“Infelizmente, no Brasil de hoje, parte da oposição e da mídia conservadora assumiu de vez e irreversivelmente a feição de uma direita anacrônica, reacionária e profundamente intolerante. Cada vez mais, atrai o que há de pior na política nacional: fundamentalistas, membros da TFP e da Opus Dei e até mesmo, nos ataques de submundos da Internet, indivíduos que pertenceram à juventude nazista e aos órgãos de repressão da ditadura”.
Em pronunciamento no Senado Federal no último dia 12, o senador Lindbergh de Farias (PT/RJ) denuncia a pequena política da direita, tanto da direita partidária quanto da direita impressa, tentando desestabilizar, com o ódio, o governo de centro-esquerda iniciado por Lula e levado adiante por Dilma.
Senhor Presidente,
Senhoras Senadoras, Senhores Senadores,
Nós, que fazemos política, sabemos muito bem que essa é uma atividade que exige paixão, pois demanda grande sacrifício pessoal, comprometimento com causas e ideias, e dedicação àqueles que nos legaram o mandato.
É também uma atividade que desperta paixões, que provoca debates acalorados, às vezes bastante tensos, e que antepõe visões diferentes do País e do mundo.
Na realidade, não há atividade humana que prescinda das paixões e emoções. Como bem assinala o grande neurocientista Antonio Damásio, em seu livro “O Erro de Descartes”, o livre-arbítrio não pode prescindir da emoção, pois ela é “componente integral da maquinaria da razão”. Questionamos a validade intelectual das paixões porque, presos à dissociação entre razão e emoção, herdeira de Platão e Descartes, ainda tendemos a ver as paixões como uma manifestação inferior da atividade mental e não como parte orgânica do processo de interpretação do mundo, especialmente do mundo social em que vivemos e interagimos. As paixões são, assim, inevitáveis e bem-vindas.
Mas há paixões e paixões.
Como em qualquer atividade humana, os políticos podem ser movidos por diferentes paixões e sentimentos. Há os que são movidos pela esperança, pelo desejo sincero de mudar, para melhor, a vida das pessoas. Há os que são tocados pela solidariedade e pela incapacidade de aceitar passivamente o sofrimento do outro. Há ainda os que são movidos pela fé e aceitam a política como uma missão destinada a fazer o bem.
Esses são, em geral, bons políticos, independentemente da corrente ideológica à qual se filiem. Podem, é claro, errar, e frequentemente o fazem. Podem também fazer escolhas políticas equivocadas, em algum momento de sua trajetória. Mas normalmente preservam a sua capacidade de diálogo, a sua capacidade de representar interesses legítimos e articular distintas forças políticas. São, assim, políticos que contribuem para a democracia e suas instituições.
No entanto, há, por outro lado, políticos que às vezes são movidos por sentimentos menos nobres. Pode haver, por exemplo, aqueles que são movidos por interesses egoístas e personalistas. Ou aqueles que se dedicam à defesa de alguns privilégios, em detrimento da maioria da população. Apesar disso, não são políticos ou forças políticas que causem dano expressivo à democracia.
Há ainda, contudo, aquelas forças políticas ou políticos que podem ser movidos, algumas vezes, somente pelo ódio ou pelo ressentimento. Nesses casos, não se procura a construção de alguma política, equivocada ou não, a consecução de um objetivo, meritório ou não, mas apenas a destruição do outro, a eliminação das alternativas, a derrubada de um projeto, sem a preocupação de colocar algo viável em seu lugar. Nessas circunstâncias, ocorre a inevitável deterioração da democracia e de suas instituições, que pode resvalar, em casos extremos, para o golpismo. Em todos os casos, porém, gera-se um ambiente de intolerância antidemocrática.
Pois bem, Senhor Presidente,
Infelizmente, no Brasil de hoje, parte da oposição e da mídia conservadora assumiu de vez e irreversivelmente a feição de uma direita anacrônica, reacionária e profundamente intolerante. Cada vez mais, atrai o que há de pior na política nacional: fundamentalistas, membros da TFP e da Opus Dei e até mesmo, nos ataques de submundos da Internet, indivíduos que pertenceram à juventude nazista e aos órgãos de repressão da ditadura.
Criou-se, lamentavelmente, uma espécie de Tea Party tupiniquim, uma nova e raivosa UDN, que, sem o brilho retórico de Carlos Lacerda, julga ser sua missão destruir aqueles que vêm mudando a injusta ordem política e social do Brasil. São forças políticas obscurantistas que exalam o ressentimento de uma velha elite que vê alarmada a ascensão de novas forças sociais, que perdeu o poder e tenta reconquistá-lo a qualquer custo.
