteração das regras da poupança e desvalorização do real–, a atividade continuava no marasmo.
O Executivo decidiu, então, complementar as medidas estruturais citadas com uma série de estímulos pontuais para diversos setores produtivos. O tiro saiu pela culatra. Por volta de dezembro, generalizou-se nos meios empresariais a impressão de que estava em curso uma perigosa escalada intervencionista do Estado, a qual tirava a necessária liberdade de o mercado alocar os recursos onde lhe parecesse mais vantajoso.
Tal conclusão acabou por se cristalizar quando a mandatária resolveu mexer no setor elétrico. O modo imperioso da presidente, que teve outra vez a audácia de cutucar interesses poderosos, funcionou como um toque de reunir.
Formou-se um amplo arco de frações empresariais em torno de teses caras ao setor financeiro, o qual, por razões óbvias, vinha há tempos apregoando a existência de uma escalada estatista.
Deve-se reconhecer que nem tudo é ideologia nessa percepção. De fato, sob o comando de Dilma, cresceu uma postura que tentava afiançar o controle estatal sobre instrumentos centrais da economia. Apenas é preciso acrescentar que o objetivo era ativar uma dinâmica reindustrializante, supostamente em convergência com parte significativa da burguesia.
Seja como for, o bloco reunificado foi se queixar a Lula, como se tornou costume à esquerda e à direita, obtendo uma espécie de recuo do desenvolvimentismo em quase todas as frentes no último semestre: aumento de juros, privatizações generalizadas na área de transportes, maiores taxas de retorno nas concessões, expansão das desonerações, suspensão das restrições ao capital especulativo e corte de dispêndio público.
Mesmo assim, nada se moveu. Precisará o governo cortar o gasto até o osso, avalizar leis que reduzam o custo da mão de obra e demitir o titular da Fazenda para conquistar os capitalistas? Estará disposto a ir tão longe?