Por: Pedro Amaral
Seria tolo considerar a grosseria reincidente, renitente, d’El Justicero no trato com seus pares do STF, a sua postura intragável de ‘vestal do prostíbulo’, como uma resposta contundente, em alguma medida eficaz (e, daí, politicamente interessante) a uma sociedade racista. Não vejo a grosseria como outra coisa que grosseria, mera. Da mesma forma, é um tanto grotesca a circunstância de um juiz (e juiz da mais alta Corte!) arrogar-se o papel de promotor, insinuando e até acusando colegas de agir como advogados do crime. E é deplorável alguém, graduado que seja, supor que a sua interpretação do Direito seja a única justa, decente, a única digna de existir.
Isso posto, não dá para não notar a coloração indisfarçavelmente racista da coluna de R. Noblat publicada hoje (19/8/2013) n’O Globo, toda ela um rodeio para dizer: “-Escuta, ô crioulo, é bom você tratar de se comportar, pois é sabido que você chegou aonde está por uma condescendência, mais que por mérito.” Recado da casa-grande ao egresso da senzala.
Lembrei-me, imediatamente, do bizarro panegírico escrito pelo imortal Carlos Castelo Branco, o Castelinho, para Raimundo Sousa Dantas, nosso primeiro embaixador negro. Não há como descrevê-lo, é preciso transcrever um trecho. Leiam os de estômago forte:
“No Palácio do Planalto, procedeu como devia: com esforço, dedicação, tato, procurando servir, defendendo quase selvagemente suas prerrogativas (…). Entendeu logo que sua escolha se prendia, em grande parte, à circunstância de ser negro. Comportando-se como um civilizado, um ocidental, a fisionomia enobrecida pela calva e os óculos, a presença física valorizada pela roupa de bom-gosto e limpa, Raimundo Sousa Dantas não vai cometer gafes em Acra. Quando muito, o que persiste nele de primitivo – os impulsos quase assassinos e um certo mas passageiro descontrole nas paixões – temperarão uma ou outra reação, dessas que reajustarão às raízes essa negra flor cartesiana.” (Senhor, outubro de 1961)
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