Essas forças, Senhor Presidente, são forças movidas somente pelo ódio. Não dialogam e não propõem realmente nada. Não têm ideias. Não têm projetos. Não pensam o futuro. Não contribuem para a democracia brasileira. Apenas olham com resentimento para o passado perdido e dedicam-se, com ardor fervoroso, a odiar aqueles que constroem, com êxito, uma nova nação, bem mais próspera, justa e soberana que a que eles legaram.
De fato, Senhor Presidente, basta uma passada de olhos por alguns grandes jornais, algumas revistas semanais, certos setores das redes sociais, para sentir o pulso errático e acelerado desse ódio visceral e virulento contra o PT e seu governo.
É um ódio denso, pesado, que relembra a raiva anticomunista da ditadura, o horror antidemocrático do macarthismo.
É um monstro político que parece sedento de sangue.
Mao Tse Tung costumava dizer que a política é a guerra sem derramamento de sangue e que a guerra é a política com derramamento de sangue. Pois bem, parece que essas forças estão envolvidas, não no exercício democrático de oposição, algo inteiramente legítimo, mas numa verdadeira guerra de extermínio contra o PT e seu projeto político. Uma guerra na qual vale tudo. Uma guerra na qual não há mais limites para o que se pode fazer ou inventar, com o intuito de agredir pessoas que participam do PT ou de seu projeto. Uma guerra na qual qualquer condenado, qualquer criminoso, pode almejar uma heroica redenção se dispuser a acusar políticos do PT.
E, nessa guerra de extermínio, o alvo preferencial, o alvo maior, é Lula, o grande ex-presidente do Brasil.
Lula representa tudo o que eles odeiam mais. Lula é aquela pobre criança do sertão nordestino que deveria ter morrido antes dos 5 anos, mas que sobreviveu. Lula é aquele miserável retirante nordestino que veio para São Paulo buscar, contra todas as probabilidades, emprego e melhores condições de vida, e conseguiu. Lula é aquele sindicalista que não deveria ter liderado a sua categoria e rompido com o peleguismo, mas liderou e rompeu. Lula é aquele político que não devia ter criado, em plena ditadura militar, um novo partido independente de esquerda, mas criou. Lula é aquele candidato que não devia ter chegado ao poder, mas chegou. Lula é aquele presidente que devia ter fracassado, mas teve êxito extraordinário.
Lula é o excluído que devia ter ficado em seu lugar, mas não ficou.
Lula é esse fantástico novo Brasil que ele ajudou tanto a construir. Lula não deveria existir, mas existe.
É uma nova realidade sem volta, contra a qual não há argumentos racionais. Apenas o ódio espesso dos ressentidos.
Porém, esse ódio contamina somente uma pequena minoria. Lula, ao contrário de outros governantes brasileiros, terminou 8 anos de governo com mais de 80% de aprovação. Uma façanha política extraordinária em qualquer democracia do mundo. É o cara, como disse Obama.
E tal aprovação avassaladora não aconteceu por acaso. Lula fez, de fato, o melhor governo da história recente do país, gostem ou não os ressentidos.
Com efeito, a grande ênfase do governo Lula no atendimento, de forma massiva, às populações de baixa renda retirou da pobreza cerca de 30% das famílias que viviam nesta condição. Com Lula, mais de 30 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema. O crescimento econômico acelerado daquele período gerou ao redor de 14,5 milhões de novos empregos com carteira de trabalho, mais que o dobro dos empregos formais gerados no período 1990-2002. E a massa salarial cresceu, em termos reais, 20,7%.
O Bolsa Família e os demais programas de transferência de renda criados ou fortalecidos por Lula protegem, hoje, quase 70 milhões de pessoas, mais de 13 da população. E as políticas sociais como um todo, que atualmente têm consistência e centralidade, transferiram para os mais pobres, para os nossos “lulas”, R$ 33 bilhões por ano, um salto extraordinário que contribuiu decididamente para a forte expansão do mercado interno de consumo de massa. Programas como o PROUNI, o REUNI, o Crédito Popular, o Minha Casa, Minha Vida, o Luz para Todos, e outros, distribuem oportunidades e realizam os sonhos daqueles que, antes, sequer tinham o direito de sonhar com uma vida melhor.
Contrariando nossa triste tradição histórica, tão cara aos cultuadores do ódio a Lula, dessa vez crescemos distribuindo renda e oportunidades.
Essa exitosa experiência brasileira na redução das desigualdades, comprovada por várias pesquisas, serve hoje de referência para as Nações Unidas na luta contra a pobreza extrema em outras partes do globo. Recentemente, o Boston Consulting Goup divulgou estudo, ignorado por nossa mídia conservadora, que comprova que o Brasil foi o país que apresentou a melhor qualidade de seu crescimento econômico recente. Sob a batuta de Lula e Dilma, o Brasil é o país mais eficiente do mundo na transformação de crescimento em bem-estar.
Com Lula, a Petrobrás, ícone da intervenção do Estado no domínio econômico e antes ameaçada de privatização, se firmou como uma das 5 maiores empresas no setor petrolífero em escala mundial e descobriu os maiores campos de petróleo da história do país na camada Pré-Sal, projetando o Brasil como potência petrolífera tardia e possibilitando a alavancagem de nosso desenvolvimento recente, com novos investimentos maciços em educação.
Na área ambiental, foram feitos avanços paradigmáticos. Na já famosa Conferência de Copenhague, em 2009, todos reconheceram o protagonismo do Brasil em assumir voluntariamente, sob a liderança de Lula, metas ambiciosas de redução das emissões de carbono, na busca de soluções para o grave problema do aquecimento global. Com efeito, o nosso país saiu de uma posição defensiva nesse tema e passou a colocar-se na vanguarda da luta ambiental entre os países emergentes. Para isto, contribuiu muito a redução drástica do desmatamento da Amazônia e a liderança internacional do país na geração de energia limpa, consolidada no governo Lula.
A nova política externa adotada por Lula contribuiu para aumentar nossa participação no comércio mundial e obter vultosos superávits comerciais, os quais foram fundamentais na superação da vulnerabilidade externa de nossa economia. O país evoluiu da posição de grande devedor para credor internacional, com um acúmulo de U$ 360 bilhões em reservas cambiais, que desempenharam e desempenham um papel decisivo na crise financeira internacional desencadeada em 2008. Antes, qualquer crise periférica nos levava de pires na mão ao FMI. Hoje, mesmo na pior crise mundial desde 1929, que já dura 5 anos, temos a confortável posição de credores do FMI e somos um país comparativamente pouco afetado.
Ademais, a nova política externa fortaleceu e ampliou o Mercosul, e lançou as bases da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), mudando o patamar da integração da América do Sul, articulou os interesses dos países em desenvolvimento nos foros internacionais e aumentou extraordinariamente nosso protagonismo internacional. Por isso, Lula é um grande líder mundial, respeitado em todos os países, algo que as lideranças cultuadas pelos que odeiam o PT jamais conseguiram ser. E jamais serão.
Observe-se que todas essas realizações foram obtidas num quadro de redução da relação dívida pública/ PIB e inflação sob rigoroso controle. Até nisso Lula foi mais eficiente que seu antecessor.
Além disso, e esse um ponto de extremo relevo, a emergência das novas políticas deu-se, sob o comando de Lula, no contexto do fortalecimento da democracia brasileira. Com efeito, a transparência administrativa e a independência dos poderes foram fortalecidas. Não houve fragilização do Legislativo e do Judiciário e as instituições de controle, como a Polícia Federal, a CGU, o TCU, etc. foram significativamente robustecidas. Não ocorreu, da mesma forma, a busca de um terceiro mandato, apesar da popularidade do presidente Lula ter superado, já ao final do governo, espantosos 80%.
Em síntese, sob a gestão de Lula o Brasil aumentou sua importância econômica e política num cenário de crise, ao contrário do que aconteceu com as nações mais desenvolvidas. Assumiu a liderança internacional em energia limpa e na exploração da biodiversidade, em um momento em que o desafio de construir uma economia verde, com baixo índice de carbono, mobiliza todo o planeta. Avançou em seu papel destacado na produção de alimentos, em uma conjuntura internacional que projeta déficit crescente entre oferta e demanda de produtos agrícolas. Revelou seu imenso potencial de exportador de petróleo e derivados, após a descoberta dos grandes campos petrolíferos do Pré-Sal. Aumentou seu protagonismo internacional, graças a uma política externa ousada e criativa. Construiu um importante mercado interno de consumo de massa, com a inclusão social de dezenas de milhões de famílias, e consolidou suas instituições republicanas e o Estado Democrático de Direito.
Senhor Presidente,
Senhoras Senadoras, Senhores Senadoras
Lula mudou o Brasil. E não se trata de uma mudança abstrata e retórica. Foi uma mudança concreta, profunda. Ele mudou, para melhor, a vida de dezenas de milhões de brasileiros. Gente como ele, que não tinha nada ou muito pouco, e que agora come, mora, se educa e sonha. Brasileiros que se tornaram, enfim, cidadãos do Brasil.
Trata-se, assim, de uma façanha extraordinária, histórica. Uma façanha que se torna ainda mais admirável quando levamos em consideração que, ao contrário de seu antecessor, Lula teve de enfrentar, de forma praticamente cotidiana, as pesadíssimas críticas e acusações, muitas vezes inverídicas e levianas, de uma mídia conservadora que se autodefiniu, com muita propriedade, como um partido de oposição.
Nada disso interessa, no entanto, aos cultivadores do ódio. Com efeito, o ódio a Lula prescinde de argumentos. Não necessita de racionalidade. Pior: prescinde de propostas alternativas. Prescinde, sobretudo, do debate democrático, franco e aberto.
Para eles, basta o insulto, a crítica baixa e de caráter pessoal. Bastam as calúnias, frequentemente assentadas em suspeitíssimos depoimentos de acusados e condenados. Isso basta. Do resto se encarrega o poderoso partido de oposição incrustado na mídia conservadora e até mesmo a teoria do domínio do fato que, nessas paragens tropicais, se converteu na tirania da hipótese pré-estabelecida.
Porém, Lula, ao contrário da horda dos ressentidos, não cultiva ódios.
Teria até todos os motivos para fazê-lo. Ao contrário de muitos de seus detratores, Lula foi submetido, desde que nasceu, àquilo que Gandhi denominava de “a pior forma de violência”, a pobreza. Não a pobreza digna de quem tem pouco, mas o suficiente. Não. A pobreza de Lula foi a da miséria asfixiante, que nega comida, teto, educação, saúde e sonhos. Que nega a cidadania. Que nega direitos. Que nega, frequentemente, a vida.
E, ao longo de sua vida, mesmo depois de superada a pobreza, Lula continuou a ser golpeado. Foi golpeado pela tragédia pessoal, quando perdeu mulher e filho. Foi golpeado pela ditadura, que o prendeu e calou. Foi golpeado por adversários políticos em campanhas eleitorais baixas. Foi golpeado pelo câncer, e, ao contrário do que se poderia esperar, não recebeu, da horda dos ressentidos, nenhuma manifestação de solidariedade. Recebeu, isso sim, insultos, o mórbido contentamento de alguns “formadores de opinião” e uma grosseira campanha para se tratar do câncer em hospital público.
Mas, ao contrário dos que amam odiá-lo, Lula não foi tomado pelo câncer da mesquinhez. Lula é um político e uma pessoa guiada pela esperança, pela vontade de superação, que, no seu caso, se confunde com a superação coletiva da legião de deserdados que ajudou a resgatar para cidadania.
A grande força de Lula vem exatamente disso. Dessa imensa capacidade de transformar sofrimento, obstáculos, preconceitos e ódios em superação, em esperança, em realizações. A força de Lula é justamente a grande força da população do Brasil, um povo lindo, magnânimo, solidário, muito diferente dessa elite arcaica que o odeia e despreza. Um povo que se supera a cada dia com o projeto político conduzido por Lula e Dilma.
Por isso, Lula está muito acima do ódio, dos preconceitos, das perseguições mesquinhas. Essa campanha de ódio não o atingiu e não o atingirá.
Atingida por essa campanha é somente a democracia, que se empobrece com a falta de diálogo, com a falta de ideias, com a falta de propostas alternativas. E, quando não há propostas e ideias, restam apenas as acusações vazias, a patética agenda de delegacia de polícia, e o ódio sem causa, inútil, vazio, que depõe contra os que odeiam.
Lula, mesmo quando perdia, sempre foi vitorioso, porque lutava por seu povo, porque lutava por dias melhores, porque lutava pela vida.
E quem luta pela vida, com esperança e solidariedade, nunca será derrotado. Nunca será destruído. Quem luta pela vida do outro tem um lugar reservado no coração do Brasil.
Para destruírem Lula terão, então, de destruir o coração do Brasil. E esse, meus caros, é eterno.
Viva Lula!